ANÍBAL, O PRÍNCIPE CARTAGINÊS DO ÓDIO

Será feito, aqui, caros leitores, um resumo dos principais acontecimentos dos sessenta e quatro (64) anos da vida do grande general cartaginês ANÍBAL, denominado pelos historiadores de “O PRÍNCIPE CARTAGINÊS DO ÓDIO” – e, também, de “O CONQUISTADOR.”

ANÍBAL BARCA (247-183 a. C.) era filho de AMÍLCAR BARCA e foi, certamente, o mais notável general e estadista cartaginês, que sempre procurou, com unhas e dentes, defender sua querida Cartago (cidade antiga da África e capital de um poderoso império, situada na costa mediterrânea, no lugar agora ocupado por Túnis).

ANÍBAL foi criado no ódio contra os romanos, e, por isso, resolveu aniquilar Roma, visto que, numa certa noite, o pai AMÍLCAR, segundo o imortal e saudoso escritor norte-americano HENRY THOMAS, em seu livro A História da Raça Humana – através da biografia, “cerca de cinco anos após a derrota infligida pelos romanos, levou seu filho, Aníbal, um menino de nove anos, ao Templo de Baal. Conduziu a criança diante da estátua de Moloch e fê-lo proferir um juramento solene, na presença do deus que se deleitava com as matanças humanas. Jurou que perseguiria os romanos com seu ódio, até a morte. Aníbal jamais esqueceu a promessa feita a seu pai e ao deus.”

ANÍBAL, em 221 a. C., com apenas vinte e seis (26) anos de idade, tornou-se chefe do seu exército, quando pacificou a Espanha e explorou-lhe as riquezas. Posteriormente, em 219 a. C., atacou Sagunto – aliada de Roma – e, assim, em 218 a. C., deu início à segunda guerra púnica (do latim punicus – que quer dizer cartaginês, ou, figuradamente, pérfido, desleal, traidor, mentiroso, enganador, traiçoeiro), a qual teve o seu começo nesta data e durou até 201 a. C., com uma duração, portanto, de dezessete (17) anos.

Conforme o escritor norte-americano STEVEN SAYLOR, em seu romance histórico Roma, ANÍBAL teria tido “um sonho sobre o futuro: um deus colocou-o nas costas de uma cobra gigantesca e ele cavalgou a cobra pela Terra, arrancando árvores e pedras enormes e provocando total destruição. Aníbal entendeu que o sonho significava que ele estava destinado a devastar a Itália inteira.”

Com o juramento de ódio aos romanos feito ao seu pai e ao seu deus e com fulcro no seu sonho acerca da cobra gigante, não titubeou ele em desencadear a segunda guerra púnica (218-201 a. C.), apoiado num forte exército, com o qual empreendeu, por terra, uma expedição que o levou da Espanha à Itália do sul, o que demonstrou, de modo evidente e cabal, o seu excepcional talento militar e de grande estrategista. Para esse feito, porém, teve ele de transpor os Pireneus e os Alpes, com seus magníficos elefantes, a fim bater os romanos em Tessino, na famosa batalha de Trébia (218 a. C.), onde, na travessia de um charco, repassado de cobras e insetos, foi picado no olho direito e dele ficou cego. Posteriormente, travou uma segunda batalha contra os romanos, em Trasimeno, em 217 a. C. – e uma terceira (batalha), em Canas, em 216 a. C., nas proximidades do rio Ofanto, na Itália – e em todas (nas três batalhas) saiu vencedor e, nelas, infernizou a vida dos romanos, que, em pouco tempo, acumularam três derrotas acachapantes e, assim, ficaram totalmente desnorteados. Nesta última batalha, os soldados romanos foram comandados por PAULO EMÍLIO e TERÊNCIO VARRO, que dispunham de mais de 80 mil homens, ao passo que os cartagineses de ANÍBAL somavam 40 mil (homens), com superioridade, porém, em cavalaria.

“A vitória de Aníbal em Canas foi avassaladora”, consoante relato de STEVEN SAYLOR, em seu já citado romance. “No segundo dia do mês de sextilis, mais de 70 mil romanos morreram e 10 mil foram feitos prisioneiros. Uns meros 3.500 escaparam, e muitos deles ficaram feridos. A magnitude da perda chegava muito além de qualquer coisa que os romanos jamais experimentaram.”

Em 211 a. C., ele tentou tomar Roma de surpresa, mas não conseguiu. Em verdade, não chegou a atacar a cidade de Roma com o seu exército, que estava esfalfado, com suas forças bastante debilitadas, em virtude das três aludidas batalhas – e isso o impediu de incendiar e destruir Roma, como era o seu desejo, e fez com que ficasse em Cápua, com a esperança de reforços, que não chegou a receber, por parte de seu irmão mais velho, de nome ASDRÚBAL, visto haver sido morto pelos romanos, em 207 a. C., na batalha de Metauro – e sua cabeça foi mandada de presente a ANÍBAL, dentro de um saco.

