Festival de Artes Visuais Contemporânea em Paraty

DE PARATY, POR MIM, PARA TI

Leonardo Lisbôa

Passando férias em Paraty, RJ, Cidade onde o mundo converge – a esquina do mundo –, gozei a coincidência de ali estar acontecendo “Contemporânea – Festival Internacional das Artes Visuais” de criação e concepção de Pedro Cler e Cesare Pergola.

O evento se fez com diversas atividades, entre as quais a Premiação Belverede Paraty com um rol de 30 artistas selecionados entre quase uma centena de inscritos e palestras no espaço Domus Artis (Igreja do Rosário). Destas pude participar como barbacenense ouvinte de três (a elas me reportarei neste presente instrumento e em outros dois oportunamente por julgar de relevância e não me ater no direito de guardar só para mim preciosidades tamanhas – quero compartilhar).

A primeira aconteceu no dia 30/07/2011, onde houve o “Encontro dos Artistas Residentes com Artistas Convidados”. Sobre tal fato escrevo como consegui perceber e captar sem me sintonizar fielmente às apresentações dos artistas e o nome de suas obras agraciadas.

A Igreja do Rosário – Domus Artis – é um ambiente simples com detalhes rococó do final da exploração do ouro. Ali esperamos o início do evento. Estavam presente a equipe organizadora, o curador Cesare Pergola, o artista homenageado Emanoel Araújo e os 30 artistas selecionados.

A maioria do público era composta por senhores e senhoras, fazendo-me refletir: Por que os jovens não se encontram?

Cesare Pergola iniciou explicando as razões do evento. Fez as devidas apresentações dando a palavra aos contemplados (cada parágrafo pontua as devidas falas, uma vez que nem sempre os nomes eram ditos na auto-apresentação):

O primeiro a falar foi Jesus Herrera. Espanhol que atualmente reside em São Paulo.

Em seguida, também de São Paulo o grafiteiro expressa sua intimidade com a rua. Fala de si e de sua obra, mas como a multidão das ruas não diz seu nome – mantém-se no anonimato (sua insegurança é visível).

Se expressa sinteticamente o escultor comunicando apenas que sua obra se faz através do diálogo com o social.

O aracajuano se estabeleceu em Paraty e diz que sente necessidade de se ver protegido pelas paredes do seu atelier – sua arte se faz pela pintura do humano e que começa a ‘navegar’ pela literatura (o público o aplaude pela suas confissões).

As apresentações pessoais continuam.

Segue com a artista afro-brasileira dizendo sobre a felicidade de estar em Paraty. Sua linguagem plástica se faz mais forte que a oral que diminuía – concluo. Pois o nervosismo passou a dominá-la. Ela se justifica naquilo que já virou moda (ou desculpa) – sua feminilidade e sua etnia (não vi propósito ao – ela - reforçar isto).

Renata Rosa, já com dicção clara e segura, expressa sua vontade pela pintura que à deixa sempre voltada para seu lado objetivo da vida.

A arquiteta expressa o cosmopolitanismo de Paraty. Sente-se feliz pela sua cidade natal ter esta característica. Relatou sua experiência em Milão, França e Los Angeles. Lembra que tudo começou com seu autodidatismo e expressa: “Paraty é mágica”.

Tiago expõe junto com Renata rosa e se sente apoiado por isto. Ele é mineiro. Reafirma a solidão e a angústia criadora do artista. Expressa que isto é um exercício poético.

Sérgio Atilano expõe seu trabalho realizado em conjunto com Fernando Fernandes. Diz da importância da interação dos artistas da cidade com os que vieram trazendo sua experiência.

Fernando prefere apenas dizer seu nome já se sentindo apresentado nas falas de Sérgio.

Nascido em Paraty, Dalcir Raniero, expressa sua experiência como ceramista já há 35 anos.

Termina assim a auto-apresentação dos artistas que estavam presente seguida pela fala de autoridades mencionadas abaixo.

Olívio Tavares, crítico de arte, pede desculpas pela sua ausência na abertura oficial na noite anterior (29/07) dizendo que errara o local.

Logo após diz que “na arte do século 21 há grandes méritos e culpas responsabilizando Marcel Duchamp (1887-1968), que tirou do artista o seu ofício ao expor objetos prontos que foram artistificados pela sua declaração pública ao serem expostos. Não se faz arte só com idéia, se faz com coisas. A idéia por si só não se expressa, precisa-se do meio. O artista objetiva e formata a idéia com sua obra – este é o mérito do artista e do objeto artístico”.

Cesare Pergola dá a palavra ao público.

Xico Chaves retoma a importância de Duchamp para a arte contemporânea.

“A Arte Contemporânea é mais que vanguarda, uma vez que nada nega e aceita inclusive o academicismo. É o momento da redemocratização da arte”. Afirma o poeta.

Rosana Paulino, a artista que na hora de sua apresentação fora tomada pelo nervosismo, agora mais calma, expressa sua inquietude afirmando que nos grandes centros o artista tem que passar pela universidade, pela academia, que formata o artista.

Ela diz que isto a incomoda por sentir-se violada por esta imposição acadêmica que condena alguns temas como Amor, que o marginaliza na contemporaneidade, e que exalta outros, como o sexo. Ela interroga: “O que a Arte Contemporânea tem feito com a afetividade”?

O público se manifesta em coro deixando bem enfático algumas expressões como:

“A academia formata o artista e não o contemporâneo, pois este momento é de redemocratização da arte”.

“O mercado é determinante para o fazer artístico impondo o parâmetro para a arte”.

“ ‘Marchante’ não tem gosto, tem cliente que compra”.

Pérgula retoma a palavra e encerra este momento alertando para a realização de outros (a que reportarei em outros momentos).

L.L. Bcena, 05/08/2011.

Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 05/08/2011
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