CEIFEIRA
Inegavelmente, sou um muito bem sucedido empresário, dono
de bilhões em vários bancos, respeitado e invejado no mundo dos
negócios, mas sou mortal.
Desnecessário dizer que sou dono de dinheiro, empresas, e
até controlo as vidas de milhares de pessoas, mas continuo mortal.
Sou proprietário de coleções de carros, jatinhos, tenho um
yacht de supremo luxo, apartamento triplex, onde me escondo do
barulho do mundo, mas continuo mortal.
Domino verdadeiras sesmarias, conhecidas como fazendas.
Alguns, inclusive, me chamam de rei do gado, monarca da soja,
imperador do café, mas continuo mortal.
Tenho tanto dinheiro a ponto de eu nem ter certeza do que
possuo. São tantas as cifras e propriedades, funcionários que nem
conheço, e cada dia que passa me torno mais rico, mas continuo
mortal.
Com a minha riqueza eu controlo venais políticos, compro
estruturas jurídicas, manipulo a meu bel-prazer, mas continuo
mortal.
A minha fortuna me permite viajar, conhecer países em todo
o planeta Terra, no meu enorme yacht de luxo, em um dos meus
jatinhos, ou num daqueles super luxuosos navios onde cantam
famosas estrelas do mundo da música, mas continuo mortal.
Possuo milhares de barras de ouro, guardadas num verdadeiro
Fort Knox, sem falar em enormes diamantes de várias cores e
quilates, mas continuo mortal.
Constituindo minhas posses, há casas e apartamentos de luxo
em várias capitais, tais como Londres, Paris, Roma, para mencionar
apenas algumas. Nesses lugares me misturo às oligarquias locais,
le crème de la crème, e com elas sou o anfitrião parexcellence, de
fazer inveja a um imperador Persa, mas continuo mortal.
Dou festas de arromba, e nelas aparecem as mais lindas
mulheres, cada uma com seu marido blasé, movido a dinheiro,
ilícito sexo, muita bebida, e um adimensional ego. Com essas pessoas,
comparamos nossas riquezas e escapades, mas continuo mortal.
Olhando o mundo e as pessoas de cima para baixo, mensuro
e julgo a vida e os viventes, de acordo com meus critérios, jogando
no lixo tudo que me cansa, inclusive seres humanos. O mundo é o meu
feudo, e nesse eu domino supremo, sem limitações, mas continuo
mortal.
Nesse universo de riqueza material, sou adorado de perto, e
vilipendiado de longe, mas isso faz parte do jogo, do baile de máscaras,
do tilintar das taças, dos sorrisos maquiados e forçados. Claro que
aprecio toda essa farça social, mas continuo mortal.
Um dia, sem nem mesmo me avisar, de mim se aproximou, a
inevitável ceifeira, e, com sua certeira foice, decepou minha rica e
egocêntrica existência.
Hoje, na minha fria lápide, assim está escrito: parem non feret.
IRAQUE