IDENTIDADE DO HOMEM QUE VIVE O SÉCULO 21

“A história só fornece orientação, e todo aquele que encarar o futuro sem ela não só é cego ,mas perigoso, principalmente na era da alta tecnologia”. Eric Hobsbawn

Desde os primórdios da civilização os momentos que marcaram a humanidade foram, sem dúvida, os Classicismos (Greco-romano), o Medievalismo, o Renascimento, o Iluminismo e Modernismo.

Se os dois primeiros movimentos estão distantes da contemporaneidade (se bem que podemos sentir os seus efeitos quer como base da ocidentalidade, quer como a religiosidade – o Direito, as Línguas e Cultura e o Cristianismo aí estão como prova) os demais estão mais próximos influenciando as Ciências, a Política, as Artes.

Destes últimos – Renascimento, Iluminismo e Modernidade – temos as Formas e Sistemas de Governo, o Capitalismo e a Filosofia.

Suas vertentes que mais marcaram o imaginário coletivo ocidental são o Romantismo, o Realismo e no século 21 o Pós-Modernismo.

Como estas correntes estéticas influenciaram o comportamento, construíram os arquétipos e fizeram os estereótipos do Homem de hoje?

Vejamos suas definições e características para entendermos as pessoas que somos.

O Romantismo foi um movimento que surge em decorrência de dois processos históricos que consolidaram o capitalismo e a sociedade contemporânea, que são a Industrialização e as Revoluções Burguesas do século 18.

O Romantismo enquanto estética abandonou os modelos clássicos e acentua o individualismo. Dele resultam as identidades nacionalistas.

O modelo romântico se guia na sensibilidade por conteúdo, “o vital que traz em si, junto com a possibilidade da culpa e da degeneração, a possibilidade da redenção e do renascimento... a atitude polêmica em face do racionalismo que, com suas convenções e leis, pôs ordem nos fenômenos do mundo, mas, ao mesmo tempo, não soube descobrir um significado que transcendesse a descrição superficial do fenômeno: daí a redução das relações inter-humanas, as leis mecânicas, como as do mundo físico; daí a impossibilidade de explicar a vida que vibra até no inorgânico e que dele se lança a formar o organismo, tanto natural como social”. (BOBBIO).

Ao Romantismo segue o Realismo, quando o valor estético era o fato de se reproduzir puramente a realidade, nua e crua. Sobre esta realidade dava-se um juízo de valor, não sendo o Homem um mero espectador. Refletia-se sobre as preocupações sociais.

“A natureza passou a ser vista como a influência regeneradora e corretiva, o que nunca mais deixou de ser, para nós, desde então. Pela primeira vez, o homem sentiu o estimulante drama oferecido pelas grandes montanhas e as sugestões de imensidade cósmica e de intemporalidade dos desertos e oceanos vazios.

Os escritores do final do século XVIII e os pintores do século XIX educaram o mundo ocidental de modo a que fosse sensível às aparências e processos da natureza. E este último aspecto é, talvez, o de maior importância: era não só a aparência da natureza que atraía agora o homem, mas este passou também a encarar a natureza selvagem como exemplo de vida, de morte e de criatividade. Ao mesmo tempo, a ciência desenvolvia espetacularmente sua capacidade de explicar esses processos na natureza e no próprio homem.

Os progressos desse gênero, acompanhando a demolição das antigas estruturas sociais, o ataque da revolução industrial às antigas formas de viver e a diminuição da fé religiosa no espírito de muitos incutiram-nos uma sensação de vulnerabilidade e de isolamento individual, assim como uma nova necessidade de confiarmos em nós próprios. Espera-se que o homem moderno aprenda não tanto as leis da religião e da sociedade, conformando-se com elas, mas a encontrar-se e a ser fiel a si próprio”. (PIQUÉ).

O realismo verte, no século 20, no Existencialismo. “Caráter das doutrinas para as quais o objeto próprio da reflexão é o Homem na sua existência concreta”. (FERREIRA, A.B. de Holanda). Seu teorizante foi Sartre, que desenvolveu suas teses em ‘A Náusea’, ‘Os Caminhos da Liberdade’, ‘Porta Fechada’ e ‘As Mãos Sujas’.

