ADENTRAR POR ENTRAR

ADENTRAR POR ENTRAR

Eu não me conformo com esse abuso do verbo “adentrar”, que virou moda. E não venham me dizer que é rabugice de velho, porque não é não! De uns tempos para cá, todo mundo só fala “adentrar” em vez do tradicional e mais que suficiente “entrar”. Se ao menos lhe respeitassem a regência de verbo transitivo direto, contudo. Mas não! O que mais se ouve é: “A polícia adentrou na casa...”, “O padre adentrou na igreja...”, “Eu adentro no meu quarto...”.

Cá entre nós: Não é ridículo? Por que não adentram no raio que os parta!

Felizmente ainda não ouvi a barbaridade: “Eu adentro na porta adentro”, porque, então, seria dentro demais.

E eu fico perguntando aos meus botões qual será a diferença que os amantes do “adentrar” encontram entre os verbos entrar e adentrar. Se quem (ou o que) entra fica dentro tanto quanto quem (ou o que) adentra, para que o tal prefixo ad?

Adentrar é mais chique do que entrar?

Huuuum! É isso! Por que, então, não começam a dizer adsair, adficar, adencher, adengordar, adenfiar, adembestar...?

Por que eu me indispus contra o “adentrar”?

Muito simples. “Ad” é uma preposição latina que significa aproximar-se de algum lugar, ir para algum lugar (sem a intenção de entrar nesse lugar). Então, quando se diz: adentrar, adentrei etc., etimologicamente significa: entrar sem entrar, entrei sem ter entrado etc. Não é um absurdo, um tremendo disparate?

Portanto, no meu entender, quem usa o verbo adentrar demonstra ser um indivíduo pedante e pernóstico. Quem não aceita este julgamento, continue adentrando, mas longe de mim, porque eu estou fora!

Mas é tão errado assim o uso do verbo adentrar?

Depende. Quando se quer expressar movimento por um lugar adentro, o verbo adentrar pode ser usado parcimoniosamente em substituição ao advérbio “adentro” e sem preposição, pelo amor de Deus! Exemplos: A polícia adentrou a mansão, atrás do assassino. Os bandeirantes adentravam as matas, impelidos pela ambição.

É isso, amigos que ainda não adquiriram o tal vírus “adentrar”!