Do Império à República

Do Império a República...

Surtiu efetivas mudanças no mundo escolar? Por que a escola e os alunos estão como estão?

No seu sentido mais amplo, educação significa o meio em que os hábitos, costumes e valores de uma comunidade são transferidos de uma geração para a geração seguinte. A educação vai se desenvolvendo através de situações presenciadas e experiências vividas por cada indivíduo ao longo da sua vida. Esse conceito engloba o nível de cortesia, delicadeza e civilidade demonstrada por um indivíduo e a sua capacidade de socialização.

Educação (do latim educations) no sentido formal é todo o processo contínuo de formação e ensino aprendizagem que faz parte do currículo dos estabelecimentos oficializados de ensino, sejam eles públicos ou privados.

No Brasil, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases, a Educação divide-se em dois níveis, a educação básica e o ensino superior. A educação básica compreende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio e o ensino superior compreende o ensino universitário.

No processo educativo em estabelecimentos de ensino, os conhecimentos e habilidades são transferidos para as crianças, jovens e adultos sempre com o objetivo desenvolver o raciocínio dos alunos, ensinar a pensar sobre diferentes problemas, auxiliar no crescimento intelectual e na formação de cidadãos capazes de gerar transformações positivas na sociedade.

Porém, será que esse conceito de educação é implantado nas escolas? Será que o governo brasileiro tem a noção do que realmente significa educar ou aprender?

Desde a primeira constituição brasileira que foi a de 1824 a educação já não é englobada a todas as pessoas, o que continha na constituição era: “A instrução primária é gratuita para todos os cidadãos.” Mas nem todos eram considerados cidadãos e ai já se inicia o processo de exclusão de uma boa parte da sociedade. Estava na Constituição:

“Art. 6. São Cidadãos Brasileiros

I. Os que no Brasil tiverem nascido, quer sejam ingênuos, ou libertos, ainda que o pai seja estrangeiro, uma vez que este não resida por serviço de sua Nação.

II. Os filhos de pai Brasileiro, e Os ilegítimos de mãe Brasileira, nascidos em país estrangeiro, que vierem estabelecer domicilio no Império.

III. Os filhos de pai Brasileiro, que estivesse em país estrangeiro em serviço do Império, embora eles não venham estabelecer domicilio no Brasil.

IV. Todos os nascidos em Portugal, e suas Possessões, que sendo já residentes no Brasil na época, em que se proclamou a Independência nas Províncias, onde habitavam, aderiram á esta expressa, ou tacitamente pela continuação da sua residência.

V. Os estrangeiros naturalizados, qualquer que seja a sua Religião. A Lei determinará as qualidades precisas, para se obter Carta de naturalização.”

As escolas existentes no Império eram carentes de edifícios, livros didáticos e mobiliário, precária em pessoal docente qualificado para o ensino de crianças e distante dos modernos métodos pedagógicos.

Com o fim do regime monárquico e tomada do poder pelos republicanos iniciou um processo de repensar e esboçar uma nova escola que atendesse os ideais que tinham como objetivo construir uma nova nação baseada em hipóteses civilizatórias europeizantes que tinha na escolarização do povo analfabeto um de seus pilares de sustentação. Agora era necessário se pensar em uma escola diferente aquela conhecida no império.

Como Bencostta diz em seu texto, Grupos escolares no Brasil: um novo modelo de escola primária: “Além de prédios próprios quem tinham como princípio a racionalização dos espaços, outras novidades integraram-se à realidade dos grupos escolares, tais como: a mobília que substituía os torturantes bancos sem encostos; o quadro-negro; o material escolar vinculado ao novo método que marcaria a história do ensino primário brasileiro- método intuitivo ou lições de coisas- que previa o uso de mapas, gabinetes, laboratórios, globos, figuras e quadros de Parker, dentre outros...” Mas será que essas mudanças realmente aconteceram? Será que houve todas essas mudanças propostas?

