CANTORIA

CANTORIA

(*) Edimar Luz

As festas de cantadores repentistas, ou de desafios de viola, que em nossa região recebem também a denominação de cantorias, são manifestações folclóricas de extrema importância para o nosso povo, pois elas representam um exemplo das múltiplas manifestações que compõem nosso espaço cultural. Não se pode negar que o repentista é, acima de tudo, um tipo característico que, na verdade, demonstra uma notável e incrível inteligência aliada à presença de espírito sertanejo, apresentando, onde quer que esteja, sua poesia natural em forma de versos improvisados e metrificados. Era muito bom observar aqueles improvisadores maravilhosos criando versos metrificados, de forma espontânea e impressionante.

Cumpre destacar que pode, evidentemente, haver festa de cantadores em qualquer lugar, mas, na realidade, são o meio rural e cidades do interior o ambiente propício à apresentação desse tipo de festa. Aliás, essas cantigas de viola têm o tom, o cheiro e as cores do nosso querido sertão, sendo, portanto, festas típicas da sociedade rural.

Como sabemos, cantador ou violeiro é uma espécie de poeta e cantor popular que, como vimos acima, improvisa versos ao som da viola e canta canções de cantoria, que são um tipo de música folclórica. Muitos dos cantadores que por aqui se apresentaram ao longo dos tempos, vieram de lugares distantes para, sob as palmas ruidosas do público presente, aqui apresentar com extrema habilidade suas modas de viola. É bem verdade que em termos de cultura, o Brasil tem, indubitavelmente, uma riqueza extraordinária no que se refere ao folclore.

Podemos afirmar que os desafios de viola ou apresentação de cantadores é uma festa folclórica por demais tradicional aqui no Nordeste brasileiro, onde ao longo do tempo, teve destaque um grande número de duplas, tocando viola e cantando repentes em feiras livres, praças, ruas e em casas de populares dos arrabaldes e interiores. Essas festas de caráter popular se constituem num exemplo de costume e tradição da nossa comunidade, do nosso povo, quando diversas duplas de cantadores, de fora ou do lugar, contratadas para aquelas noites de cantorias de viola se apresentavam nas casas dos habitantes do lugar, em alegres e inesquecíveis noites folclóricas, cantando canções, repentes improvisados, sextilhas, martelo agalopado. Além disso, os repentistas geralmente costumavam fazer também uma espécie de homenagem ou bajulação momentânea a alguns dos cidadãos presentes, quase sempre com o objetivo de arrecadar dinheiro, criando momentaneamente rimas sensacionais sobre aquela pessoa que ora se fazia presente. Além de uma pequena cota que era cobrada normalmente dos expectadores.

É importante ressaltar aqui a memorável cantoria que se realizou nos anos 60 na casa do senhor Manuel Pedro da Luz (Manuel de Pedro), primo do meu pai, aqui no nosso Bairro Ipueiras, a qual foi realmente muito animada, pois se pôde observar a presença maciça de um grande número de habitantes do lugar e de várias localidades adjacentes. Essa cantoria foi, sem sombra de dúvida, a mais badalada da época, no lugar. A célebre dupla de cantadores repentistas e eminentes poetas populares, Pedro Bandeira e João Alexandre, afamados em todo o Nordeste, e protagonistas de programas radiofônicos da região do Cariri Cearense, brindava o público presente com espetaculares e impressionantes repentes e belas canções de cantoria; claro, algumas de sua própria autoria.

Convém lembrar que o povo ali se reuniu de forma expressiva e marcante, com a finalidade de prestigiar e apreciar aquela sensacional festa sertaneja de caráter popular e por demais bonita.

Aquela notável dupla de artistas cantadores, exímios repentistas nordestinos, naquela noite se apresentou sobre um tablado composto de duas mesas grandes juntas, montado na calçada, o qual lhe servira de palco; enquanto o povo, atento àquela apresentação folclórica e de grande valor cultural, aglomerava-se por todo o extenso terreiro. E enquanto isso, também, o toque plangente das violas e a toada da voz dos cantadores ressoavam por toda a redondeza próxima, naquela noite dos anos 60. Isso certamente encantou a todos, uma vez que estas festas consistem essencialmente em levar às pessoas, alegria, divertimento e entretenimento.

(*) Edimar Luz é escritor/cronista, poeta, articulista, memorialista, compositor, professor e sociólogo formado em Recife- PE.

Obs.2

Este artigo de, minha autoria, já foi publicado em diversos periódicos, tais como: Revista Mais Foco, Jornal de Picos, Jornal O Povo, Jornal Total; e faz parte do meu Livro Memórias do Tempo. Direitos reservados.

Edimar Luz
Enviado por Edimar Luz em 18/01/2013
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