No tempo do seu Durval...

Resumo

O presente artigo tem por escopo principal refletir acerca das representações e funções da memória na velhice, símbolos e expressões que envolvem este conceito, bem como sua “utilidade” e incumbência nesta época da vida. Trata-se de uma análise inicial, cujo estímulo surgiu a partir de entrevistas realizadas para uma pesquisa acadêmica acerca da construção da memória em um bairro da Zona Oeste da cidade do Rio de janeiro. Analisamos aqui os casos de Seu Durval, Seu Salviano e Silvan Guedes, três dos entrevistados para a referida pesquisa, moradores do bairro de Sepetiba, localizado na Zona Oeste da cidade, que um dia possuiu notoriedade e expressão e atualmente encontra-se degradado e esquecido.

A noção de representação (...) essencializa a linguagem e imputa-lhe uma tarefa única: a de representar., ou seja espelhar o que é extralingüístico, o real, produzindo sentidos estáveis, cuja imutabilidade garante a factibilidade da comunicação e o reconhecimento do “mesmo’, do que é igual.Concebe portanto, uma separação radical entre linguagem e realidade.A materialidade da realidade dos fatos precede a inteligibilidade racional sobre eles, bem como sua nomeação/descrição. (FABRÍCIO, F., Branca; MOITA LOPES. 2004)

Introdução

As pessoas ao construírem histórias estão construindo a si mesmas e ao outro como seres sociais, pois as narrativas como uma forma de organização do discurso, têm o potencial de criar um sentido de nós mesmos ao permitir que negociemos e construamos as nossas identidades sociais por meio dos eventos narrados. Narrar é construir-se, e não podemos deixar que as narrativas, herança social e tradição desapareçam, ouvir, transmitir oralmente é de suma importância para as futuras gerações.

Justificamos a importância desta análise, pois tomamos dois dos narradores do bairro de Sepetiba como exemplos, a partir das ponderações de Walter Benjamin, que afirmou a experiência de que a arte de narrar está em vias de extinção, como se estivéssemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienável de intercambiar experiências. A partir da apresentação destes dois narradores apresentamos um terceiro, bem mais jovem, que seria seguidor, um aprendiz.

Benjamin afirmou que uma das causas desse fenômeno consiste no fato de que as ações da experiência estão em baixa, e tudo indica que continuarão caindo até que seu valor desapareça de todo, pois, para ele, da noite para o dia não somente a imagem do mundo exterior, mas também a do mundo ético sofreram transformações que antes não julgaríamos possíveis. A experiência que passa de pessoa a pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores. E, entre as narrativas escritas, as melhores são as que menos se distinguem das histórias mais contadas pelos inúmeros narradores anônimos, como Seu Durval, seu Salviano e Silvan Guedes, aqui apresentados.

A memória tem um papel fundamental na construção da identidade, tanto individual quanto coletiva; memória e identidade não devem ser compreendidas como manifestações de alguma essência do indivíduo ou do grupo, mas sim fenômenos que se constroem socialmente e que, portanto, não estão isentos de mudanças desenvolvidas em virtude das “preocupações pessoais e políticas do momento” (POLLAK, 1992, p. 201).

O bairro de Sepetiba, localizado na cidade do Rio de Janeiro, vem ao longo de sua história sofrendo mudanças que levaram a um processo de estagnação política e econômica, provocada pela degradação ambiental sofrida, seja pela criação de um distrito industrial no bairro de Santa Cruz e /ou pela criação de um porto na cidade de Itaguaí. Essas transformações foram muito impactantes para estes três homens, cada um a sua maneira, é possível observar em seus gestos, ao serem entrevistados e até mesmo sentir o gosto amargo em suas palavras ao relembrarem, como chamam “os bons tempos de Sepetiba”.

De forma bem superficial iremos apresentar aqui este bairro, Sepetiba é um bairro estratégico da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, cercado pelos bairros de Santa Cruz ao norte e Guaratiba a leste, é banhado pela Baía de Sepetiba ao sul, tendo sua fundação datada no dia 5 de julho de 1567 ; já possuiu grande expressão e evidência entre a elite carioca que se dirigia ao bairro em busca do lazer e da tranquilidade que a localidade oferecia.

Neste momento também iremos apresentar nossos narradores, mas a pedido deles de forma resumida, “seu” Jorge Salviano, um militar aposentado, grande apreciador da natureza, atleta em seus áureos tempos, foi vencedor da prova intitulada “Travessia da Restinga da Marambaia”, militante ferrenho das causas ambientais foi um dos fundadores do movimento do Movimento S.O.S Baía de Sepetiba, e lutou ao lado de seu Erasmo Pedrosa, conhecido como o velho lobo do mar ou papai Noel de Sepetiba, hoje infelizmente já falecido, pela despoluição da tão sofrida baía de Sepetiba. Seu Salviano sempre foi militante e hoje, passando da casa dos setenta anos, ainda milita, inaugurou a sua casa Ecológica, localizada na praia do Recôncavo, em Sepetiba, sempre está disposto a dar entrevistas, mostrar as consequências da degradação aos interessados, denunciando a poluição e os perigos eminentes aos moradores e pescadores deste bairro, e incentivando jovens a seguirem sua luta.

