AS MORTES DE BRUTUS E CASSIUS

Estimados leitores, a exemplo do que foi feito no artigo precedente acerca do assassinato de CÉSAR, vou apresentar, aqui, antes de qualquer coisa, algumas ponderações a respeito de BRUTUS e CASSIUS – os dois principais conspiradores e articuladores de um assassinamento que jamais será esquecido na História, enquanto no planeta Terra houver vida do ser humano.

MARCO JÚNIO BRUTO – mais conhecido pelo nome latino de BRUTUS (Roma 85-42 a.C.), que era militar e político, foi, juntamente com CÁSSIO, o principal conspirador do assassinato de CÉSAR, a 15 de março do ano 44 a.C., com vinte e três facadas.

Verdadeiramente, prezados leitores, houve um complot, um conluio para assassinar JÚLIO – e os autores, pelo que se vê do excerto a seguir transcrito, divergem, entre si, do número de conspiradores. “Nicolau de Damasceno dá como oitenta o número de assassinos, enquanto o historiador Suetônio, do século I, menciona sessenta. Plutarco fala de 23 ferimentos, o que sugere um grupo central, com muitos outros que não golpearam de fato. Desses conspiradores centrais são conhecidos os nomes de 19: Caio Cássio Longino, Marco Bruto, Públio Casca (que deu o primeiro golpe), Caio Casca, Tílio Címber, Caio Trebômio (que distraiu Marco Antônio durante o assassinato), Lúcio Mimúcio Basilo, Rúbrio Ruga, Marco Favônio, Marco Spúrio, Décimo Júnio Brutus Albino, Sérvio Sulpício Galba, Quinto Ligário, Lúcio Pella, Sextio Naso, Pôncio Aquila, Turúlio, Hortêncio, Bucoliano.” (Apud IGGULDEN, Conn, in O Imperador – Sangue dos Deuses; tradução de Alves Calado – 1. ed. – Rio de Janeiro: Record, 2014, v.5, p. 383).

Consoante já foi ressaltado no artigo anterior, CÉSAR tinha muito carinho pelos romanos e, especialmente, por BRUTUS, e a prova mais convincente disso é que ele, em seu testamento, além de haver deixado OTAVIANO como seu herdeiro e filho adotivo, por ser sangue do seu sangue, doou a cada cidadão de Roma 300 sestércios de suas posses, bem como 50 mil áureos a MARCO ANTÔNIO e igual quantia a MARCUS BRUTUS, pois que eram considerados seus amigos.

CAIO CÁSSIO LONGINO, ou, em latim, GAIUS CASSIUS LONGINUS (85 a. C. – outubro de 42 a.C.), foi, no início de sua carreira, proquestor e tribuno da plebe e pretor e, posteriormente, senador de Roma – e o principal agente na conspiração contra JÚLIO CÉSAR, juntamente com o seu cunhado BRUTUS, conforme já foi salientado. Pelo que se vê, ambos tinham a mesma idade e morreram aos 43 anos.

CASSIUS e BRUTUS – chefes dos assassinos que causaram a morte de JÚLIO, referiam-se a si mesmos e aos seus parceiros conspiradores como Liberatores (Libertadores) e, assim, a princípio, por um período curto, faziam uma comemoração pelo que aconteceu, mas isso tudo logo teve um fim, porque MARCO ANTÔNIO chegou ao poder e dirigiu a opinião pública contra todos, que, a pouco e pouco, foram separando-se e espalhando-se, por temor de uma vingança, que, em pouco tempo, tornou-se presente – o que fez com que os dois fugissem de Roma e se estabelecessem, respectivamente, na Síria e em Atenas, na Grécia, onde foram governadores e passaram a tramar contra sua pátria romana, notadamente quando esta passou a ser governada por um triunvirato – o segundo, formado por MARCO ANTÔNIO, OTÁVIO AUGUSTO e MARCO EMÍLIO LÉPIDO, general romano que lutou com CÉSAR na Gália.

Após saírem de Roma, depois do assassinato de CÉSAR, CASSIUS, consoante já foi ressaltado, instalou-se na Síria como governador, e BRUTUS, em Atenas, com o mesmo cargo, em cujos países arrebanharam, em conjunto, um exército mercenário de cerca de cem mil homens, para lutarem contra os legionários de MARCO ANTÔNIO e OTÁVIO AUGUSTO, em Filipos, na Macedônia. A cidade grega de Filipos, que, segundo os historiadores, pode ter recebido esse nome por causa do Rei FILIPE II da Macedônia, pai de ALEXANDRE, o Grande, foi escolhida por eles, para guerrearem, por ser um lugar estratégico, num morro alto quase inacessível pelo oeste, e a chegada pelo lado sul era protegida por um morro íngreme e um vasto pântano repleto de juncos e água parada. As chuvas haviam sido pesadas no inverno anterior e certamente o pântano era um obstáculo que nenhuma legião poderia atravessar. A Filipos, pois, era uma verdadeira fortaleza inexpugnável, para os exércitos romanos, devido à topografia do terreno, e isso deu muita dor de cabeça aos seus dois comandantes.

