BEIJA-FLOR, SÉTIMO LUGAR: "Não Chore não, vovó, não chore não...”

“Freud explica.” É o que sempre se diz quando não se encontra uma explicação para determinados fatos. O sétimo lugar da Beija-flor de Nilópolis por exemplo. Como explicar de forma racional o que é emoção pura?

O sétimo lugar da Beija-flor é como chamar a mãe de alguém de vagabunda, a reflexão é o reflexo autômato do punho fechado no olho de quem falou. Podem existir Filhos da P..., mas nunca mães P....s. E a Beija-flor é a Deusa da Passarela... O Mito de Isis renascido na Nilópolis nos anos 70. Sei que falar nesta divindade corro o risco de ser interpretado como herege e até posto na fogueira das vaidades, mas como sou devoto de Savonarola e Giordano Bruno, vamos à prova dos nove.

Maravilhosa e soberana, a Beija-flor anunciou o tema de seu enredo: José Bonifácio de oliveira Sobrinho, o Boni da Globo. Os mais descrentes roeram as unhas. Dona Beija falando do cara que criou o Patrão Globo de Televisão era no mínimo assustador. Foi como se o Facebook se unisse a Microsolf. Porém, como já diziam as pretas velhas, sábias senhoras que cuidam do fuxico do samba, nem tudo que reluz é ouro. O homem da televisão não é obrigatoriamente um homem de carnaval. As Organizações Globo e a Beija-flor possuem linguagens diferentes e tentar unir as duas foi traumatizante... Não sabíamos se estávamos assistindo a um desfile de escola de samba ou a um show de equipamentos ultramodernos de telecomunicações... Perdeu a identidade, a Deusa da Passarela parecia uma periguete recém saída do BBB, deslumbrada com as luzes, ficou a gaguejar seu enredo: ora falava de história citando a babilônia – resquícios do que há melhor em sua identidade – ora falando de culinária: qual a relevância de se saber que o Boni gosta de bons vinhos ou que é amigo de chefs do mundo inteiro? Faltou a verve trintaniana e por isto deu Paulo Barros.

Joãosinho com este tema, teria feito um dos desfiles mais memoráveis da história. “Boni, o viajante das estrelas.” Ele teria transformado o homenageado na reencarnação de Galileu Galilei. Seria o mestre que viajou no tempo transformando a Idade das Trevas da TV brasileira no século das luzes... Assim como Galileu descobriu as estrelas, Boni teria descoberto a constelação global. Falaria até do vinho e das comidas, mas nas mesas dos reis que se encantavam com sua capacidade de vislumbrar o futuro. A tecnologia do final do desfile seria usada sim, mas não como ostentação – como ficou claro – mas como parte do enredo. A Beija-flor anunciaria a Idade Mídia, a era em que o homem busca uma nova forma de comunicação, a comunicação da alegria e isto o povo de Nilópolis tem e muito...

Mas não aconteceu... A Escola de Nilópolis não superou ainda o Complexo de Édipo e preferiu outros caminhos crendo que todos a levariam à vitória. Resultado: sétimo lugar.

Agora, a nós devotos da Deusa da Passarela, nilopolitanos ou não, só nos cabe cantar o refrão do samba-de-enredo de 77, Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egipiciana,

“ Não chore não vovó,

Não Chore não...

Veja quanta alegria

Dentro da recordação.”

DEHOLAMBRA
Enviado por DEHOLAMBRA em 06/03/2014
Reeditado em 11/03/2014
Código do texto: T4717853
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