NHEENGATU

O nheengatu é uma língua da família tupi que se originou, com o passar do tempo, das vertentes civilizatórias da Amazônia ainda no período colonial, a partir evolução da Língua Geral (tupi colonial ou tupinambá) falada a princípio no Maranhão no século XVI, com empréstimos vocabulares da língua portuguesa falada no Brasil. A palavra nheengatu vem do tupi “nhe’engatu” (língua boa). No Brasil, o tupi falado apresentava poucas diferenças regionais.

Considerada uma língua de conquista e ocupação, o nheengatu nunca foi uma língua pertencente a uma determinada etnia e sim, uma língua surgida pelo uso dos caboclos falantes da Língua Geral, uma língua destribalizada, com empréstimos de vocábulos e sintaxe tanto do português como do tupi que evoluiu ao longo de dois séculos de contatos.

Discordo quando dizem que o nheengatu é uma compilação feita pelos jesuítas, porque é sabido que o nheengatu surgiu do tupinambá falado no estado do Maranhão e que com o tempo foi sofrendo influência do português falado pelos “cabocos” nordestinos e amazônicos. É uma língua moderna e o seu surgimento é semelhante ao surgimento do afrikaans (africanês) da África do Sul, outra língua moderna que surgiu de fusão de línguas, no caso o inglês, holandês e línguas do sul da África.

Como diz o professor Luiz Carlos Borges (UERJ), o nheengatu é uma língua natural, fruto da evolução da língua tupinambá.

Como “língua geral” tem sido utilizada por índios de outros troncos linguísticos para a comunicação em comum, pelos próprios falantes de português para se comunicarem com falantes de outras línguas indígenas, inclusive por nações indígenas que, por muitos motivos perderam com o passar do tempo suas línguas, referências e suas culturas. O nheengatu tem sido a “língua franca”, um tupi moderno que se espalhou gradativamente por todas as populações ribeirinhas da Região Amazônica, principalmente entre os “cabocos”.

O termo “nhe’engatu” (língua boa) já existia na língua brasílica como um antônimo da palavra “nhe’engaíba” (má língua), que representava todos os idiomas dos povos não tupis, que os colonizadores denominavam “tapuias”.

A primeira documentação sobre o nheengatu data do século XVII. Inicialmente a área de abrangência do nheengatu (sécs. XVI a XVIII) originalmente ia do Maranhão e Pará até áreas fronteiriças da Venezuela, Colômbia e Peru. Com a chegada de nordestinos à Amazônia o nheengatu foi perdendo espaço para o português como língua geral e o nheengatu foi ficando confinado às áreas do Rio Negro e áreas fronteiriças com países vizinhos.

No período colonial, o Marquês de Pombal, diretamente de Lisboa, decretou a proibição do uso das línguas indígenas como línguas brasileiras, principalmente o tupi e o nheengatu. Mas, a reforma do Marquês de Pombal não foi capaz de destruir o nheengatu, que se espalhou pela Amazônia até atingir a região do Rio Negro onde estacionou e começou a se expandir como língua de comunidades ribeirinhas.

Entre os séculos XVII e XVIII, o nheengatu permaneceu como língua predominante na Amazônia, enquanto que o português era apenas a língua da administração. Porém, a partir de 1750, o Marquês de Pombal implementou uma política do ensino do português e esquecimento do nheengatu, que para ele deveria ser erradicado. Apesar da proibição, o nheengatu conseguiu se enraizar nas comunidades mais afastadas e resistiu ao aportuguesamento.

Com o advento da República, o nheengatu, língua da rebeldia dos cabocos da região volta a se expandir.

Entre os anos de 1934 e 1840 houve na Amazônia um movimento revoltoso contra a autoridade governamental conhecido como Cabanagem. Naqueles anos, os nativos da região, falantes de nheengatu, expressaram a sua profunda revolta contra o autoritarismo do governo que queria impor regras impossíveis de ser cumpridas, e a hegemonia da língua portuguesa.

No Maranhão o nheengatu foi utilizado até meados de 1850 onde ainda era falado em São Luís. Em Belém, capital do Estado do Pará foi falado até meados de 1900. O nheengatu ainda aparece na literatura, após o ano de 1850.

Devido à distância entre os estados Amazônicos (Maranhão, Pará, Amapá, Acre, Rondônia, Roraima), o nheengatu se conservou, tornando-se a “língua geral da Amazônia”, existindo até hoje. O nheengatu foi adotado como uma língua geral, servindo de elo para diversificados grupos étnicos e linguísticos.

O nheengatu volta a se fortalecer como símbolo de identidade dos povos da Amazônia como é o caso do povo Baré, originalmente falante de língua do grupo Aruak, que por motivo da intolerância sofreu por parte dos colonizadores e perdeu a sua identidade linguística tornando-se falante do nheengatu, língua dos “cabocos” ribeirinhos (do Rio Negro e adjacências). O nheengatu também é a língua dos povos Baniwa e Werekena.

Dessa forma, as línguas tupi (tupinambá) e tupi moderno (nheengatu) contribuíram para a unidade política da América Portuguesa, a despeito da diversidade política da América Espanhola.

No ano de 2002, no Município de São Gabriel da Cachoeira, situado no extremo noroeste do estado do Amazonas, região conhecida como “Yaguarakanga” (Cabeça de Cachorro) surgiu o primeiro impulso de oficialização de línguas indígenas do país. Por propostas de organizações indígenas da região e por constatação de que a maioria da população do município é constituída por índios, a Secretaria de Educação do Município oficializou as línguas nheengatu, tukano, baniwa e solicitou a ajuda da ONG IPOL – Instituto de Investigação em Política Lingüística, de Santa Catarina, para que esse projeto fosse concretizado.

Para estudo da língua, o Padre Afonso Casasnovas, publicou no ano 2000, em Manaus o livro “Noções de Língua Geral ou Nheengatu”, e no ano de 2011, o professor Eduardo de Almeida Navarro, publicou o seu Curso de Língua Geral (nheengatu ou tupi moderno) – a língua das origens da civilização amazônica.

Jose Bahiana
Enviado por Jose Bahiana em 23/11/2015
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