Portugues mal falado

PORTUGUÊS MAL FALADO

Depois que conclui o artigo intitulado “Escorregões da língua” veiculado aqui, sobre os constantes erros de português, perpetrados não só pelo povão, mas por muitos doutores de casaca, lembrei-me de tantas outras coisas que escutei, que colecionadas daria, como efetivamente deram outras matérias análogas.

Primeiro, vou fazer alusão aqui de formas equivocadas de falar ou pronunciar a nossa tão conspurcada língua portuguesa. Quando vejo esses escorregões, fico me lembrando de outro pedante que recomendava, nessas questões: “Vamos tirar Camões do ostracismo!”.

No passado o pessoal do grupo “Terreira da Tribo” cantava “ói nóis aqui traveis” e “adevorve o estandalte do bróquio pro Craudionor”, numa sátira ao quanto o brasileiro mais simples costuma assassinar sua língua.

Eu conheci uma mulher, foi empregada na minha casa por quase vinte anos, cuja linguagem parece que estava eternamente vinculada à senzala. Ela tinha filhos na escola, convivia doze horas conosco, de segunda a sexta-feira, assistia tevê e mesmo assim nunca progrediu de seu bárbaro atavismo.

Ela dizia que ia pegar sua borsa (bolsa) para ir à porcissão (procissão) na ingreja (igreja), e só não iria se dispois (depois) chovesse e ficasse tudo moiado (molhado). Os irmãos dela eram o varti (Valter) e a creusa (Cleusa). Ela afirmava que não gostava de trabalhar, mas que o fazia porque percisava. Às vezes eu ficava em dúvida se o problema dela era falta de estudo ou se ela dizia tudo aquilo com o fito de me gozar.

De outro lado, tenho dois conhecidos, que embora não sendo letrados, possuem algum lustro, e mesmo assim chamam o peixe salmão de salmom. Há quem diga que salmom é uma cor, mas hoje os dicionários no-lo ensinam que se usa salmão para designar o peixe e a cor rósea de algumas roupas íntimas femininas. No dicionário Houaiss, por exemplo, inexiste o verbete salmom.

Eu conheci crianças que criavam neologismos incríveis, como por exemplo, atropeçar para se referir a ultrapassar e tintar no lugar de pintar. Tem ainda que troque flarda por fralda e rádia por rádio (emissora).

Os gaúchos, meus conterrâneos falam mal, geralmente no que concerne à pronúncia de certas palavras, como cáqui (ao invés de caqui, acento no i). É gozado quando a gente pronuncia kaky, algumas pessoas logo corrigem, dizendo que é cáqui. Ora, cáqui é cor e caqui é a gostosa fruta vermelha, originária do Japão.

Outro escorregão de pronuncia é dizer Jãime (como dizem no sul) ao invés de Jaime. J+a nunca faz jã, mas sempre já. Outro engano do gauchês aponta para a palavra mámão. Ora, se dizemos mamãe temos que dizer mâmão, pois m-a-m só dá mam.