Cristiane Costa
crisacosta@hotmail.com

 
LITERATURA
Iniciou no sábado 12/06/2010 o projeto "Crônicas e Poesias com Rubens da Cunha - Usbe 10 anos", que prevê oficina para 25 alunos vinculados à União São-Bentense de Escritores. O produto resultante da oficina será um livro de 152 páginas que compilará os textos produzidos sob a coordenação do instrutor Rubens da Cunha, que na aplicação de um prévio exercício sugere reflexão sobre os motivos que nos levam a escrever.
Por que escrevo? (Rubens da Cunha)
Inspirado em "Por que Você Faz Cinema?", de Joaquim Pedro de Andrade

Escrevo por prazer: meu e das letras deleitosas. E porque não restou mais nada, pois o cineasta que eu seria foi impedido pela geografia e o músico foi impedido pela falta de coordenação motora.
Escrevo para que o sangue corra seus abismos como se fosse águia e pela águia, pois ela faz poemas melhores que os meus quando voa. E pelo desejo de dizer-redizer- desdizer. Para rezar os verões que tanto gosto. Entender o tempo incógnito que permanece em mim, me envelhecendo. Escrevo para que a alma retorne ao corpo. A dor também é motivo. É preciso confessar. Psicólogos cobram caro. Padres cobram caro. O papel me dá seus ouvidos e demais buracos gratuitamente. O papel é uma prostituta apaixonada. Escrevo para gozar e porque tenho bom vocabulário. E pelo poder de ser escritor. Apesar de fajuto, é um poder. É bom ver nos olhos dos alheios uma admiração embasada nas velhas certezas que quase todos têm, quando o assunto é esta raça que escreve: somos românticos, sofremos, sabemos rimar, somos chiques e inteligentes e sensíveis. Donos da verdade também somos. Escrevo por estas máscaras que nos colocam. Escrevo porque mesmo sabendo que viveria sem escrever, agrada-me desobedecer o famoso conselho de Rilke e para ser algo que não é reconhecido profissionalmente nesta País de baixo trópico. É minha pequena revolta. Meu pequeno embargo à Pátria.
Escrevo para que o caçador em mim tenha mais cabeças de rinocerontes pregadas na parede. Por maldade. Por instinto. Por aquilo que não explico quando olham para meu texto e dizem que eu escrevo difícil. Escrevo porque é fácil ser difícil. A simplicidade é para os gênios. Eu não sou gênio. Sou mais um cego teimoso.
Escrevo para que outros poetas possam me ler. Aprendi alguns sonhos com Fernando Karl. Apreendi algumas métricas com Bilac. Escrevo porque li em voz alta a "Invenção de Orfeu" para uma amiga. Foram noites álmicas aquelas. É preciso gastar as memórias, lapidar a imaginação. É necessário inventar a vida. Por isso escrevo: eis meu lance de dados.


Escrevo porque ainda não pediram para eu parar. E é a melhor forma que eu conheço de mandar mensagens subliminares. Por covardia. Por alegria. Porque não me chamo Raimundo nem José. A vida segue e minha alma Quixote escondeu-se nas mãos. Posso ser surrealista, barroco, parnasiano, pós-moderno, simbolista. Estou num tempo em que tudo posso. Escrevo por estar preso neste cárcere e porque aprendi a mentir desde cedo.


Por que escrevo?

(Maurélio Machado)

Escritor associado à Usbe

Nem sei como tudo começou. Acho que aconteceu na adolescência.
Muitas coisas ocorreram pela vez primeira: largar as calças curtas e vestir um blue jeans, a preocupação com a aparência, o primeiro barbear, o porre num lugar inusitado, a tímida declaração de amor, o abraço, o beijo, o encantamento com os verdes anos, do pop e do rock, hippies, Bob Dylan, Woodstock, Beatles?
Creio, sim, que foi na época, quando elaborei as primeiras poesias, prosas, crônicas e nem sabia, como até hoje não sei, explorar a beleza através das palavras.
Escrevo por prazer ou terapia, não sei bem, talvez para falar de minhas alegrias e tristezas.
Voejar pelos infinitos azuis, tentar chegar aos céus e visualizar o paraíso, com seus anjos e deuses em eterna harmonia.
Quiçá por teimosia desafiando censuras impostas pelos pais, professores "religiosos" e a maldita ditadura militar de 64.
Não sei bem as razões por que escrevo.
Num tom irônico de Kafka ou polêmico de Nelson Rodrigues?
Influência dos grandes mestres? Mário Quintana, Eça de Queiróz, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Gonçalves Dias e tantos outros?
Escrevo talvez porque minh'alma irrequieta exige que eu me livre dos grilhões da ignorância e do excessivo apego à matéria.
Escrevo, pois, para expressar meus sentimentos, desejos, registrar meu grito de liberdade aos ouvidos moucos... extravasar !
Porque utópicas palavras podem mudar o destino do Universo e deste grão de areia que sou.
Para livrar-me da senzala sombria, um antídoto aos anticristos: escrever.
Sentimental, patético, complexo, galhofeiro, esteta, uma Babel em convulsão, nau sem rumo, objetivo incerto.
Ante a catarse do divã frio da psicóloga, enveredei pelo suave e encantado caminho das letras.
Creio que a Arca de Noé II, aportará no Paraíso, um mundo mágico de poesia e paz, onde todas as quimeras tornar-se-ão realidade.
Além do mais, escrevo porque gosto!