Vampirismo

A crença e a fantasia sobre vampiros não é uma peculiaridade deste século.
Vampiros sempre existiram no imaginário e há relatos de vampirismo antes mesmo da era cristã.
Envolto por uma atmosfera misteriosa, sedutora e de certa forma, até rebelde, o vampiro atrai por vários motivos. Um deles é a imortalidade, mas não a imortalidade comum, mas a caracterizada pela juventude e beleza eternas. O poder, em conjunto com a força e a riqueza são outros pontos que tornam o vampiro um dos seres mais atraentes no rol de celebridades míticas.
O poder de atração dos vampiros é tanto que eles já deixaram de ser retratados como seres das trevas e hoje ocupam um lugar de destaque na luta entre o bem e o mal.
O mal, representado pela parte demoníaca de sua existência cujo ápice é busca instintiva de sangue humano para saciar uma fome tipicamente “vampiresca” e o bem, descrito como a batalha para controlar este instinto devastador de matar e de encontrar formas menos cruéis de sobreviver.
Esta dualidade, representada nos vampiros atuais, leva a crer que há uma tendência de humanização destes seres, que passam a figurar como verdadeiros guerreiros que, mesmo vivendo em trevas, acreditam e buscam uma salvação para a alma já perdida.
O porque desta mudança profunda é de fácil compreensão e se deu principalmente por uma questão comercial.
O vampiro antigo é cruel, sanguinário, mortal, diabólico e um devoto das trevas. E isto, sinceramente além de não ter nada de romântico, não causa pavor a mais ninguém. Assim, ou o vampiro se recriava ou perdia espaço para criaturas mais pavorosas como alienígenas invasores, vírus mortais ou os eternos espíritos do mal que nunca saem de moda.

                      














Bem, vampiros bondosos à parte, a história traz alguns personagens muito marcantes e que serviram de base para a construção do que hoje conhecemos como os bebedores de sangue.
A grande questão é se vampiros realmente existem.
Existem. E falar deles é no mínimo instigante.
O vampiro mais famoso é o conde Drácula que ganhou fama a partir de 1897 com a publicação do romance de Bram Stoker.
Stoker, entretanto, não foi o criador do Drácula histórico, mas sim, o escritor que de posse de dados reais, romanceou a história e criou o personagem que hoje conhecemos.
O homem que está por trás do vampiro de todos os tempos, nasceu em 1431 na Transilvânia, morreu em 1476 e se chamava Vlad.
Princípe da Valáquia, uma província histórica da Romênia, Vlad ficou famoso devido a vários fatores, dentre eles, a aniquilação dos turcos infiéis, contrários à religião que ele professava.
Neste ponto não há novidade. Muitos nobres derramaram sangue infiel e se tornaram heróis. O que caracterizava Vlad, não era o fato de decepar a cabeça de seus inimigos, mas sim de derramar o sangue de quem quer que o afrontasse, com tal requinte de crueldade que em pouco tempo sua fama se espalhou.
Alemães, romenos, húngaros e tantos outros cristãos tiveram a infelicidade de morrer de formas horripilantes, dentre elas, a preferida de Vlad, a empalação.
Com estacas afiadas que podiam ser inseridas no ânus, no umbigo ou na garganta, Vlad, desenvolveu técnicas que permitiam o sangramento lento de forma a prolongar ao máximo a agonia de suas vítimas.
Esta forma peculiar de matar, rendeu a ele o apelido que o acompanharia vida afora: Vlad Tepes ou Vlad o empalador.
As vítimas empaladas eram dispostas em fileiras formando uma verdadeira floresta humana repleta de sons e gemidos de morte.
No meio dela, há registros e relatos de que Vlad pedia uma mesa e uma banco para descansar enquanto sorvia tranquilamente pequenos cálices de sangue recolhidos dos homens e mulheres que sangravam até a morte. Ele era, portanto, um bebedor de sangue humano e acreditava que o sangue dos inimigos lhe daria vigor a exemplo dos sangue dos gladiadores na Roma antiga.
Tido por muitos como um homem extremamente belo e viril, Vlad era um homem extremamente perigoso entre as mulheres tanto as nobres quanto as prostitutas de rua. Os casos mais famosos das atrocidades cometidas com suas amantes, traz a empalação e a extirpação dos órgãos sexuais de uma que o traiu e a barriga rasgada a faca de outra que afirmava estar grávida dele.
Como no romance de Bram Stoker, há rumores de que Vlad tenha tido um romance cujo fim foi trágico e só aumentou sua maldade e seu ódio contra
Deus, mas não há comprovação histórica disto.



O nome “Drácula” também vem da história familiar do Empalador, onde tanto pai como filho tinham como primeiro nome "Vlad".
O pai, em 1431, foi  investido pelo imperador romano Sigismundo em uma ordem semimonástica e semimilitar destinada a combater os turcos infiéis . Tal ordem era chamada ordem Dracul ou do Dragão.
Os nomes Dracul, assim como Dracole, Draculya, Dracol, Draculea, Draculios, Tracol são apelidos. Com a investidura, Vlad pai passou a ser conhecido como Vlad Dracul, ou Vlad da Ordem do Dragão. Mas Dracul também quer dizer “mal” e é muito provável que pelo histórico de crueldade dos Vlads, o Dragão do estandarte que portavam fosse visto pelos camponeses como algo diabólico e Vlad pai, o próprio demônio.
Drácula, na verdade nada mais é diminutivo de Dracul por ser o filho.
Quando Bram Stoker escreveu seu famoso romance poucos associaram o vampiro do livro ao Drácula histórico, isto porque apesar de Vlad ter tido certo reconhecimento em partes da Europa, jamais foi uma figura pública e obviamente acabou sendo ofuscado pelo vampiro do livro.
O fato é que o Drácula histórico até hoje é cultuado na Romênia cujo maior defensor foi o ditador Nicolae Ceausescu, retratado muitas vezes com longos caninos e descrito com traças de personalidade de Vlad.
Em 1976, por ocasião do quinto centenário da morte, Drácula foi comemorado com louvores, com direito a filmes, palestras e até um selo comemorativo pelos membros do partido comunista que o consideram um verdadeiro herói e negam suas atrocidades.
Eis a origem da lenda de Drácula que possui muito de história.

