As necessidades desnecessárias

Uma grande razão para o homem ter dificuldades homéricas no enfrentamento das “intempéries” que o viver nos impõe, que nos acompanham como sendo desafios e caminhos a serem desbravados no dia a dia, está na falta de sabedoria, pela consequência da ausência de conhecimentos pertinentes ao desenvolvimento espiritual humano, pois, quanto à expansão fantástica da ciência puramente materialista e tecnológica, nada fica a desejar, porque o cumprimento do seu papel atinge livremente e “satisfatoriamente” os anseios da humanidade contemporânea. Pelo fato do homem pensar que tudo pode ser resolvido por intermédio da ciência, até daquela que “cuida” da própria vida e da saúde, as dificuldades vão se avolumando, se recriando, se multiplicando, mesmo porque essa megalomania tecnológica está servindo, escancaradamente, a interesses de fundo econômico e político, pela criação de necessidades cada vez maiores, cuja utilidade para a facilitação do desenvolvimento global pode ser contestada em diversos aspectos, proveniente do consequente desequilíbrio custo/benefício. Diga-se de passagem, que aqui fazemos referência ao custo não só monetário, mas também social, cultural, evolutivo, ambiental e profissional, porque o exagero na criação de necessidades desnecessárias complica o andamento da livre fluência natural dos acontecimentos e da evolução espiritual.

A objetividade, no que concerne ao fomento dos caminhos auxiliares para o crescimento da civilização, tem de primar pela simplicidade e pela consistência inteligente e útil, evitando-se assim o desperdício ocasionado por sofisticações pseudoconfortáveis, com o objetivo de forçar o interesse cada vez maior ao consumo de inutilidades ou de novidades inócuas, por força de obsolescências criadas de forma artificial. Um exemplo típico dessa prática perniciosa vamos encontrar nos programas operacionais dos computadores, que, além de serem muito dispendiosos, estão em constantes mudanças, que obrigam os usuários a se preocuparem, em todo momento, com o incremento do poderio das máquinas, se não quiserem perder o contato com a “evolução tecnológica” compulsória, já que são modificações que, em muitos casos, incompatibiliza softwares entre si e estes com hardwares, o que acaba por caracterizar sucateamentos criados, com fins escusos.

Por outro lado, temos também o reverso da medalha, perpetuando-se ao infinito uma necessidade já obsoleta, dispendiosa e prejudicial, como é o caso da manutenção em veículos dos centenários motores a explosão, movidos por combustíveis poluentes, sob o manto do monopólio do petróleo, com a intenção de perpetuar o uso desse produto, garantindo-se assim o enriquecimento infindável dos “donos” do ouro negro. Creio ser desnecessário mostrar o quanto essas práticas provocam atraso no desenvolvimento da civilização, no crescimento sustentável da tecnologia e na evolução espiritual dos povos, além de afastar cada vez mais o ser humano da preocupação em preservar o meio-ambiente.

Temos, assim, a caracterização de que está havendo uma demonstração explícita do quanto o homem está longe da cultura do “SU” (palavra japonesa), que representa a pura consistência de qualquer evento, ou seja, o ponto focal que movimenta e dá vida a grandes conjuntos de situações que, por si sós, não conseguem auferir resultados práticos. Se tivermos todos os tipos de condições materiais para darmos andamento a um determinado trabalho, ele somente poderá alcançar objetivos úteis à coletividade, com consequente retorno compensatório e justo ao nosso esforço despendido, no momento em que nos dispusermos a dar “vida” ao empreendimento, colocando apenas um ponto no meio do bolo, assim determinando o deslocamento de tudo o mais, de forma dinâmica; isto chama-se “colocar espírito” no evento, influenciando com consistência a verdadeira utilidade do arrojo empreendedor, extrapolando reais benefícios aos clientes usuários.

Somente o objetivo de atendermos às necessidades prementes da coletividade, servindo para o fomento da felicidade do próximo, é que nos propiciará a realização do crescimento espiritual.

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 24/07/2010
Reeditado em 02/09/2011
Código do texto: T2397078