E neste século o valor estético que marca é o Modernismo de diversas tendências.

Mundo onde na sociedade acentuam-se as diferenças entre burguesia e proletariado. O capitalismo se organiza e os sindicatos se firmam passando interferir nas sociedades industrializadas. O contexto complexo, rico em contradições e muitas vezes angustiante gera a diversidade refletida no Expressionismo, Fauvismo, Cubismo, Futurismo, Abstracionismo, Dadaísmo, Surrealismo, Metafisismo, Op-art e Pop-art. São os reflexos dos processos históricos das Guerras Mundiais, Grande Depressão e Guerra Fria.

Com o fim da Guerra Fria, Desmembramento da União Soviética e a Informatização o Mundo mergulha no Pós-Moderno.

Sobre este momento David Harvey nos diz analogamente às personagens de McHale relacionando-os ao Homem pós-moderno:

“As personagens pós-modernas com freqüência parecem confusas acerca do mundo em que estão e de como deveriam agir em relação a ele”. É como “entrar no labirinto: Quem era eu? O eu de hoje estupefato; o de ontem, esquecido; o de amanhã, imprevisível?”. ( p.46 ).

“... Como as filosofias do século 20 perderam seu atrativo, o seu tempo já passou. A crise moral do nosso tempo é uma crise do pensamento iluminista. Porque, embora esse possa de fato ter permitido que o homem se emancipasse da comunidade e da tradição da Idade Média em sua liberdade individual e submersa, sua afirmação do ‘eu sem Deus’ no final negou a si mesmo, já que a razão, um meio, foi deixada, na ausência da verdade de Deus, sem nenhuma meta espiritual ou moral. Se a luxúria e o poder são os únicos valores que não precisam da luz da razão para ser descobertos, a razão tinha de se tornar um mero instrumento para subjugar os outros”. ( p.47 ).

“A colisão e superposição de diferentes mundos ontológicos é uma das principais características... pós-moderna”. ( p.54 ).

Se o Romantismo gerou os nacionalismos, o pós-moderno trouxe a Globalização. As fronteiras nacionais tendem ruírem-se, o mundo multipolarizado se faz, o Homem faz parte da aldeia global.

Temos então a proposta do sentimentalismo e emoções que fizeram ideólogos e ideologias como queriam os Românticos.

O Realismo com seu senso moral e ético nos levou ao Existencialismo. Tem como referência Sartre.

Neste mundo que desponta repleto de consumismo e o que vale é o prazer do momento. As ideologias e os heróis e seus parâmetros morreram.

Resta-nos a Realidade. E a realidade é tudo o que nos resta. Temos que trabalhar sobre ela e com ela sabedores que a racionalidade foi o bem maior da humanidade que sempre a conduziu e a trouxe onde ela está.

Pieguismo, sentimentalidade, emotividades à parte somos obrigados a fazer da Razão nosso timão para irmos em frente.

O transcorrer do século, suas próximas décadas, nos apontará a que portos chegaremos a que paragens divisaremos. Isto o porquê, como disse o filósofo Ernst Bloch: “O Homem é um animal esperançoso”. (in: HOBSBAWN, Eric – Sobre História; Ensaios – São Paulo: Companhia das Letras, 1998 – p.66).

“È precisamente a nossa incerteza que nos aproxima da realidade, muito mais do que era possível em períodos anteriores, que tinham fé no absoluto”.

(MANNHEIM, Karl – in – O Mundo da Arte – RJ: Expressão e Cultura, 1979).

Prof. Leonardo Lisbôa

BIBLIOGRAFIA

1) BOBBIO, Norberto – Dicionário de Política – UNB – 9ª Edição.

2) HARVEY, David – Condição Pós-Moderna – Edições Loyola, SP – 1992.

3) LYNTON, Norbert – O mundo da Arte – 7ª ed. RJ – Expressão e Cultura – Vol. 10.

4) PROENÇA, Graça – História da Arte – Ed. Ática – SP – 1999.

5) PIQUÉ e outros – História Geral da Arte – Sinopse da Arte Universal – Ed. Del Prado, 1997.

Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 03/06/2011
Reeditado em 22/05/2012
Código do texto: T3011584
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