Definição de cultura

A definição de cultura passa por diversas dimensões de consciência formada por um processo de percepção do que pode ser posto em prática na formação da arte, assim como o surgimento de seu público-alvo. O alvo da cultura é distinto e separado, de modo geral, em camada erudita e de massa, cujos produtos culturais típicos designariam como e para que a cultura seria feita.
Carlos Nelson Coutinho alega que o ponto crucial a ser debatido seria “a questão dos intelectuais e da relação deles com os mecanismos de reprodução cultural da realidade”. Logo, como também afirma T.S. Eliot, para se achar uma definição de cultura deve-se ater à relação entre indivíduo, classe e sociedade tendo em vista há aí uma relação de dependência para a formação de cada um desses termos, que traduzem em civilização. Nesse sentido, pode-se afirmar que o indivíduo forma a cultura e vice-versa e, segundo um caráter marxista de Schwarz, este individuo deveria trabalhar no campo ideológico, já que a cultura deveria ser definida por meio das crenças que forma um grupo e o homem em si.
Observar a hegemonia da cultura seria definir os modos como é usada através de sua evolução durante o processo de desenvolvimento civilizatório através do qual se percebe sensibilidade artística ou estética individual ou social. É perceber também como ocorreram as mudanças culturais ao longo do tempo e definir o presente como marco de transferência de culturas, a partir do eurocentrismo, entre o centro e a margem sociais. Montaigne, por exemplo destaca não apenas a relação entre o que sempre foi centro e as minorias, mas lança o olhar o que está no entorno do próprio contexto local para declarar que essa diversidade cultura é em si mesma pertinente a dignidade humana.
Deste modo, é visto como ocorreu e ainda ocorre a tensão entre liberdade e segurança quando duas culturas – dois modos de ver o outro, a alteridade do ser- entram em choque. Assim, definiu Montaigne em seu ensaio Dos canibais: o europeu tentava colonizar o índio, cuja cultura lhe parecia estranha. E isso se deu também no Brasil dos anos 1960, época em que a cultura e a contracultura entraram em choque, principalmente após a promulgação do A.I.5 (que derrubava algumas práticas culturais): esse impasse civilizatório objetivava modernizar o país, no entanto causa uma “modernização” como processo induzido apenas para remover os arcaísmos que assolavam o país, como a fome. Neste caso, a produção e reflexão cultural passaram por um discurso arcaico que mostra os latino-americanos como o “bárbaro” que está sempre longe da questão cultural nunca atingida por aqueles, cuja fome acaba sendo estética para produção artística. No entanto, a reflexão dessa fome causa incompreensões - para aqueles que a sentem - e uma situação surrealista para o europeu. O que era ocidental acabava se incorporando suas representações com ideais e valores próprios, ação cujo resultado tornou possível a orientalização dentro do ocidente. T.S. Eliot afirma na seguinte passagem:
A medida que a sociedade se desenvolve rumo a uma complexidade e diferenciação funcionais, cabe esperar a emergência de diversos níveis culturais: em suma, apresentar-se-á a cultura de classe ou de grupo. Não será questionado, penso eu, que em qualquer sociedade futura, assim como toda sociedade civilizada do passado, deve haver esses níveis diferentes. [...] O que é pertinente nesse ponto é que o surgimento de grupos mais cultos não deixa de afetar o resto da sociedade: é ele mesmo parte de um processo em que toda a sociedade muda.
A cultura está em desenvolvimento progressivo ao longo do tempo e, assim, deve-se atentar ao que ocorre durante esse avanço e não afirmar que uma cultura é mais desenvolvida que a outra por motivos de estética, mas perceber que as mudanças existentes ocorrem por motivos vários dependendo da sociedade e cada uma possui um grau de “avanço”. E sobre isso se pode afirmar em relação ao modo como cada grupo, classe e indivíduo age para a formação cultural, podendo partir de um dualismo: a sociedade que se forma através da arte oral ou da arte de leitura. Logo, Eliot afirma que “[...] entender a cultua é entender o povo, e isso significa uma compreensão imaginativa. Tal compreensão nunca pode ser completa: ou é abstrata – e a essência escapa – ou então é vivida”. É necessário saber que o surgimento de uma classe mais culta não é permite afirmar que as outras não tenham seus próprios valores, visto que cada grupo, classe ou sociedade apresenta pensamentos próprios que vão sendo descartados em virtude da criação de novos, ou seja, “[...] não podemos esperar ter todos os estágios de desenvolvimento ao mesmo tempo; que uma civilização não pode produzir simultaneamente uma grande poesia popular num nível cultural e o Paraíso Perdido no outro”.
O olhar deve estar atento aos modos de uso da cultura os quais ocorrem por de uma evolução, cujo resultado seria o acúmulo de conhecimento do passado e isso geraria certa expectativa para o presente no sentido de ver como a cultura estaria constituída e averiguar a que parte da sociedade – qual classe - a cultura estaria à disposição, no sentido de definir os sistemas que regem a construção dos costumes do povo.
Ricardo Miranda Filho
Enviado por Ricardo Miranda Filho em 13/05/2015
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