"ESBOÇO PARA UMA CRÍTICA À POLÍTICA CULTURAL DO GRANDE ABC"

"...É o povo na arte, é a arte no povo,

e não o povo na arte,

de quem faz arte com o povo..." (1)

Um espectro ronda o mundo das Artes Plásticas no Grande ABC - o espectro do fisiologismo.(2)

Todo o metiê burocrático une-se numa tácita aliança para petrificar esse status quo: o Papa e os Clérigos Batateiros (3), o Cowboy venerador de totem com T maiúsculo as Marchands das "Torres de Cristal" (4) do Grande ABC e seus Pupilos Apaniguados, Radicais Pseudo-Artistas e Produtores Culturais (5), os Copistas e sua Arte Decorativa e o Coro dos Diletantes Frustados.

Duas conclusões decorrem deste fato:

1 - O fisiologismo já é reconhecido enquanto plataforma, para galgar espaços e currículos no meio artístico.

2 - Já é tempo dos artistas plásticos que estão excluídos pelo fisiologismo exporem abertamente, para o Grande ABC, o seu descontentamento com tais práticas, que impedem que a arte tenha sua livre apresentação e fruição.

Com este fim, artistas da região, ocupam a Praça Santa Filomena, em São Bernardo do Campo, para esboçar idéias e promover esta exposição-protesto.

"PRELEÇÕES SOBRE AS 16 TESES DE AGOSTO"

500 anos???? São outros Quinhentos, cara pálida! (6)

A que se deve o protesto de Vado do Cachimbo no 4º Salão de Arte Contemporânea de São Bernardo do Campo?

De onde saiu inspiração - da obra plástica "Os Batateiros" - de Pierino Massenzi?

O que inquieta estes artistas?

Será que eles estão imbuidos da palavra de ordem de Walter Benjamin(7), que para combater a estetização da política, é necessária a politização da arte? Ou será que no seu afã, eles inverteram esta proposta e a formularam da seguinte maneira:

Contra o fisiologismo artístico, a politização do artista!

Dentro do que está dado, a segunda opção é o que nos levou a inspiração para este protesto. Portanto, nossos pincéis estão apontados para as "Torres de Cristal" do Grande ABC, para crítica e denúncia.

No decorrer de nossas sendas, um certo "Batateiro" nos proferiu a seguinte heresia: "que todo artista plástico é um cidadão individualista e voltado para o seu próprio umbigo". Gostaríamos de lhe dizer que a prática desenvolvida nestes espaços fisiológicos, juntamente com a proteção da mídia, da "high-society" e os artistas que visam o comércio de suas obras, desconsiderando a arte, faz com que a competitividade e a rivalidade entre os artistas seja o prato do dia, tornando aqueles que se alimentam deste prato, arrivistas, tecendo loas e odes ao individualismo vazio, sendo este "Batateiro" criador e criatura dessa putaria.

Portanto, entendemos que, o poder e o erário público, têm de servir à coletividade e não ser desperdiçado em atividades vazias para promover apaniguados do fisiologismo.

São Bernardo do Campo, 27 de Agosto de 1999.

(1) Science, Chico e Maia, Lucio. "Etnia". do álbum @frociberdelia - Chico Science & Nação Zumbi. Ed. Sony Music - Chaos - 1996.

(2) Nesta abertura, nos inspiramos e tomamos como licença poética à apresentação do "Manifesto Comunista" de Karl Marx & Friedrich Engels - 1848.

(3) Massenzi, Pierino. Obra plástica, "Os Batateiros".

(4) Por "Torres de Cristal" entendemos todos os orgãos responsáveis pela política cultural no Grande ABC.

(5) Produtores Culturais: para a aprovação de obras monumentais, é necessário haver concorrência pública, aberta a todos os artistas capacitados.

(6) Esta frase, tem como objetivo alertar contra o projeto pseudo - pedagógico - ufanista de deseducação fomentado pela burguesia proprietária da mídia e capitaneado pelo establishment político, tendo como arautos os artistas acéfalos cooptados pelo "vil metal".

(7) Benjamin, Walter. "A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução" in "Os Pensadores" vol. XLVIII Editora Abril Cultural, SP, 1975.

Este texto foi publicado na íntegra no JORNAL DE S.BERNARDO, ano XVI, nº 386, São Bernardo do Campo, 27 de Agosto a 02 de Setembro de 1.999, Cultura, página 6.

Manoel Hélio
Enviado por Manoel Hélio em 13/08/2010
Reeditado em 06/05/2013
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