A NORDESTINIDADE DE UM MITO

A vida e a obra de um dos maiores artistas populares brasileiros, no centenário de seu nascimento.

Há exatos cem anos nascia em Pernambuco, no município de Exu, Luiz Gonzaga do Nascimento, o eterno rei do baião. Com uma vocação precoce para a música, desde sua infância ele já namorava o fole de oito baixos de seu “Pai Januário”, no qual iniciou os seus primeiros acordes. E não parou por aí.

Saiu de casa em 1930 para servir o exército como voluntário. Depois de longa temporada no serviço militar, viajando por todo o Brasil, resolveu ficar pelo Rio de Janeiro. Em 1939, com uma sanfona recém-comprada, passou a se apresentar em ruas e bares, tocando boleros, valsas e tangos. Porém, tão logo percebeu a carência que os migrantes nordestinos tinham de ouvir sua própria música, passou a tocar, com enorme sucesso, xaxados, baiões, chamegos e cocos. Seu talento como compositor só veio mais tarde.

Em 1943, apresentou-se vestido a caráter como nordestino, em um programa de rádio, tendo bastante êxito. Seu maior sucesso, "Asa Branca" (com Humberto Teixeira), foi gravado em 1947 e regravado inúmeras vezes por diversos artistas. Luiz Gonzaga, no decorrer de vários anos, foi o maior responsável pela divulgação da música nordestina no resto do Brasil, sendo o primeiro músico a assumir sem preconceito a sua nordestinidade, as raízes de sua terra, representados pela sanfona, pelo chapéu de couro à moda do cangaceiro e o gibão do vaqueiro nordestino.

Em 50 anos de carreira, nunca perdeu o seu prestígio, apesar de haver se distanciado do palco por várias vezes. Com a ascensão da Bossa Nova, afastou-se dos grandes centros e passou a se apresentar em cidades do interior, onde continuava muito popular. Chegou a tocar até em Paris, em 1985, ganhando o prêmio Shell de música popular em 1987.

Quando morreu, em agosto de 1989, já tinha uma carreira consolidada e bastante reconhecida. Luiz Gonzaga representava a alma do povo nordestino, levando o seu som agreste e típico para além de nossas fronteiras. Cantando a sua própria história, as dores e amores de um povo que não tinha voz, fazia isso com muita simplicidade. A música brasileira só tem que agradecer.

“Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão; que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor”.

Uma curiosidade sobre Luiz Gonzaga: Ao longo de sua carreira ele compôs em torno de 25 músicas retratando o nome da Paraíba. Quem nunca ouviu falar de “Paraíba masculina, muié macho, sim senhô?” Apesar de ser pernambucano, não escondia o seu amor pelo nosso estado. Teve ainda participação direta e indireta em 19 filmes, entre os quais, um estrangeiro.

TEXTO PRODUZIDO PARA MAIS UMA REVISTA ACADÊMICA DO MEU CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, UEPB, A QUAL FICOU APENAS NA IDEIA.

Paulo Seixas, abril/2012