O SHOW DE IVETE SANGALO E A NOSSA IDENTIDADE CULTURAL

OPINIÃO

Axé Brasil!

Quem de nós, brasileiros, já não ouviu, vez ou outra, a expressão pouco feliz de que "brasileiro não tem identidade cultural"?

Pois bem, pego e peço licença na carona do show da Ivete Sangalo, ocorrido em Nova York, que pelo que li na mídia levantou opiniões, digamos, até meio maldosas a respeito da glória de Ivete junto ao gosto norte-americano.

Há quem diz que a artista lotou o Madison Square Garden apenas com brasileiros. Se realmente for verídico eu pergunto: E daí?

Bem, primeiramente, ninguém pode negar que por aqui há um fenômeno sócio-cultural um tanto irritante e curioso, o de que para termos nosso talento reconhecido aqui dentro, primeiramente há que se ter o aval da turma lá de cima, ou seja lá de qual país for, desde que não sejamos nós mesmos.

Lamentável esse pensamento de falta total de auto- estima cultural.

Embora seja eu uma aficionada por música, confesso que, ainda que me considere alguém de gosto bem eclético, não me agrada muito o genero da Ivete, o tal do Axé, mas muito longe de se confundir genero musical com valor artístico.

Ainda outro dia me encantei com Cláudia Leite cantando canções do rei Roberto, aonde pude observar algo que não havia percebido no seu Axé: Claúdia tem uma voz espetacular.

Daniella Mercury é outra baiana que faz sucesso no mundo, no mesmo genero musical.

Ivete Sangalo já provou seu talento e sua capacidade em "terras brasilis".

Não precisaria em hipótese alguma do aval Norte- Americano ou de quem quer que seja, repito, para que seu talento seja reconhecido.

Lotou o Madison Square Garden seja lá com quem foi e se sedimentou como artista, como muitos outros artistas internacionais o fizeram dentro das diversas propostas de se fazer música.

Vale dizer que sua alegria, seu gingado, sua bossa, seu ritmo, sua voz, seu carisma, sua beleza, todos juntos difundem muito bem o sincretismo cultural da nossa música e a tão bela miscigenação de raça do nosso povo, e o axé é exemplo irrefutável do sucesso desse amálgama, aqui e em qualquer lugar do mundo!

Axé é alegria, não há quem não se contagie perto dele.

Porém um fato é certo: com todo respeito, aonde a REDE GLOBO DE TELEVISÃO bota a mão para fazer propaganda, sempre percebo um certo marketing exagerado e direcionado. Quando a rede globo brilha... de fato nem tudo é ouro.

Já vi a tal rede televisiva divulgar "arte" de valor muito duvidoso, há que se ficar bem atento, portanto.

É também muito claro que a nossa musa do axé conta com a mídia global para se projetar, e isso não é de hoje, e temos que concordar que para se promover com a telinha não é necessário talento algum.

Temos no vídeo inúmeros exemplos do que escrevo, basta apenas que sejamos mais exigentes...em arte.

MAs longe de ser o caso de Ivete Sangalo.

Eu também gostaria de lembrar que a música popular brasileira é extremamente aplaudida em qualquer chão do mundo.

Talvez o pioneirismo histórico de levá-la aos palcos da América tenha sido da nossa ilustre Carmem Miranda, que lá acabou por ficar depois que ganhou fama e reconhecimento artístico.

É é assim com a turma da bossa nova, e com a do tropicalismo.

Roberto Carlos, Tom Jobim, Maria Betânia e Djavan são fenômenos perenes na América e na Europa.

Brasileiros quando estão por ali vez ou outra se identificam entre tantos estrangeiros, quando a MPB soa em algum lugar.

Portanto temos identidade sim, é indiscutível. E das boas!

É lamentável que se tente desqualificar o show da Ivete pela nacionalidade de sua plateia, num processo total de auto desvalorização cultural.

Talvez tal fato nos exemplifique o quanto estamos em baixa com o nosso nacionalismo. Quantos brasileiros de real valor temos perdido em todos os campos das artes, das ciências e dos esportes em nome desse horroroso "auto-preconceito".

Quantos de nós gostariamos de estar lá no Madison Square Garden batendo palmas à nossa arte, ou quantos dos artistas consagrados daqui, com ou sem rede globo nos seus bastidores, tudo dariam por alguns minutos de estrelato, dentro dessa nossa cultura muitas vezes detonada pelo seu próprio "complexo de inferioridade" que se auto perpetua, cujas raízes são tão complexas...

Sentimentos para um bom terapeuta "político" resolver.

Na qualidade de brasileira deixo meus parabéns à Ivete e ao seu brilhantismo. Não é só de política que sobrevivemos no exterior...ainda bem!

O resto...só pode ser inveja das boas, que terapeuta algum daria jeito.

Defeito de alma...