Em 203 a. C., ANÍBAL foi chamado a Cartago, na África – e, aí, em sua terra natal, travou a última batalha de sua vida contra os romanos e da segunda guerra púnica, ocorrida em 202 a. C., em Zama (localidade do norte da África, na Numídia) – e, por isso, ficou conhecida na História como a batalha de Zama. A referida batalha, segundo informes colhidos no Dicionário Enciclopédico Brasileiro Ilustrado (2º v.), foi uma das (batalhas) de “resultados mais completos da história militar, pois a derrota de Aníbal por Cipião, o Africano, tornou Cartago impotente e pôs fim à luta entre Roma e Cartago pelo domínio do Mediterrâneo, dando à primeira o controle completo daquele mar, o que permitiu a futura expansão latina. Aníbal contava com 60.000 homens e Cipíão com um número ligeiramente inferior. Engajadas as reservas de infantaria de ambos os lados, a cavalaria romana decidiu o encontro com um ataque à retaguarda cartaginesa. Derrotado, Aníbal retirou-se para Cartago, não sendo perseguido talvez por não ter Cipião forças suficientes para um sítio prolongado da praça.”

ANÍBAL, pelo que se vê, caros leitores, em dezesseis (16) anos de guerra, nunca havia perdido uma só batalha contra Roma. Desta ganhou as três (batalhas) já ressaltadas – e perdeu a última, a de Zama, em que houve o confronto de dois dos mais famosos generais de todos os tempos, comandando os dois exércitos mais poderosos do mundo, da época: de um lado, o grande ANÍBAL BARCA, o Príncipe Cartaginês do Ódio – e, de outro (lado), o notável PÚBLIO CORNÉLIO CIPIÃO, cognominado, desde então, para sempre, de o Africano – o Conquistador da África, que fez com que Cartago fosse reduzida a estado vassalo, ou, por outras palavras, ficou reduzida a pouco mais do que um estado cliente de Roma - e isso fez com que esta surgisse mais forte do que nunca, uma potência com porte para rivalizar com os fabulosos egípcios ou com os persas no auge de seus impérios.

Após alguns anos da batalha de Zama, CIPIÃO foi a Éfeso (antiga cidade jônica da Grécia) e, por acaso, soube que ANÍBAL também estava lá, e conseguiu encontrar-se com ele, com quem conversou por algum tempo – e esse fato foi, posteriormente, comentado com PLAUTO, patrício romano, que, conforme STEVEN SAYLOR, em sua já citada obra, teve o seguinte diálogo com CIPIÃO: “– Sobre o quê vocês dois conversaram? – perguntou Plauto. – Várias coisas. A certa altura, perguntei que general, na opinião dele, era o maior de todos os tempos. – Uma pergunta que sugere uma determinada resposta! – disse Plauto. – Qual foi a resposta dele? – ‘Alexandre’, respondeu Aníbal. E que comandante ele colocaria em segundo lugar? ‘Pirro’, disse ele. E em terceiro? ‘Eu!’, declarou Aníbal. Ora, eu tive que cair na gargalhada. Perguntei: ‘E onde você ficaria se tivesse me derrotado?’ Aníbal me encarou e respondeu: ‘Nesse caso, eu me colocaria na frente de Pirro e até mesmo na frente de Alexandre; na verdade, na frente de todos os outros generais que já existiram!’ Plauto deu uma palmada no próprio joelho. – Ultrajante! Realmente, eu jamais poderia inventar uma fala como essa, ou um personagem como Aníbal . – Isso é lisonja cartaginesa, não percebe? – disse Cipião. – Tortuosa e indireta. Mas... mesmo assim, fiquei lisonjeado. – Ele suspirou. – Um dia, não tenho dúvida, Aníbal será assassinado, ou então levado ao suicídio. Não por mim, é claro, mas por aqueles que vierem depois de mim.”

A verdade é que CIPIÃO não errou na sua suposição, caros leitores, visto que ANÍBAL foi denunciado aos romanos por seus inimigos políticos, fugiu para o Oriente e serviu a ANTÍOCO, o Grande, rei da Síria, e a PRÚSIAS I, rei da Bitínia, com serviços contra Roma. Depois, por suspeitar que este o entregaria aos romanos, suicidou-se, ingerindo veneno, para escapar aos romanos. Antes de morrer, no entanto, ditou a um escriba suas últimas palavras, as quais, segundo STEVEN SAYLOR, foram as seguintes: “Ponhamos um fim, agora, à grande angústia dos romanos , que acharam uma tarefa muito demorada e muito pesada esperar que um velho odiado morresse.”

Biguaçu, 07 de outubro de 2014.

Trogildo José Pereira

- advogado -

Trogildo José Pereira
Enviado por Trogildo José Pereira em 07/10/2014
Reeditado em 31/10/2014
Código do texto: T4990651
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