Suicídio virtual e real

Por Gustavo Pilizari

Jornalista Mestre

gustavopilizari@gmail.com

Cometer suicídio por causa de coisas “virtuais” (Jogos ou Redes Sociais) é o mesmo se fosse por causas “reais”?

- Sim, a mesma coisa!

Imagine, mundo virtual é uma coisa e mundo real é outra coisa!

- Ahhhh? O quê?

- O cérebro não entende o que é real e virtual, quando algo ocorre, ocorre em nosso cérebro e não numa pedra.

Ah, é mentira isso!

- Bom, se você pensar em se alimentar, em férias, em sexo ou em um limão sendo chupado, conexões cerebrais e secreções químicas serão gatilhos para envolver você em tais pensamentos, este processo vai produzir relaxamento e sensação de bem estar na mesma hora.

Ah, mas é só “pensamento”, não é “real”!

- De fato existe uma concretude (objetos ao nosso redor – aliás, muitos destes objetos só existem porque foram criados a partir de ideias humanas), e um campo virtual (que seria o pensamento); todavia, tudo ocorre na mente antes de ocorrer num sistema concreto. Eu tenho a “outra pessoa” apenas como ideia, nunca tenho o outro como carne e osso. Quando sinto o toque e o abraço de alguém eu tenho, neste momento, mais lembranças da ideia de alegria anteriormente formatadas do que o próprio toque. O toque, o sorriso ou o choro apenas vai me remeter a uma ideia passada de satisfação. Se fosse assim, qualquer pessoa seria importante para acabar com nossos problemas de relacionamento, de paixões e amizades; mas não é assim que funciona – o outro é um processo de criação em minha mente. A Internet tem sido um fabuloso gatilho (por vezes mortal) para a criação de incríveis personagens quando sabemos que o ser humano é incompleto e precisa se preencher com algo maior que ele!

Quando você come, você se satisfaz de forma real (enche a barriga); todavia, seu cérebro também pode ser reprogramado para esquecer a fome imediatamente (imagine uma bomba perto de você – você vai correr rapidamente e esquecer a fome pelas próximas horas), ou fazer com que você coma mais que o necessário (ansiedade: uma nova oportunidade profissional). Mais que o alimento em sí, temos uma complexa rede de informações passando em nosso campo visível e no campo mental. Estes fatores podem acabar com sua fome na hora ou fazer você despencar numa comilança...

Tal pessoa cometeu suicídio porque separou do amor da sua vida!

Vejamos: qual a materialidade, a concretude real do sentimento “paixão”? A paixão é um campo simbólico, regada com conexões de prazer, repetições e discursos de desejo. Logo, podemos perceber que não é só um terremoto que pode matar (pois existe numa realidade), mas todo nosso discurso imaginário sobre as coisas. Real e Virtual são coisas semelhantes, pois tudo ocorre no cérebro. O mesmo vale para o campo virtual da internet: é tão real quanto nossas amizades “reais”, pois estamos conectados pela mesma forma que o ser humano criou para se comunicar: discursos e pensamentos a partir de discursos.

Gus Pilizari
Enviado por Gus Pilizari em 17/10/2016
Reeditado em 17/10/2016
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