Há outros “vampiros” ou bebedores de sangue famosos ao longo da história:
- Peter Kürten (1883 - 1931), o famoso serial killer alemão que inspirou o filme 
“M., O Vampiro de Düsseldorf”;
 
- Elizabeth Bathory (1560 - 1614), também conhecida como "A condessa sangrenta" e "A condessa Drácula", que torturou, abusou, matou e usou o sangue de mais de 650 pessoas anos 54 anos em que viveu;
 
     

E por fim, Arnould Paul, é o caso mais documentado de vampiro que se conhece e está relacionado, aos ataques ocorridos na Europa no final do século XVII até meados do século XVIII, exigindo a intervenção do imperador austríaco e exumação de mais de 40 corpos em busca de evidência e de proteção contra o poderes de vampiro que foram atribuídos a ele.

Há inúmeras explicações para os vampiros acima. Desde deficiências químicas e nutricionais no organismo, a psicopatia e desequilíbrios mentais. O vampiro, aquele clássico interpretado por Christopher Lee e descrito por Bram Stoker, está presente em todos estes relatos mas não se encaixa integralmente em nenhum deles.
Portanto, até o presente momento, Drácula de capa vermelha, dentes afiados e que morde o pescoço da vítimas continua encerrado na ficção.

E da ficção passou à vida real de forma mais simpática e menos tenebrosa.
Nos últimos cinquenta anos, vários filmes sobre estes seres das trevas foram feitos. A maioria extremamente marcantes pela alusão diabólica.

 

 
No entanto, em 1967, Roman Polanski dá uma guinada neste universo de terror e lança “A Dança dos Vampiros”. Uma delícia de filme, onde um professor universitário, especialista em vampiros, juntamente com seu fiel discípulo, decidem ir até a Transilvânia para aprender sobre vampiros e combatê-los, mas nada acontece como imaginam e o filme se desenvolve em um misto de inusitado e comédia.

Uma nova faceta seria dados para estes seres demoníacos com o sucesso de “Entrevista com Vampiro”, de autoria de Anne Rice e tendo no elenco Tom Cruise e Brad Pitt.
Louis (Brad Pitt), é um vampiro transformado no século XVIII pelo malévolo Lestat (Tom Cruise) que adora sua condição imortal. Louis se acha condenado ao inferno e anseia pela morte como uma forma de absolvição.
Em “Entrevista com Vampiro”, ocorre a primeira crise existencial de um vampiro.

Por fim, temos a transformação total dos vampiros com a saga "Crepúsculo" onde o belo, educado, cavalheiro, gentil, frágil, apaixonado e tão perfeito que chega a enjoar, vampiro Edward Cullen, além de ser vegetariano pois não bebe sangue humano, tem características mais parecidas com um anjo do que com um ser tenebroso.

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A mudança é tão radical que o vampiro, este ser das trevas das inúmeras e brilhantes atuações de Christopher Lee, ao ter contato com o sol, morre. Já o vampiro protagonizado por Robert Pattinson, é tão bonzinho que brilha como se sua pele fosse feita de inúmeros diamantes.
Para muitos, esta mudança foi uma involução.

Teorias à parte, talvez o vampirismo físico, ao estilo Drácula não seja o mais tenebroso e nem o que causa mais medo.
Há que se ter receio mesmo é dos tais vampiros “psíquicos”, mas não estes descritos como “ladrões de aura” ou “invasores de pensamentos”, mas sim aqueles que convivem conosco, que estão presentes no dia a dia e estes são bem fáceis de detectar,
Os vampiros energéticos são seres muito simples e rapidamente se mostram: são as pessoas amarguradas, as pessimistas, as que só enxergam o lado ruim, as críticas e as amargas. São aquelas que não querem o bem, que cultuam a inveja e a difamação, são as infelizes e as que resmungam pelos cantos. São as que idolatram a matéria, que criticam as boas intenções e que minam as iniciativas. São as “seca pimenteira”, as de olho gordo as de língua solta sempre para o mal.
Estes sim, são vampiros violentos. Não sugam o sangue é fato. Mas a exemplo dos dementadores de “Harry Potter”, tão bem descritos pela autora R. K. Rowling, sugam a felicidade.

 
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O problema é que estes não têm glamour algum, muito pelo contrário, são sem graça, feios, macilentos e aí é que reside o perigo, por serem assim, até despertam a compaixão, mas o que eles querem mesmo é ver a tristeza, a descrença, a aniquilação.
No fundo, são bem parecidos com Dráculas que conhecemos, a única diferença talvez resida unicamente no fato de que estão vivos e circulam livremente entre nós. Às vezes com um sorriso, às vezes com dentes afiados prontos e dispostos a matar qualquer alegria.
Destes sim, é bom fugir. Sempre.
Quanto aos outros, nada que uma boa dose de alho e água benta ao bom e velho estilo dos irretocáveis filmes em preto e branco não resolva.


Imagens: google


 
Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 16/09/2013
Reeditado em 17/09/2013
Código do texto: T4484469
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