Em Filipos, houve duas batalhas – e, na primeira, o exército de BRUTUS enfrentou o de AUGUSTUS, que estava seriamente doente, abatido e derreado e, por isso, foi derrotado, enquanto o exército de CASSIUS encarou o de ANTÔNIO, que o venceu. Nessa primeira batalha, CASSIUS, sem saber da vitória de BRUTUS, deu tudo por perdido e, em face disso, ordenou a seu liberto PÍNDARO que o matasse, para não ser levado diante de soldados comuns, humilhado, visto que, segundo ele, havia vivido bem e derrubado um CÉSAR, e isso bastava. O garoto não o queria matar, mas ele insistiu em que o fizesse e disse-lhe que, quando terminasse, pegasse uma bolsa de moedas junto à sua capa e fugisse dali para o mais longe possível.

Para uma maior autenticidade dos últimos instantes de sua vida, vai ser transcrito, aqui, traduzido do latim por seus colaboradores, o que disse o autor, in verbis:

“Ele se empertigou diante do rapaz com a espada. Os dois olharam para cima ao ouvirem o som dos cascos se aproximando.

– Agora – ordenou Cássio. – Eles não devem me pegar.

– Quer se virar, Senhor? Não posso... – hesitou Píndaro, a voz embargada. Estava com a respiração ofegante quando Cássio concordou, sorrindo de novo.

– Claro. Depressa, então.Não me faça esperar.

Virou-se para uma janela que dava para o crepúsculo na cidade e respirou lenta e longamente, sentindo o cheiro de lavanda selvagem no ar. Levantou a cabeça, fechando os olhos. O primeiro golpe o derrubou de joelhos, e um gemido saiu de sua garganta cortada. Píndaro soluçou e girou a espada de novo, decepando a cabeça.” ( Apud IGGULDEN, Conn, op. cit., p.356)

A segunda batalha ocorreu a 23 de outubro de 42 a. C., quando AUGUSTUS se havia recuperado o suficiente para dela participar, e BRUTUS comandou suas forças (os dois exércitos de quase 90 mil homens) sozinho contra aquele e ANTÔNIO. Seu exército era maior do que POMPEU jamais havia comandado, ou SULA, MÁRIO ou CÉSAR. A batalha foi sangrenta, renhida e, nela, morreram cerca de 40 mil homens. Não suportava ele pensar no prazer presunçoso de MARCO ANTÔNIO ou na humilhação de ser apanhado por OTAVIANO, os quais lutaram juntos e derrotaram as legiões de BRUTUS, e, enquanto este recuava para as colinas cobertas de florestas acima de Filipos, levando quatro legiões castigadas, ANTÔNIO comandou a perseguição e cercou as forças exauridas do inimigo, que ficou sabendo que seus homens estavam pensando em se render aos comandantes dos exércitos adversos, antes que viessem atrás deles.

BRUTUS, por tudo isso, balançou a cabeça e descobriu que estava respirando mais profundamente, quando desembainhou a espada. Os homens ficaram olhando enquanto ele verificava a lâmina em busca de imperfeições, e quando levantou os olhos gargalhou ao ver a tristeza deles e assim se expressou e procedeu:

“– Vivi uma vida longa – disse ele. – E tenho amigos que quero ver de novo. Para mim isto é apenas mais um passo.

Encostou a ponta da lâmina no peito, segurando o cabo com ambas as mãos. Respirou uma última vez e depois se jogou para a frente, de modo que a espada penetrou entre as costelas, chegando até o coração. Os homens que estavam com ele se encolheram quando o metal se projetou às costas e a vida escapou como um suspiro.” ( Apud IGGULDEN, Conn, ob. cit., p.376)

MARCO ANTÔNIO, quando o encontrou, tratou o corpo dele com respeito e o cobriu com sua capa. OTAVIANO, porém, ao vê-lo, mandou que a cabeça dele, juntamente com a de CASSIUS e as de outros Liberatores que caíram no local, fosse cortada e levada a Roma num saco, a fim de todas serem jogadas aos pés da estátua de JÚLIO CÉSAR, para que todo o povo romano soubesse de suas promessas cumpridas, já que isso lhe dava uma alegria muito especial, com uma luminosidade interior que crescia, enquanto ele respirava o ar quente, porque, em verdade, não tinha tido descanso, com os Liberatores vivos a exibirem seus crimes brutais, como obras benéficas a todos, de “Salvadores da República”.

E tudo isso aconteceu, caros leitores, por causa da iniciativa incansável de um jovem que tinha cerca de 19 anos quando seu amigo, benfeitor e pai adotivo foi assassinado no ano 44 a. C., ao tempo que adotou, em sua homenagem, o nome de CAIUS JULIUS CAESAR OTAVIUS AUGUSTUS, e que nunca perdeu a esperança de que a Justiça, mesmo tardiamente, seria feita.

Biguaçu, 17 de abril de 2014.

Trogildo José Pereira

– advogado –

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Trogildo José Pereira
Enviado por Trogildo José Pereira em 16/04/2014
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