MEMORÁVEIS CARTÕES NATALINOS...

MEMORÁVEIS CARTÕES NATALINOS...

“Lembre-se, se o Natal não for encontrado no seu coração, também não o encontrará debaixo da árvore.” - Charlotte Carpenter

Janeiro, sexto dia do mês. Há pouco, concluímos o desmonte de nossa pequena árvore de Natal. Desde a tenra idade, permitíamo-nos participar, efusivamente do ritual, inclusive da montagem, dia 30 de novembro, início do tempo do advento para a Igreja Católica. É tradição, no dia de Reis, colocar-se três bagos de romã dentro da carteira para ter dinheiro durante o novo ano. Descrições de florescimentos de árvores levaram os cristãos da antiga Europa a ornamentar suas casas com pinheiros no dia do Natal, única árvore que, nas imensidões da neve, permanece verde. Relatos antigos, sobre a árvore, datam de meados do século XVII e são provenientes da Alsácia, província francesa.

Os enfeites e o modesto presépio (idealização de São Francisco de Assis) irão dormitar até a chegada de novembro. Afloram-se à lembrança os pinheiros “in natura”, adquiridos nas avenidas Bento Gonçalves e Duque de Caxias, fixados com areia em grandes latas de tinta ou produtos químicos. Não sabemos como justificar, se possível o é, entretanto despertavam nossa atenção com mais intensidade que os desmontáveis arbustos artificiais, ainda que estes mais práticos e atraentes. Os de antigamente transmitiam mais calor, intensificavam a fé e deixavam-nos próximos da liturgia cristã.

O município, nas vias centrais, lançava mão do mesmo recurso, adornando-os com caixas de papelão e estampas natalinas, bolas coloridas, figuras angelicais, guirlandas, uma estrela dourada no ápice, sininhos, e neve caindo em flocos de algodão. A sedução das luzes coloridas transportava-nos por cenários de encantamento e magia. Contemplávamos, pios e inebriados, nos braços da Virgem Santíssima, o esperado Salvador. José e três magos reverenciavam, na rusticidade de um estábulo, o menino que não necessitou de castelos para ser rei.

A cada ano, recomenda-se haver acréscimo nas peças que adornam os símbolos natalinos. O número de presentes aos filhos, genros e noras, felizmente, tem-se mantido imutável, e vêm crescendo os que se destinam aos amigos e aos netos.

A tradição de colocar os sapatinhos ou a de pendurar as meias à chaminé veio de Amsterdã, na Holanda. As crianças deixavam os tamancos – klompen – (típicos daquele país) à entrada da porta e os pais colocavam presentes sobre cada par. Em Portugal, na véspera do dia de São Nicolau, o procedimento era semelhante.

Devemos aos magos a tradição de trocar presentes no Natal. Em diversos países, como os de língua espanhola, a principal troca é feita no dia 6 de janeiro, e os pais muitas vezes se fantasiam de reis magos. Na Itália, quando da Epifania, temos a Befana – velhinha de roupas remendadas, xale, lenço na cabeça e chapéu pontiagudo, botas e vassoura na mão.

Em países como a Espanha, é estimulada entre as crianças a tradição de se deixar sapatos à janela, com grama, para que os camelos dos magos possam se alimentar e retomar viagem. Em troca, os magos deixariam doces. A tradição também consiste em comer bolo-rei, no interior do qual se encontra uma fava e um brinde escondidos. Quem encontra a fava deve "pagar" o bolo-rei no ano seguinte. Na França come-se "Buché a la Renne" onde também encontram um brinde no seu interior e a buché costuma trazer uma coroa, quem encontrar o brinde será rei e será coroado. Em Portugal e em outros países as pessoas que moram em pequenas terras costumam ir cantar os reis de porta em porta, recebem guloseimas e chouriças etc. Esse costume foi trazido ao Brasil na época da colonização...

Os magos, talvez três, (em grego: μάγοι, transl. magoi), na tradição cristã, são personagens que teriam visitado Jesus logo após o seu nascimento, trazendo-Lhe presentes. A palavra “mago”, antigamente, era utilizada para sábios, conselheiros ou cientistas como astrônomos. Foram mencionados apenas no Evangelho segundo Mateus, onde se afirma que teriam vindo "do leste" para venerar o Cristo. Gaspar, partiu da Índia, era moço, vinte anos, robusto e viera de uma distante região montanhosa perto do mar Cáspio, entregou-Lhe o incenso que representa a fé, significa “Aquele que vai inspecionar”. Melquior, Melchior ou Belchior era velho de setenta anos, cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus, trouxe-Lhe ouro. E Baltasar, mouro, barba cerrada, quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia”. Baltasar só ganhou a cor negra no século XVI, de maneira que se pudesse abranger todas as raças, saiu da África, levando para o menino mirra: arbusto originário desse país, onde é extraída uma resina para preparação de medicamentos. .

