Sobrevivi à Bienal

Ontem, fui a mais uma edição da Bienal do Livro no Rio de Janeiro. Um hábito do qual não me abstenho dada a minha paixão por livros e pelo fato de gostar de levar minha moçada para tamanho evento. Mas eis que, mesmo dadas as atrações do dia, jamais pensei em assistir cenas tão depressivas quanto as que ontem pude ver. Desorganização foi a palavra que não queria calar. A FAGGA deu um show de incompetência. A cidade do Rio de janeiro passou por mais um vexame, dessa vez na cultura. Cultura do lucro, cultura da ganância, do desrespeito ao visitante que paga quatorze reais (inteira) e sete (meia) para ser tratado com tamanho desprezo em termos de consideração.

Já na entrada - isso antes de pagar - um tumulto horroroso o qual os míseros seguranças nem sequer tiveram condições de combater, posto que eram milhares de pessoas para poucos organizadores de fila. Resultado: nosso povo, um primor de educação, invadia e "furava" filas, arrastando as barras formadoras de corredores (currais mal organizados), ao ponto de, em minutos, pessoas se ferirem, serem empurradas (enquanto na "fila", nem sei como andava; "era arrastada" pra lá e pra cá) perderem seus calçados, prendedores de cabelos, molhos de chaves e, pasmem! Carteira de documentos! Eu mesma levei mais de três horas para conseguir localizar alguém da "organização" com boa vontade o suficiente, para entregar uma carteira e um molho de chaves, nos quais pisei - em momentos diferentes (eram muitos objetos pelo chão) - quando entrei com dezenas de alunos sob minha responsabilidade e de mais oito colegas. Meus pés ainda agora sentem os pisões. Vi um fortão da brigada do corpo de bombeiros fazer cara de "não-sei-o-que-fazer enquanto tentava resolver um intempérie. Ora! É sabido que onde tem muita gente, poderá haver tumulto. Onde há atrações como Nicholas Sparks, por exemplo, pode haver tietagem exarcebada, então, deixar a coisa fluir como aconteceu, já é incompetência demais até para tirar um monge do sério... Isso, sem contar as praças de alimentação, num preço exorbitante e de qualidade suspeita, como pudemos observar nos lanches dos nossos alunos! E de fast foods renomados, aquecendo sanduíches "emborrachados" no micro-ondas. Ah! Povo brasileiro! Bendita a tua paciência e bom-humor!

Estive numa arena com uma autora que, ensaboada pelos holofotes dos quinze minutos de fama, argumentou: "Paguei caro pelo banner que fizeram para me promover e estou gorda e mal acabada na foto!" "Estou péssima!" (De fato, independente de ser mulher, e disso eu entendo bem, pois sou meio radical com minhas fotos, a coitada saiu um barril mal focado e com a beleza suave agredida pela disformidade). Afinal, começar a carreira satisfeita com a promoção era um direito - muito bem pago - que lhe cabia.

Enfim, após filas imensas e mal organizadas nos stands e muito mal estar por parte de alguns idosos e daqueles que lá estavam com crianças, até que havia um ou outro stand de editoras que oferecia preços mais acessíveis em alguns produtos... No mais, volto durante a semana, mais por obrigação pelo compromisso assumido, porque, prazer, este, nenhum. Hoje sou a decepção em pessoa. Nosso Rio de Janeiro, nossa cidade maravilhosa, coitada! Protótipo de desorganização, "(e)levando" a cultura a um nível mais baixo do que o já observado. Uma pena! Grande pena que, mais uma vez, o lucro fale mais alto e o povo (e convidados) tenha(m) que conviver com o desrespeito e falta de senso-comum.

Hoje digo que não fui à BIENAL. Sobrevivi à bienal!

Luzia Avellar
Enviado por Luzia Avellar em 01/09/2013
Reeditado em 01/09/2013
Código do texto: T4461771
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.