A soberania do instante, por Terciane Alves na revista Metáfora, ano 1 — no 8

Em oficinas de criação literária, não raro orientadores indicam aos participantes um exercício: olhar uma foto, demorando nela. E essa contemplação desafia apres­ados. Depois, a partir de vários tipos de estímulos, o par­ticipante é convidado a escrever um texto ficcional a partir do que enxergou ou do que o tocou na imagem. Hoje nos comunicamos por imagem. Postamos fotos como mensa­gens nas redes sociais o tempo todo. E há muita narrati­va literária nisso. A potência do instante fotográfico foi uma descoberta revolucionária no século 20, ainda que a fotografia tenha nascido no século 19. A narra­ção fotográfica tem em Henri Cartier-Bresson, o mestre do instante decisivo, a soberania do cotidiano. É a crônica do olhar, da simplicidade justamente no período em que o processo de fotografia se industrializou, e vivia-se a auste­ridade do pós Segunda Guerra. Suas fotos documentais, feitas a partir de uma câmera Leica, como bem lembra a historiador Jean Clair, no texto sobre Bresson para coleção Photo Poche (Cosac Naify), registraram a Europa abalada pela guerra, a vitória comunista na China, mas retrata­ram, de forma inesquecível, as cenas cotidianas em Paris. Para o francês, a “câmera é um instrumento da intuição e da espontaneidade. Fotografar é prender a respiração quando todas as nossas faculdades convergem para captar a realidade fugidia; é então que a captura de uma imagem é uma alegria física e intelectual”.

 
Terciane Alves
Enviado por Germino da Terra em 02/06/2012
Reeditado em 02/06/2012
Código do texto: T3701195
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.