Na Alemanha do século XVI, Martinho Lutero iniciou o costume de enfeitar a árvore de Natal. Em 1513, levou um pequeno abeto para dentro de casa e começou a enfeitá-lo com velas acesas. O príncipe Alberto, marido da rainha Vitória, levou essa tradição para a Inglaterra, alemães e ingleses trouxeram-na à América. A árvore de Natal é uma tradição muito mais antiga do que o Cristianismo e não é um costume exclusivo de uma religião em particular. Muito antes da tradição de comemorar o Natal, os egípcios já levavam galhos de palmeiras para dentro de suas casas no dia mais curto do ano, em dezembro, simbolizando o triunfo da vida sobre a morte. Os romanos enfeitavam as casas com pinheiros durante a Saturnália – festival de inverno em homenagem a Saturno, deus da agricultura.

Nos dias hodiernos, ainda que não queiramos, o material sobrepõe-se ao espiritual. Os apelos consumistas sedimentam, basicamente, sobre o Papai Noel, a essência natalina. As renas conduzem nossos desejos no trenó das ilusões. Por uma chaminé de fantasias, crendo que tivemos bom comportamento, visualizamos a descida, na calada da noite, de um obeso viandante, com barba branca, e com nossos sonhos às costas. Enquanto isso, as árvores se iluminam, num incessante pisca-pisca, deixando ver, às vezes, a simplicidade das acomodações pastoris, a ternura e o orgulho de José e Maria e a aura régia de um Deus-Menino.

Os hábitos e costumes também se alteram. As mudanças são inevitáveis. Chegamos a receber, orgulhosamente, em decorrência de considerável número de amigos, colegas e parentes, aproximadamente setenta cartões ao término do ano. Ficavam expostos em meio aos presentes. Deixavam-nos envaidecidos ao comentarmos a origem e os elos de relacionamento. Transmitiam mensagens, eivadas de espiritualidade e as imagens centravam-se na Sagrada Família. Davam-nos a dimensão de vínculos amistosos. Acresciam-se, à mão, palavras de carinho, notícias, cumprimentos. O prazer em enviar e o de receber era enriquecido pelo primor da caligrafia.

As empresas comerciais divulgavam, e algumas ainda o fazem, seus produtos através de criativos impressos natalinos. Associações beneficentes, predominantemente religiosas, através de grandes tiragens, valiam-se do expediente como fonte de renda. Talentosos desenhistas permitiam-se, artesanalmente, tracejar inspiradas criações. Em algumas escolas, estimulava-se a confecção de cartões que eram fixados nos quadros de aviso.

Entretanto, fomos nos tornando comedidos, preguiçosos, procrastinando deveres e cortesias redacionais. Chegamos à era da praticidade. Prometemos: amanhã, reúno tudo que está pendente e coloco em dia.

Os Correios e Telégrafos pouparam-nos desse “hercúleo esforço”, lançando aerogramas. Só faltavam vir assinados e lacrados. De resto, repetitivos, pobres, sem criatividade, sem humanismo.

Durante muitos anos, guardamos em caixas de sapato, assim como cartas e documentos que tivessem significado afetivo, cartões natalinos: imagens e sentimentos retratados em votos alvissareiros. Vez por outra, deleitava-nos relendo e questionando acréscimos e omissões.

Até mesmo entre os familiares desapareceram as mensagens escritas. E por que perder tempo com esse mister? – um “torpedo” e tudo está resolvido. Um “e-mail” e demonstramos a extensão de nossos sentimentos.

Não se contesta que as mensagens virtuais são mais criativas: valem-se de engenhosas e sedutoras imagens, recorrem à dinamicidade, embalam nossas lembranças através de imorredouras canções, sensibilizam-nos, acentuando a espiritualidade no desabrochar de frases e vocábulos. Curiosamente, enviamos o mesmo encômio, impessoal, aos mais distantes e aos mais chegados. Se desejarmos, até podemos gravar as mensagens para um dia, que dificilmente chegará, lembrarmo-nos de palavras e remetentes.

O sentimento transato, às novas gerações, tem olor de sótão, configura-se como rugas de pergaminhos, têm a olência de centenários baús, são folhas amarelecidas de milenares compêndios, nada mais são do que arcaísmos.

Para não ficarmos alheios ao advento virtual, digitaremos, ainda que com os dedos trêmulos FELIZ NATAL e PRÓSPERO NOVO ANO.

Jorge Moraes – jorgemoraes_pel@hotmail.com - fevereiro de 2012