Arte em Momentos – Contemporânea

Festival Internacional das Artes Visuais Paraty

Prof. Leonardo

Um terceiro momento do qual participei como visitante turista e relator ocorreu às 15h na Igreja do Rosário, espaço escolhido como o Domus Artis onde se realizaram os encontros entre palestrantes, artistas e público (aqui me enquadrava). O dia era 31 de julho de 2011.

O evento relatado atrazou-se dado a fatores a mim desconhecidos. Porém, para um bom observador estes momentos nunca são estéreis. Sempre há o que se ver, ouvir, analisar, concluir, anotar. Talvez para outros que finalizavam apenas assistir teriam sido instantes que se eternizaram pelo tédio da espera.

E enquanto se espera... Comemos das reações alheias (o ser humano com seus comportamentos, valores e atitudes é interessante de ser observado – Segundo Shakespeare, não são eles, os homens, a obra-prima da arte divina?!).

Um casal se assenta à minha frente e a fala, da mulher em especial, é digna de uma pinçada para analise dos imaginários segundo suas culturas:

“Mundanizaram a igreja... Esta cheia de fios elétricos espalhados pelo chão e parede... Vamos ver se eu aprendo alguma coisa”. Percebe-se que ela não estava satisfeita em ali estar. Sua impaciência cresceria com a demora do evento. Dizia,ela, que queria estar em um sítio onde acontecia um churrasco entre amigos.

O marido retruca a objeção feita pela companheira:

“Você tem que se adaptar... Os tempos são outros... Aqui vamos desfrutar de cultura”... Ela se aquieta (por instantes) e ambos silenciam-se aguardando.

Atrás, dois ou três bancos, a moça que chegara se assenta e depois se ajoelha e põe-se a rezar... Benze-se e vai embora (a mim me pareceu que ela não se deu conta de que o espaço interno se transformara deixando de ser um ambiente religioso para dar lugar a um lugar de Artes – Domus Artis).

Alguém liga as luzes coloridas e piscantes. Aos poucos elas estabilizam-se dando um efeito multicor e após um tempo apagam-se novamente.

No espaço externo do local, vozerios se faz ouvir.

Os participantes começam chegar.

A mulher da frente que havia se aquietado – o casal, parecia septuagenário - recomeça seus queixumes. O marido é enfático:

“Você quer sair e eu não vou!”

Ela impaciente se levanta e vai embora. Ele a segue vencido e profundamente irritado. Acabam voltando, mas ela estava irascível.

Os responsáveis pelo evento avisam: “Daqui a pouco vai começar”... Mas o tempo se perde. Pessoas se inquietam. O momento vai perdendo a magia tornando-se algo que começara a azedar. Parece que é o costumeiro (e cultural) jeito brasileiro de a tudo atrasar e nada começar no horário marcado (compromisso descompromissado).

Os instantes amargam-se até que o palestrante dá início se identificando se como Xico Chaves e que é artista visual que trabalha com diversas linguagens seguindo um viés político (por isto fora caçado na época da ditadura militar).

Ele desafia categoricamente a todos dizendo que ninguém sabe definir Arte Contemporânea por ser um processo que está em construção.

Marca a importância do evento para esta concreção da arte e ressalta a que Paraty é o lugar que evidencia nacionalmente e internacionalmente o fazer artístico e cultural.

Salienta ainda que Arte Contemporânea tenha a ver com o ser e o viver no dia a dia. O palestrante que recentemente diz ter estado em Brasília compara a capital do país, moderna, com Paraty, histórica. A primeira, um espaço urbano enorme, enquanto a outra, portuária, pequena, leva vantagem por sua geografia permitir eventos artísticos e culturais simultaneamente.

Xico Chaves se identifica como poeta também e pretendia nos brindar com o audiovisual “Conexão X Arte Visual” – MINC,.FUNARTE, Petrobras. Porém, o sol vespertino, que adentrou o ambiente incomoda a visualização da projeção impedindo-a. O palestrante leu então um texto que justificava o vídeo – não precisa dizer que foi frustrante e cansativo. (A mulher setuagenária resmunga e reclama causando impaciência ao seu parceiro e ao que atrás se assentava – como eu).

A leitura depõe contra o evento por se ter sido inaudível e longa.

Tudo parecia ir contra o palestrante – imprevistos acontecem e improvisos depõe contra. Ele usa de subterfúgios para contornar a situação, passou a discorrer sobre a mitologia indígena uma vez que para ele isto é importante – afirma – para a sua e nossa compreensão do contemporâneo.

