RIO-GRANDENSES E GAÚCHOS

RIO-GRANDENSES E GAÚCHOS

Embora muitos julguem que são sinônimos, na verdade é salutar que se identifique os componentes antropossociológicos do rio-grandense e do gaúcho. Nem todo gaúcho é rio-grandense, pois existem “gaúchos” em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás etc. Assim como nem todo aquele que nasce no Rio Grande do Sul é gaúcho. O termo gaúcho (do gau-tchê ou gáu-tcho) se aplica àqueles que desenvolvem costumes gaúchos, independente de onde vivam ou tenham nascido. Igualmente, constatando-se alguns hábitos cosmopolitas, observa-se que muitos rio-grandenses do sul, por suas características urbanas, não são gaúchos, não têm o hábito, por exemplo, do chimarrão, da vaquejada, etc.

Tem gente que mora aqui e não toma chimarrão, não gosta de uma costela gorda assada na brasa e muito menos se dispõe a escutar uma música nativista que lembra fronteira, as missões, o cheiro do mato ou o som do berro do gado. Não pode ganhar o título de gaúcho aquele ou aquela que tem vergonha de usar uma “pilcha” ou um colorido “vestido de prenda”.

Nascido em Porto Alegre, inserto naquela legítima cultura urbana rio-grandense eu sempre escutei que tomar chimarrão e andar de bombacha era “coisa de grosso”, de gente de fora. Só quando fui trabalhar no interior (Jaguari, 1966) que fui aprender a tomar chimarrão, hábito que cultivo até hoje. Embora ali tenha pertencido à diretoria do CTG, só fui aderir à bombacha em 1986, quando fui morar em Cruz Alta.

Os movimentos tradicionalistas e nativistas visaram sempre um reavivamento da história, mais pela música, danças e costumes do que pela cultura como um todo. Sobre isso, Barbosa Lessa teria dito que “o tradicionalismo é uma recriação idealizada das realidades campeiras”. Como disse o poeta Manoelito de Ornellas, “o gaúcho sente saudade de seu ambiente natural, de onde, por necessidade de sobrevivência, foi arrancado...”.

Sob esses enfoques não é difícil constatar que o CTG, como realidade física, o galpão espaçoso, em cujo ambiente sempre há festa, alegria, comida farta e calor humano é a recriação utópica da sociedade campeira, que na maioria das vezes nunca existiu.

A visão antropológica nos revela que o gaúcho foi forjado num ambiente hostil, meio sem pátria, esquecido por Portugal e rejeitado pela Espanha. Antes de aparecerem os rio-grandenses já existiam gaúchos, cavalgando com os índios pelas coxilhas... Por isso os outros brasileiros não entendem o fato de sermos mais gaúchos antes de brasileiros.

Há tempos eu ouvi dizer que não conhece o Rio Grande quem nunca foi a Uruguaiana ou não percorreu aquele eixo xucro do gauchismo que vai de São Gabriel na direção da fronteira, passando pelo Rosário e o Alegrete até a “Terra das Califórnias”. Por isso repito: não é gaúcho quem não toma chimarrão, não veste uma pilcha, não gosta de uma costela gorda e nunca foi a Uruguaiana.