ÁLBUM - Entendendo as palavras

Como já disse em outro texto, grande parte das palavras da língua portuguesa não só derivaram do latim, sua língua de origem, como nem mesmo sofreram alteração e sequer seu sentido mudou. Entretanto, embora usemos muitas delas de forma comum como sendo perfeitamente naturais ao nosso entendimento, nem mesmo damos atenção ao seu significado. Entre elas está ovo (considerado a maior célula que existe), por exemplo, que significa origem. E, confirmando isto, sabemos que as células dão origem aos tecidos, que dão origem aos órgãos, que compõem os seres vivos. E provavelmente da palavra ovo vem o adjetivo novo, ou “no ovo”, significando “na origem”, “próximo à origem” ou “recém saído da origem”.

Outro caso é a palavra álbum, que usamos comumente, em geral entendendo como coleção, mas uma coleção não é um álbum, pois a palavra álbum derivada do latim significando livro branco ou livro em branco. Sendo assim, somente utilizamos a palavra álbum corretamente no sentido literal quando nos referimos ao livro em branco que compramos para guardar nossas coleções de fotos ou de selos ou seja quais objetos queiramos e se possa guardar em um livro. Em outros casos, como álbuns fonográficos (os discos, k7, CD, etc.), utilizamos a palavra álbum no sentido figurado comparativo, mas só é concebível se simplesmente significar coleção e não livro de guardados, pois quando adquirimos esse tipo de coleção ela já não está em branco e álbum é a coleção que fazemos em um livro em branco que vai sendo completado gradativamente por nós mesmos.

Com a tendência de norte-americanizar a linguagem (apesar de que a língua inglesa é bastante latinizada), na linguagem fetichista do mundo da moda começou-se a chamar álbum de boock, querendo atribuindo glamour a coleção de fotos das jovens. Entretanto, chamando o álbum de boock, não melhora-se em nada o significado da palavra, sendo que continua-se dizendo livro. Ao contrário, retira-se uma de suas virtudes, a que faz o livro genuinamente nosso, pois em vez de chamá-lo de livro em branco, aquele que se compõe com as próprias fotos e de acordo com a vontade pessoal, passa-se a chamá-lo simplesmente de livro, aquele que já vem composto conforme a vontade alheia. Assim, pessoas que pretendem ter e mostrar que têm uma personalidade marcante, mostram que na verdade têm uma personalidade marcada conforme os padrões e interesses alheios.

Wilson do Amaral