Um Rio Grande de tantos nomes

Matéria publicada no Almanaque Gaúcho da Zero Hora / dia 29 de julho de 2017.

No distante ano de 1530, dom João III, rei de Portugal, enviou uma expedição para explorar o litoral brasileiro. Comandada por Martim Afonso de Souza (1500-1564), nela se encontrava, numa das naus, o seu irmão e escrivão Pero (Pedro) Lopes de Souza (1497- 1539), que registrou, no Diário de Navegação (1530 -1532), as anotações de tudo o que havia observado durante a viagem. Graças a ele, ao alcançar o sul do Brasil, ficou registrada a única via de acesso em nosso litoral – o sangradouro da Lagoa dos Patos – analisado, de forma errônea, como um rio caudaloso. A importância histórica deste documento veio a público, no século 19, quando o historiador Francisco Adolfo de Varnhagem (1816-1878) fez a sua transcrição e publicou-o em forma de livro.

Diante da descoberta, com o intuito de homenagear o irmão, Martim Afonso de Souza batizou o local com o nome de Rio de São Pedro. Este nome foi registrado , em 1534, no mapa pioneiro do cartógrafo Gaspar Viegas. Passados 16 anos, em 1550, no mapa de Desvaliers, o lugar passou a chamar-se Rio Grande. A partir deste período, os dois nomes se alternariam até comporem um terceiro: Rio Grande de São Pedro.

De acordo com Moysés Vellinho (1902-1980), “tal topônimo se irradiaria, aos poucos, como gota de azeite sobre papel e acabaria cobrindo todo o território desta parte do Brasil.” Como registra a nossa história, ali se fundou, em 1737, sob o comando do brigadeiro José da Silva Pais (1679- 1760), o ponto inicial, em Rio Grande, de povoamento do nosso Estado: o Forte Jesus, Maria e José.

Durante muito tempo, devido à extensão das terras, nosso Estado foi chamado de Continente do Rio Grande de São Pedro. No primeiro livro “O Continente“ (1949), que compõe a famosa trilogia “O Tempo e o Vento”, de Erico Veríssimo (1905-1975), o autor registrou esta denominação. Já então como capitania autônoma do governo do Rio de Janeiro, recebemos , no dia 19 de setembro de 1807, a denominação oficial de Capitania Geral de São Pedro do Rio Grande do Sul.

Realizada a Independência do Brasil, por dom Pedro I, em 07 de setembro 1822, mudou-se o nome para Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Com o passar do tempo, a antiga tradição, que remetia à figura do escrivão da Expedição de 1530, Pero (Pedro) Lopes de Souza, desvaneceu-se, passando o nome do nosso estado a ser associado com o santo católico São Pedro. Este, considerado padroeiro do Rio Grande do Sul, é comemorado, junto com São Paulo, no período das festas juninas, no dia 29 de junho.

Com a Proclamação da República no Brasil, em 15 de novembro de 1889, uma nova Constituição foi redigida, em 1891, separando a Igreja do Estado. Este fato, aliado à filosofia positivista, inspirada em Augusto Comte (1798- 1857), fez com que o nome de São Pedro fosse, literalmente, substituído por outro sem conotação religiosa, para denominar a unidade federativa do extremo sul do Brasil: nascia assim o Estado do Rio Grande do Sul.

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Pesquisador e Coordenador do Setor de Imprensa do Musecom.*

Bibliografia consultada :

LESSA, Luiz Carlos Barbosa. Calendário histórico Cultural do Rio Grande do Sul, Porto alegre : Corag / IEL, 1985.

Bibliografia consultada :

LESSA, Luiz Carlos Barbosa. Calendário histórico Cultural do Rio Grande do Sul, Porto alegre : Corag / IEL, 1985.