Um amor sem palavras

O cinema, há décadas, tem produzido filmes sobre a relaçao entre seres humanos e animais. Histórias cujo tema é a amizade entre uma pessoa e um animal divertem e comovem, provando que os espectadores apreciam assistir a filmes onde se desenvolve uma amizade sincera, que dispensa palavras, expressando-se através de gestos de solidariedade e afeto genuíno.

Sobrevivendo com lobos, dirigido por Vera Belmont, conta a emocionante história real da menina judia Misha que, no ano de 1942, com apenas 7 anos, viu-se obrigada a enfrentar os horrores da perseguição ao seu povo e as consequências de uma guerra insana, cujos motivos sua mente infantil não compreende totalmente.

Misha quer brincar, levar uma vida como a das outras crianças, ser livre, mas precisa se deslocar e se esconder com seus pais, não entendendo por que ser judia é uma sentença de morte. Vendo-se subitamente separada deles, correndo o risco de ser descoberta e capturada, empreende uma jornada solitária em busca dos pais, sofrendo fome, frio e solidão.

Tendo que lutar pela sobrevivência, assistindo às tragédias produzidas pela guerra, acaba conhecendo uma família de lobos, tornando-se um membro dela. São belíssimas as cenas em que vemos a loba, a matriarca, levando uma lebre à menina, os lobinhos e ela brincando, Misha salvando um filhote de uma armadilha e ajudando um dos lobos a caçar um carneiro.

Desenvolve-se entre a menina e sua "família" um amor profundo, sem palavras, onde ambas as partes se ajudam mutuamente. O amor que nasce dessa relação inusitada nos leva a pensar que não basta dizer "eu te amo". Também se demonstra o amor por atitudes, para que o outro veja que nos importamos realmente com ele.

Vivendo entre os lobos, Misha encontra neles conforto, amizade e solidariedade, o que a ajuda a se encorajar na sua luta para se manter viva.

Enquanto assistimos ao filme, literalmente mergulhamos nele, arrebatados pelas imagens de Misha na floresta, pela sua perplexidade ao deparar com a crueldade que os seres humanos são capazes para com seus semelhantes, sua obstinação em achar os pais e incrível tenacidade em percorrer longas distâncias.

Além de ser um filme sobre como a guerra devasta a vida das pessoas, esforço em sobreviver, amizade com animais, é uma história de amor. O que move Misha, além da vontade de viver, é o amor aos pais, que a leva a viajar andando da Bélgica à Rússia, deparando-se com todos os perigos possíveis.

Perguntamo-nos como uma criança, numa idade tão vulnerável, consegue encontrar forças, marchar sempre adiante, tendo sua sensibilidade e inocência diariamente violentadas pela guerra absurda que ceifa e mutila corpos e espíritos.

Muito pode se falar deste belo filme, mas o melhor é assisti-lo, contemplar a dolorosa jornada de Misha rumo ao amadurecimento, enquanto a vemos encontrar entre os lobos o carinho tão necessário,dado sem reservas. Um carinho dado apenas por amor. Amor que não espera nada em troca.