Foi publicado na UOL em junho de 2013 uma matéria dizendo: ‘Menos de 1% das escolas brasileiras têm infraestrutura ideal’. Um estudo feito pelos pesquisadores Joaquim José Soares Neto, Girlene Ribeiro de Jesus e Camila Akemi Karino, da Universidade de Brasília e Dalton Francisco de Andrade da Universidade de Santa Catarina puderam perceber que apenas 0.6% das escolas brasileiras possuem uma infraestrutura próxima da ideal para o ensino, com bibliotecas, laboratório de informática, quadra esportiva, laboratório de ciências e dependências adequadas para o ensino, já 44% contam com apenas água encanada, sanitário, energia elétrica, esgoto e cozinha sem sua infraestrutura. Além de todo esse descaso podemos perceber também a tamanha desigualdade regional publicada nessa matéria que diz “Das 24.079 unidades de ensino da Região Norte, 71% podem ser consideradas no nível elementar, o mais precário. No caso do Nordeste, esse índice ainda se mantém alto, mas cai para 65%. No Sudeste, Sul e Centro-Oeste, o maior percentual de escolas localiza-se no nível básico. Em todas as regiões a taxa de colégios públicos classificados como de infraestrutura avançada não excede os 2%.” Podemos observar também dados que mostram as grandes desigualdades entre as redes “Entre as escolas federais, 62.5% podem ser consideradas adequadas e avançada. No caso das estaduais, 51.3% das unidades são básicas em relação a infraestrutura e considerando as municipais, 61.8% das escolas são consideradas elementares” “ Enquanto 18.3% das escolas urbanas têm infraestrutura elementar, o oposto ocorre em relação às escolas rurais: 85.2% encontram-se nessa categoria” diz estudo.”

Lembrando que:

Infraestrutura elementar: São escolas que possuem somente aspectos de infraestrutura elementares para o funcionamento de uma escola, tais como água, sanitário, energia, esgoto e cozinha.

Infraestrutura básica: Além dos itens presentes no nível anterior, neste nível as escolas já possuem uma infraestrutura básica, típica de unidades escolares. Em geral, elas possuem: sala de diretoria e equipamentos como TV, DVD, computadores e impressora.

Infraestrutura adequada: Além dos itens presentes nos níveis anteriores, as escolas deste nível, em geral, possuem uma infraestrutura mais completa, o que permite um ambiente mais propício para o ensino e aprendizagem. Essas escolas possuem, por exemplo, espaços como sala de professores, biblioteca, laboratório de informática e sanitário para educação infantil. Há espaços que permitem o convívio social e o desenvolvimento motor, tais como quadra esportiva e parque infantil. Além disso, são escolas que possuem equipamentos complementares como copiadora e acesso a internet.

Infraestrutura avançada: As escolas deste nível, além dos itens anteriores, possuem uma infraestrutura escolar mais robusta e mais próxima do ideal, com a presença de laboratórios de ciências e dependências adequadas para atender estudantes com necessidades especiais.

Podemos ver nitidamente essa falta de interesse do governo em investir na educação e que essas mudanças não ocorreram de maneira tão esperada, no documentário “Pro dia nascer feliz” que retrata a vida escolar de jovens em várias regiões do Brasil, e chama atenção para problemas como o contraste entre classes, o descaso na educação já que nunca foi prioridade em nosso país, a violência, a situação precária das escolas, o descaso com a merenda, salas de aulas lotadas, baixo salário dos professores, falta de transportes para aqueles que moram longe das escolas, sem contar com os métodos de ensino que faz com que os alunos passem de ano sem saber sequer escrever direito.

A décadas atrás já se faziam a pergunta: De quem é a culpa?

Seria da juventude dita trasviada ou nós que não oferecemos nenhum caminho?

Será que saberão votar amanhã, saberão escolher os diligentes para uma nação justa?

Se para votar bem é necessário favorecer a educação, o problema com o Brasil seria melhorar o trágico panorama da educação.

No documentário é possível ver o descaso do governo com a nossa educação, pois escolas públicas sem o mínimo de infraestrutura pra receber alunos, com um saneamento básico muito precário. Uma parte do filme que mais me chamou atenção foi quando a diretora de uma escola pública da periferia de São Paulo é questionada: ‘Os professores não são bem preparados?’ e ela responde ‘Pedagogicamente eles são muito bem preparados, mas não estão preparados para os xingamentos, agressão verbal e o descaso dos alunos’ E então podemos pensar que o problema são os alunos? NÃO! O problema é falta de interesse de investimentos em um bom lugar pra se estudar, boas salas de aula, uma boa infraestrutura, mais escolas e, além disso, em programas sociais de cultura e integração do jovem e da criança na sociedade para tirar esses jovens da rua e principalmente do crime, das drogas , violência ... Da CRIMINALIDADE.