A arte contemporânea, ele ressalta, não coibi a manifestação de estilos e tendências: por todos ela, a contemporaneidade artística, se faz.

Torna expoente os movimentos vanguardistas do século 20, que se contrapunham. No 21, estes grupos mudaram suas posturas e não mais se opõem criando conflitos. Características do momento contemporâneo, que não rejeita as oposições, assimilam tudo e disto se faz a Arte Atual. Ela também se utiliza das novas tecnologias que trouxeram para ela, a Arte Contemporânea, a Quarta Dimensão (a virtualidade) e a velocidade com que as coisas se fazem.

Neste ínterim, aproveitando que a luz natural da tarde esvaísse o documentário audiovisual é novamente exposto e agora se tem êxito. O vídeo alerta para os problemas ambientais ocorrido no Brasil.

Dados os atrasos do evento tive que sair, porque já havia comprado a passagem para o retorno a Barbacena.

Mas valeu para que os pensamentos parassem de ser gerados unicamente pelas coisas comuns da vida e refletissem sobre a arte e a contemporaneidade do pós-moderno.

Para os que ficaram até o final tiveram, com certeza, maiores lucros do que (mesmo aquela senhora setuagenária, que pode sentir que os espaços mudam os seus fins de acordo com a cultura da época que se faz).

O século 21 dirá e confirmará seu curso artístico e cultural segundo os interesses da humanidade. Quem vivê-lo, sobreviver-lho e ultrapassá-lo dirá – serão suas testemunhas as novas gerações, como nós somos testemunhas do Modernismo do século 20.

O Festival de Arte Contemporânea realizou-se na cidade encantadora de Paraty, RJ entre os dias 20/07 a 31/07 seccionado da seguinte maneira em espaços determinados:

a) Domus Artis (Igreja do Rosário)

- Abertura oficial com “Homenagem a Emanoel Araújo” apresentado por Olívio Tavares.

- Cortejo para inauguração das exposições e coktails nas galerias.

- Encontros marcados entre:

I. Artistas residentes com artistas convidados.

II. Emanoel Araújo – “Uma vida com a Arte”.

III. Maitree Seriboon (White Space Galbery Bangkok) – “A Jovem Arte Tailandesa”.

IV. Encontro com Denise Maltar – “Arte e Moda – O Preço da Sedução”.

V. Xico Chaves – “Arte Moderna e Arte Contemporânea”.

VI. Guilherme Bueno – “Minha Experiência no MAC”.

- Premiação do 2º Prêmio Belvedere Paraty.

- Inauguração Exposição dos 30 selecionados do Prêmio.

b) Contemporânea Paraty – Quadra da Matriz.

- Show de visual – mapping por visual – FARM VJ e DJ.

- “Festa das Artes” – Show de visual mapping por Visual – Farm, DJ, VJ, lounge.

c) Pintando o 7 – Quadra da Matriz.

- Oficina de Artes para criança.

d) Exposições Paralelas.

- “... Tudo Hoje Precisa um Pingo, uma Letra...” – Coletivo Cairuçu – trabalho realizado com a comunidade da Ponta Negra – Casa Paroquial.

- “Os Caminhos da Arte” – Exposição Jornal do Brasil e artistas do Rio de Janeiro – Casa Paroquial.

- “Jogo Persona” – Múltiplo de Arte – Instalação interativa e multimídia, ícones dos anos 80. Criação de Roberto Campadello para a Bienal Internacional de São Paulo. Proporciona uma experiência estética única: fusão do espectador e obra, instrumento para uma viagem intronáutica – Ao lado da Igreja do rosário.

- “Mulheres dos Outros” – Fotografia de Eduardo Muylaert – Galeria Zoom.

- “Da Terra ao Povo” – Coletivo Mestres da obra: Uma interessante complexidade estética de elementos da cultura brasileira. Um retrato da ancestralidade indígena, européia e africana, permeada pela religiosidade e a fé do povo brasileiro – Silo Cultural.

e) Circuito Art na Mesa – Como o Festival era de artes Visuais Contemporâneas os principais restaurantes prepararam iguarias que seduziam o olhar e o paladar homenageando um nome do mundo artístico.

Parabéns Paraty, que preparou para nós que ali a visitávamos este evento de bom gosto e que trago para ti que me leu.

Barbacena, 02/09/2011.

Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 02/09/2011
Reeditado em 04/09/2011
Código do texto: T3197382
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