LEMBRANÇAS DO NOSSO REISADO

(*) Edimar Luz

O reisado, que também é uma das múltiplas manifestações folclóricas que compõem nosso espaço cultural, teve origem nas festas portuguesas denominadas janeiras, que aqui em nosso país se celebravam e se festejavam ativamente até o final do século XlX, desde o Natal até o Carnaval. Hoje, até o dia 6 de janeiro, Dia dos Santos Reis.

Como sabemos, reisado é uma dança dramática tradicional que consiste na adaptação coreográfica de romances e cantigas populares, com versos religiosos ou humorísticos em louvor dos Reis Magos, e, por isso, executada por grupos que cantam e dançam, sobretudo na véspera e no Dia de Reis, 6 de janeiro, tendo como acompanhamento instrumental, uma sanfona ou harmônica, zabumba etc., que animam/alegram as toadas dos reisados.

Convém esclarecer que este folguedo tradicional e de grande aceitação popular, e que, na realidade, também faz parte da nossa cultura, encontra-se, hoje, praticamente desaparecido e relegado ao esquecimento, em virtude de alguns fatores, entre os quais podemos citar: a falta de incentivo e principalmente a inexistência de interesse e de empenho das gerações mais jovens; e também as próprias vicissitudes que o tempo inevitavelmente proporciona às sociedades humanas.

O reisado de Ipueiras era composto por um tocador de sanfona, ou harmônica, três caretas, grupos de galantes, damas, o lacaio, a burrinha... E o chamado “boi do reis”, que era representado de um modo geral por uma armação leve, recoberta de pano colorido e animada por um homem ágil que ficava em seu bojo durante a apresentação. Quero lembrar, inclusive, que o meu pai, que era agropecuarista, também foi por certo tempo, nas horas vagas e de descanso, ou em fins de semana, um dos integrantes do grupo de reisado do bairro Ipueiras, na condição de tocador de harmônica, uma pequena sanfona de oito baixos, instrumento este também chamado aqui, de sanfona pé de bode. Aliás, todos os componentes do nosso reisado, eram membros da nossa família: Luz, Araújo, Moura...

Na verdade, desde criança, tive a oportunidade e o prazer de assistir a várias apresentações do nosso grupo de Reisado, aqui mesmo no bairro Ipueiras, naquelas alegres e saudosas noites folclóricas do passado; e principalmente nas inesquecíveis e saudosas noites, na chamada Noite de Reis, assim como no Dia de Reis. Desde então pude verificar e constatar in loco a beleza e a importância das manifestações culturais de um povo, sobretudo quando dotadas e impregnadas de originalidade e/ou autenticidade, numa consonância quase indescritível.

Numa noite dos meados da década de 70, o Reisado do bairro Ipueiras fez uma bela e memorável apresentação também no Campus Avançados/Projeto Rondon, no bairro Junco, para o encanto e admiração dos universitários e universitárias goianas integrantes do projeto Rondon, em Picos. Lembro também que não paravam de fotografar, a todo instante tiravam fotos do Reisado; o flash das máquinas fotográficas misturava-se à luminosidade ambiental e ao brilho do reisado. E eu estava lá em meio ao público, assistindo àquele animado e belo espetáculo. E no centro de Picos, em dezembro de 1990, durante as festividades comemorativas do centenário da cidade, o nosso Reisado de Ipueiras, sob os aplausos do público presente, fez uma brilhante e inesquecível apresentação. E em julho de 1992 na Semana Cultural de Santa Cruz do Piauí; e em Teresina, capital do estado, em meados da década de 1990.

Convém esclarecer aqui, que é de capital importância a preservação da nossa cultura popular. Para isso, necessitamos do empenho e da colaboração de todos, para que possamos manter e perpetuar a história do nosso povo.

(*) Edimar Luz

Escritor/cronista, poeta, articulista, compositor, professor e sociólogo, formado em Recife.

Picos, 24 de maio de 2000.

Edimar Luz
Enviado por Edimar Luz em 28/01/2016
Reeditado em 28/01/2016
Código do texto: T5526209
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