PINCEIS VERMELHOS

Em verdes uniformes os anjos da morte pintam o quadro da humanidade. Em vestimentas de aço eles avançam em direção ao Leste...

As cabeças erguidas, os passos firmes, certos da vitória final.

Movidos pela Weltanschauung que os transforma em obedientes máquinas, passando por cima de valores que eles consideram nada mais que sentimentalismo, esses anjos de aço são autômatos treinados para obedecer, e isso eles fazem sem titubear.

Com seus pinceis eles pintam de vermelho as trilhas por onde passam. São comandantes e comandados, coração de pedra, olhos de mortos...

Forjados na escola supremacista, criadores de uma nova civilização, uma sociedade de senhores e escravos. Do Oeste eles partiram em seus ginetes de ferro-aço, sem encontrar obstáculos. Nem suspeitavam que cavariam suas próprias covas nas longínquas geleiras do Leste. Desconheciam a universal realidade, a contundente lei da ação e reação.

Fantasmas-demônios-anjos petrificados, manipulados por diabólicas mentes, destituídas do senso da proporção. Limites eles não conheciam, e por isso em sua caminhada persistiam. Certeza tinham de sua superioridade. Eram mitológicos deuses de passadas épocas. Suas certezas eram incomensuráveis.

Treinados para vencer, desconheciam o perigo. Por onde passavam deixavam um rastro vermelho, e a fumaça que subia em direção ao infinito. Vassalos de fanáticos Generais, nasceram para obedecer.

Tinham em mente a reestruturação do planeta Terra, cada ser humano em seu devido lugar, alunos que eram de inegável determinação.

Seus pálidos mestres, submersos em inamovíveis bunkers, decidiam em que direção o vento sopraria. Suas certezas eram os seus alimentos, cuja consequência era a fria morte.

Nas batalhas Leste-Oeste, durante algum tempo o Oeste sentou-se na sela dos vencedores, mal sabendo as hostes ocidentais que o vento é imprevisível andarilho, mudando de direção quando menos se espera.

Artistas pintando rubros quadros, relembrando pretéritos impérios, e o vento uivando, o tempo viajando.

O quadro negro-rubro-gelado foi sendo pintado, até que o congelado hálito do Leste esboçou uma reação. Para o Ocidente foi enorme surpresa, o sonho se transformando em pesadelo.

Os mitológicos tambores ocidentais, de repente, se emudeceram, a situação se invertendo. Numa primavera de Abril, metálicos foguetes desmantelaram as certezas e as ocidentais casamatas, um arrogante império se transformando em cinzas.

O silêncio na garganta calou a certeza dos príncipes ocidentais, mostrando que a história da humanidade não é nada linear, e a lágrima de hoje pode se transformar no grito de vitória de amanhã, e o perdedor de agora poderá se metamorfosear num Genghis Khan num futuro não tão remoto.

Será que nos acostumamos com o constante vermelho da humana história? Seria o caso de a adaptação falar mais alto do que a coragem? Os historiadores são honestos escribas que não fogem dos fatos, ou criadores de mitos? Será que o rei está vestido ou nu? Seria a nossa passagem por esse planeta uma mistura de objetivismo e subjetivismo?

Enquanto essas perguntas ficam no ar, os pinceis continuam pintando de vermelho a morada do ser humano, essa faca de dois gumes.

IRAQUE

Iraque
Enviado por Iraque em 26/02/2012
Código do texto: T3521714
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