ANITTA, A MUSA ICNOCLASTA !

O Brasil, apesar de católico-evangélico-umbandista, é talvez o país com o maior substrato de cultura grega em seu inconsciente coletivo. Basta dar uma olhada não em nossa história oficial, mas nas estórias que ficam na memória seletiva do povo, para perceber que somos o país do culto as Musas. Divindades que segundo a mitologia grega presidiam as ciências e as artes. Foi assim com Nara Leão, a Musa da Bossa Nova; Bete Mendes, a Musa da Resistência à Ditadura; Elis Regina, a Musa da Anistia; Fafá de Belém, a Musa das Diretas Já. E hoje? Quem é a musa do momento? O que ela representa? Em tempos de pouca poesia fica difícil encontrar quem levante Bandeira, não é verdade? Mas eu carnavalizo. A nova Musa do Brasil é Anitta.

Anitta é a síntese antropofágica de Margot Fonteyn com sensualidade de Luz Del Fuego. Uma brasilidade que se reinventa, que não se deixa estagnar e o mais importante, nega-se à imortalidade.

Nestes tempos de tantos Pantaleões no Phanteon, Anitta vem pra se tornar Musa Icnoclasta. Vem para desfazer os paradigmas da chamada Cultura Popular Brasileira, desconstruir o mito sexista do Funk, provocar um vendaval de renovação com seus quadris. Seus olhos dizem à nós, os quarentões, que o nosso desbunde não passou de um traque mal dado: ainda somos os mesmos e vivemos com mais intransigência do que os nossos pais. Enfim veio para dizer que o sonho não acabou pra quem se dispõe a dançar com o novo...

Sei que logo aparecerão os defensores da moral e dos bons gostos dizendo que Anitta não tem voz... Ora, ora, ora Nara Leão, respondo! Sim, a voz é importante, mas não é ela quem faz o artista... E o The Voice Brasil já provou isto! Dirão talvez que Anitta é um produto, uma criação marqueteira... E daí? Eu pergunto. Carlos Imperial queria fazer da Elis Regina uma nova Cely Campelo, mas os deuses tinham outros planos... Sucesso, como dizia o velho e adorável reaça Nelson Rodrigues, é o povo quem faz... Como a maioria dos nossos críticos só conhece o povo através do Cidade Alerta... Cada um que faça suas escolhas...

Anitta não veio só para ser mais uma, seus olhos tem a incandescência das serpentes... Basta ouvir seu CD, ela começa com o show das poderosas e de repente está Zen. Sua pele muda e isto é arte!

Pra terminar, Anitta me lembra outra Anita, a Malffati. Pintora que há 100 anos semeou o modernismo no Brasil e foi cruelmente criticada por Monteiro Lobato... Mas de nada adiantou Anita Malfatti é a Musa do Modernismo brasileiro.

O novo assusta, sempre. E quando o novo vem da periferia, nossa mentalidade classe média estagnada em Flaubert não consegue enxergar que Madame Bovary agora iria ao baile funk ao invés de beber arsênio... Afinal viver é privilégio para quem é feliz mesmo na dor.

DEHOLAMBRA
Enviado por DEHOLAMBRA em 09/02/2014
Reeditado em 09/02/2014
Código do texto: T4684390
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