O DRAMA DA SECA

(*) Edimar Luz

A famigerada seca do Nordeste, apesar de ser evidentemente um fenômeno climático, apresenta-se, na realidade, também como um fato social que tem marcado constante e profundamente a sociedade rural nordestina ao longo do tempo.

Desse modo, podemos afirmar que a causa fundamental da seca é realmente o clima, ou seja, a falta da benéfica precipitação que chamamos de chuva. Todavia, o problema da seca no Nordeste vai além dessa mera afirmativa. A seca tornou-se um processo social gerado pela lamentável escassez periódica de chuvas ou pela ausência ou reduzida precipitação pluviométrica nos meses em que todos aqui esperam o inverno.

Segundo informações, a maior seca ocorrida até hoje no Nordeste, foi a que eclodiu no período de 1877 a 1879, quando morreram cerca de 500 mil pessoas. Mas, no século XX, também ocorreram inúmeras e grandes secas, as quais castigaram impiedosamente a sofrida população sertaneja.

É bom lembrar aqui também que a água é a maior riqueza natural do espaço piauiense. Por isso, ela deve ser tratada e cuidada com muito carinho e sensatez.

A seca e o sofrimento do nordestino do Sertão foram tão bem retratados por escritores, por poetas, por compositores e cantores como o saudoso Rei do Baião, Luiz Gonzaga, através de suas bonitas e nostálgicas músicas, como as famosas Asa Branca, A Triste Partida, Aquarela Nordestina, A Volta da Asa Branca e tantas outras, numa impecável interpretação.

Conta-se que desde antigamente, as estradas do Sertão ficavam, por ocasião das secas, repletas de retirantes, que iam se arrastando, fugindo do calvário da miséria, havendo entre esses, muitas vítimas que caíam desfalecidas e inanimadas, por não suportarem a fome e as fadigas sob um sol causticante e a duração da árdua viagem. Nessas circunstâncias a situação da população sertaneja é terrivelmente dramática.

Somente a partir da seca que durou de 1951 a 1953, teve início o transporte de nordestinos sertanejos no desconfortável tipo de caminhão denominado "pau-de-arara", quando milhares de flagelados de várias regiões do Nordeste foram transportados de forma desumana para os longínquos campos de outras regiões do país, assim como para cidades distantes, especialmente São Paulo e região.

A área nordestina atingida pela seca varia, às vezes, de ano para ano. Todavia, existe uma parte identificada como o Polígono das Secas, onde o fenômeno é mais constante e mais terrível. A área do Polígono, que pode ser considerada como o Trópico semi-árido, não apresenta uniformidade, compreendendo, como se sabe, porções mais ou

menos chuvosas, mais ou menos expostas às angustiantes secas periódicas.

Cumpre lembrar que o Nordeste é visivelmente uma região cheia de evidentes contrastes. Está subdividida em quatro áreas ou sub-regiões bem definidas: Zona da Mata, Agreste, Sertão e Meio-Norte. A Zona do Sertão, situada no semi-árido, é a sub-região nordestina de maior extensão e sujeita a secas freqüentes, pois, na realidade, as chuvas nesta parte do Nordeste são, como já ressaltei, por demais escassas e irregulares, e onde a seca existe, a situação se torna bastante crítica, com conseqüências drásticas e comoventes.

É preciso perceber que a caatinga, dominante no Nordeste semi-árido, é formada de associações vegetais adaptadas à semi-aridez do clima escaldante da região, perdendo as folhas na estação seca. Muitas destas plantas se caracterizam por apresentar uma infinidade de espinhos; são, portanto, plantas espinhentas e xerófitas.

Outro processo social que se observa claramente quando eclode no nosso sertão nordestino uma seca, é, na verdade, a emigração, digamos assim, urgente e forçada de seus mais carentes habitantes, os retirantes. Portanto, ao paralisar a economia rural, e, consequentemente, dificultar por demais o abastecimento normal das nossas populações rurícolas ou camponesas, a seca impiedosa e devastadora eleva a níveis insuportáveis a fome, o desemprego, as necessidades do nosso povo...

Cumpre também destacar que o Nordeste é a segunda maior região brasileira em população, possuindo quase um terço da população do país, sendo superado somente pela região Sudeste.

À guisa de exemplo, destaco aqui que no ano de 1932, a nossa região de Picos foi afetada e flagelada por uma seca devastadora que assolou nosso chão sertanejo, que culminou com a perda quase total das plantações e do gado, além do inevitável sofrimento humano. Mas, salvou-se Picos, graças à existência maravilhosa e providencial do nosso rio Guaribas, que felizmente funcionava, nessas circunstâncias, como um verdadeiro oásis em meio a este sertão seco e de sol causticante e escaldante. Foram muitas, porém, as grandes secas que já castigaram a nossa região de Picos, ao longo do tempo. Picos, Município Modelo, Capital do Centro-Sul Piauiense, Princesa do Vale do Guaribas e do Sertão Piauiense. Picos, Cidade Sertaneja... Que reluz progressiva e majestosamente sob o inclemente Sol do Equador.

Em última instância, quero aqui ressaltar que este meu artigo de 26 de agosto de 1993 faz parte do meu livro Memórias do Tempo, já tendo sido, inclusive, publicado em vários jornais da cidade de Picos, desde aquele ano: Tribuna de Picos/Tribuna do Povo, Jornal de Picos, Total Informativo e outros... Direitos reservados ao autor.

(*) Edimar Luz é escritor/cronista, poeta, compositor, memorialista, articulista, professor e sociólogo, formado em Recife – PE.

Do meu livro Memórias do Tempo. Direitos reservados.

Picos- PI, 26 de agosto de 1993.

Edimar Luz
Enviado por Edimar Luz em 29/05/2013
Reeditado em 29/05/2013
Código do texto: T4315123
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