AS FOLHAS NÃO MENTEM. JAMAIS!
                            Sérgio Martins Pandolfo*
 
     Como as cartas, as folhas aí estão para desmentir. Ou não deixar mentir. Leandro Tocantins, um de seus mais apaixonados historiadores, decanta sua Santa Maria de Belém do Grão-Pará” dizendo-a, “cidade que recende a aromas de mato e a sortilégios de puçanga. Secundando-o acresceríamos ser ela a cabocla faceira e dengosa que, por suas bonitezas e garridices, carimbolando sensuais requebros e espargindo a voluptuosidade de seus feromônios, sempre atraiu a cobiça e a concupiscência de aventureiros e aventurosos desde sua meninice existencial, quando anglos, francos e batavos por cá adentraram furtivamente, ambicionando teres, haveres e saberes de sua ingênua indiada. O que exigiu que um luso intrépido e sagaz, Pedro Teixeira, o Conquistador da Amazônia, os pusessem a correr em desabrida e desamparada fuga para homiziarem-se nas nascedouras guianas, coisas essas registradas às folhas amarelecidas e desgastadas pelo tempo dos códices manuscritos da amazonina História.
   Ao tempo do déspota nada esclarecido Napoleão, que até podia ser "bom na parte", mas era muito "ruim no todo" (Waterloo que o diga!), tropas luso-parauaras aqui sediadas garantiram para sempre os limites de nossas faixas setentrionais que o maquiavélico corso queria ver anexadas à sua colônia americana, mesmas tropas que pouco depois tomaram de assalto a franca guiana em represália à invasão do Anticristo a Portugal. A duríssimas penas sempre mantivemos a integralidade de nossas terras e de nossas coisas ante a sanha avassaladora de forâneos usurpadores, em especial desta Belém, metrópole das águas à foz do rio-mar plantada, o que seria mesmo de celebrar, não fora de lastimar.
   O surrupio de coisas valiosas e benquistas vem, portanto, desde alonjados tempos. Belém é a única cidade que saibamos ou conheçamos cujo Centro Histórico é todo pavimentado com mármore. Sim, as vetustas pedras de lioz, conhecidas como mármore de Lisboa, que também revestem fachadas e pórticos de catedrais, mundo em fora. Pois o saque dessas peças marmóreas tem sido continuado e vertiginoso, sem que se saiba o paradeiro, já sendo raras as ruas que as têm na integridade do revestimento. A gare de ferro de São Braz, as locomotivas, vagões e até os trilhos foram transladados para linhas férreas cearenses. A caixa d’água da Campina, os chalés de ferro, postes e outros elementos que marcam o processo histórico mundial, simbolizado maximamente pela Torre Eiffel, a assinalar a prestança desse metal na construção civil, hoje em estágio pinacular (edifícios, pontes, navios), foram sendo “mandraqueados” daqui sem choro nem vela.
   Agora voltam-se os cúpidos e faiscantes olhares para os elementos constitutivos do Complexo Portuário de Belém (armazéns, guindastes, trilhos, posteamento, muro com  gradil de ferro forjado, etc.), para nós de inestimável valor patrimonial e cultural, mas que para os de fora que ora os “administram” nada dizem, nada contam e a eliminação de “dois velhos galpões’” visando a empilhar mais caixotões de carga, a fim de fazer inchar a receita do órgão federal a ser investida em outros portos “mais importantes”, é o que interessa. A direção da CDP, em declaração às folhas (O Liberal, 1/4/2012) assevera que: É um assunto técnico que não deve ser tratado de maneira emocionalese necessário, a CDP percorrerá toda a esfera judicial para conseguir tirar do papel o seu projeto.
   O Secretário Estadual de Cultura, homem de real cultura no assunto, haurida ao longo de muitos anos atuando nessa área na capital francesa, tem ideia diametralmente oposta: O que existe de mais importante é a vida da população, de Belém, dos bairros. Isso afeta toda a Belém porque afeta o sistema viário (...). Eu não tenho preconceito contra imigrantes estrangeiros. Mas desde que eles venham para trazer e não para levar. Não são eles, que estão aqui de passagem, que vão nos dizer o que é importante para nossa cidade.

Na foto acima a zona portuária pretendida para o empilhamento de contentores com os controvertidos armazéns 11 e 12 que se pretende remover
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*Médico e escritor.ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 06/04/2012
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