Contudo o que podemos observar no documentário é que muitas vezes o aluno passa de ano sem ter aprendido nada, sem saber ler e escrever, pois é mais cômodo para a escola, menos recuperações e dependências são sempre melhor. O que nós, educadores, não podemos fazer é desistir dos alunos somente porque a escola diz que são os piores, ou, pois é a pior sala então vamos passando de ano para não causar problemas. Um exemplo de educador excepcional é o professor Ron Clark que sai de sua cidade em que obteve sucesso em aumentar o rendimento dos alunos por quatro anos consecutivos e assume o desafio de ensinar em Nova York. O mesmo, na hora de procurar emprego utiliza esse marketing, o que mostra a valorização dos aspectos quantitativos por parte do governo americano, onde as verbas são doadas para a escola em função das notas. Quando esse professor consegue se empregar em uma escola de bairro humilde, marcado por violência e pessoas predominantemente negras, isso fica bem evidente nas palavras do diretor quando o professor chega à escola “Se o rendimento dos alunos não melhorar você será despedido”. O professor aceita o desafio, e pega a sala mais complicada da escola para lecionar, a sala onde todos os outros professores desistiram por não suportar o comportamento dos alunos, que são na maioria problemáticos e “revoltados” com a vida, muito das vezes por causa de sua situação familiar, que se reflete no comportamento dentro da sala de aula. No primeiro dia de aula o professor tenta propor uma metodologia baseada em regras e é obrigado a conviver com a constante indisciplina dos alunos. O professor tenta até uma aproximação o com os alunos e acaba se deparando com situações inesperadas e duras realidades. Dentre as regras estabelecidas, foi enfatizada a cooperação, partindo do pressuposto que a turma era uma família. No inicio os alunos desprezaram as regras e não as aceitavam, Clark pensou em até desistir da turma, mas voltou, insistiu, e foi mudando sua metodologia de ensino, com o tempo foi surtindo efeito, os alunos finalmente começam a respeitar as regras. Chega o dia do “grande teste”, antes os alunos iam muito mal nas provas e era a pior turma da escola, agora eles se saem brilhantemente bem, como a melhor turma da escola, e são premiados com medalhas e uma grande festa.

Esse é outro exemplo de como os pais, a família e o principalmente o professor influenciam os alunos. No filme ‘O triunfo’ que é baseado na história real de Ron Clark podemos ver que a maioria dos alunos não tem o interesse pelo estudo e pela escola por causa dos pais e do meio em que vivem nas condições que vivem.

Nesse contexto podemos relacionar também o pensamento de Lev Semenovicht Vigotski que foi um cientista russo muito conceituado na área da psicologia e foi pioneiro foi pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida. Então como ter um bom desenvolvimento escolar e pessoal de alunos que vivem em uma periferia que o governo não oferece nenhum tipo de assistência ao aluno e a família. Nenhum incentivo ao aluno permanecer na escola e terminar pelo menos o ensino fundamental. Professores faltam como se fosse uma coisa rotineira e muito normal deixando alunos sem aula e o que fazem? Vão pra rua! Achar coisas ‘melhores’ pra fazer e nesse momento que o adolescente pode se perder no caminho das drogas e na criminalidade.

Portanto é possível pensar se realmente ouve efetivas mudanças entre o Império e a república, muitas escolas ainda possuem uma estrutura desprezível com um desconforto gigante para os alunos, além disso, a desigualdade é absurda em termos tanto de região e redes, precisamos além de tentar mudar a educação do Brasil e sim mudar a sociedade, o meio que as pessoas vivem, o crime e muitas outras coisas que o governo não se preocupa. Enquanto a educação, o transporte, o saneamento básico está a desejar os estádios estão cada vez mais bonito pra Copa do Mundo.

Referências Bibliográficas

BENCOSTTA, Marcus Histórias e memórias da educação no Brasil Vol. III, Cap.5 Grupos Escolares no Brasil: Um novo modelo de escola primária.

Menos de 1% das escolas brasileiras têm infraestrutura ideal – UOL, em São Paulo, 04/06/2013.

Revista Educação, História da pedagogia 2, Lev Vigotski

Constituição política do império do Brasil- 25 de março de 1824

Documentário “Pro dia nascer feliz”

Filme “O triunfo” baseado na história real do professor Ron Clark

Nonname
Enviado por Nonname em 29/05/2017
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