“Seu” Durval Paes de Camargo, um caiçara, como gosta de ser chamado, é uma figura doce, simples, solícito, sempre sentado à sua porta, disposto a contar suas histórias e compartilhar suas lembranças, funcionário público aposentado, pai, avô e bisavô, também na casa dos setenta anos, escultor, artista plástico, produz lindas esculturas de madeira, garças, barquinhos, jacarés dentre outros, constrói barcos de pesca, caiaques, dentre outros bem em frente de casa, ofício este conhecido como carpinteiro naval ou artesão naval, habilidade herdada dos seus ancestrais caiçaras, habilidosos construtores de canoas, nos brindando muitas vezes com o prazer de observá-lo em ação.

Trata-se de uma especulação o dia exato de fundação do então povoado de Sepetiba, porém supõem-se que tenha sido de fato no mês de julho, por isso o então vereador “Gerominho” conhecido em quase toda a zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro foi o responsável pela lei que definiu a data em que seria comemorado o aniversário do bairro.

Silvan Guedes, também morador de Sepetiba, baiano de nascimento, da cidade de Ilhéus, vindo para a cidade do Rio de janeiro ainda muito criança, divide seu amor entre sua cidade natal e o bairro de Sepetiba .Pertence a outra geração, bem mais jovem, mas também pode ser considerado um dos narradores do bairro, Silvan também é um ex militar, ex atleta, muito disciplinado, sempre ouviu atentamente os mais velhos, e hoje pode ser considerado um portador de histórias e memórias, um dos membros e fundadores do Ecomuseu de Sepetiba, tem a responsabilidade de seguir com esta tradição, não permitindo que as histórias deste bairro desapareçam, hoje transmite tudo o que aprendeu e ouviu dos mais velhos aos mais jovens, seja nos chamados passeios de Reconhecimento realizados pelo Ecomuseu de Sepetiba , seja nos passeios agendados com as escolas locais, nos quais possuí a tarefa de guiar os estudantes e contar a história do bairro ou mesmo em palestras representando este museu.

A arte de narrar, a capacidade de ouvir: criando e recriando memória

Como citamos anteriormente, narrar é construir-se e os depoimentos ou testemunhos consistem na tentativa de restabelecer, de revigorar e mesmo trazer à baila eventos que estavam desaparecidos das narrativas, adormecidos nos discursos e que marcaram a história de uma população.

A memória enquanto construção do passado no presente, ou enquanto determinações do passado sobre o presente pode tanto “escravizar” como “libertar”; a lembrança e o esquecimento, manifestações da memória nos indivíduos, só adquirem significado mais amplo se analisados na especificidade do contexto histórico de sua construção passada e de sua narração presente. Como consequência debruçar-se sobre a memória não significa a reconstrução integral de como teria sido o passado, posto que passou, mas sim a presença deste no presente, consciente ou inconsciente.

Acreditamos na possibilidade de que a memória é criada por nós, e seja recriada, difundida, mantida, transformada. Neste texto iremos expor nossas elucubrações, refletindo acerca da construção da memória através das narrativas de Seu Durval, seu Salviano e Silvan, sabendo que a memória é construção social, as lembranças são sociais, pois mesmo as memórias mas pessoais, de caráter mais íntimo, são construídas a partir das concepções e reflexões que construímos, temos e criamos baseadas nas memórias dos outros, como nos disse Halbwachs (2004), nunca estamos sós.

A velhice é encarada, tratada ou assimilada de diferentes formas de acordo com o contexto histórico, social, cultural, político e econômico no qual estamos inseridos. Na África o idoso é respeitado como portador da sabedoria, em algumas culturas os chamados “anciões” são respeitados como fonte de conhecimento, conselheiros. Ser idoso na Inglaterra não é mesma coisa que ser idoso no Brasil, ou ser idoso em Gana não é como ser idoso na Alemanha, a expectativa de vida, a valorização e a qualidade de vida dos idosos também variam, de acordo com os contextos econômicos e sociais e mesmo de acordo com o lugar que ocupam nos territórios que habitam.

No senso comum, na maioria das vezes, consideramos que “devemos” respeito aos velhos, no entanto, este respeito consiste em ouvi-los, sem questionar, mas não no no sentido de ouvir seus conselhos e opiniões e seguir suas orientações, ouvimos muitos jovens referindo-se aos avós e pais como “Velhos esclerosados”, desconsiderando qualquer opinião que parta deles, raros são os jovens que param por alguns minutos e ouvem com atenção e interesse o que os idosos tem para contar.

Em nossa concepção o capitalismo tem grande contribuição para uma desvalorização da velhice, vista como dura, cruel e perversa, especialmente a partir da sociedade industrial, como assinala Bosi (1999), em parte isto deve-se ao fato de o idoso ser visto como improdutivo, além do fato de vivermos os efeitos da rapidez e fragmentação contemporânea, da modernidade liquida. As histórias e lembranças dos idosos não são mais valorizadas, não existe mais uma interação geracional, como há alguns anos atrás, onde famílias se reuniam e ouviam os relatos, lembranças, e celebravam esses momentos.

Os intitulados “Passeio de Reconhecimento” ou Reconhecimento, foram idealizados, organizados e realizados pelo Ecomuseu de Sepetiba, consistem em passeios que são destinados aqueles que já possuem algum laço, ligação com o bairro, pois seu objetivo principal não é o turismo e sim reconhecer e redescobrir o que lhes dá identidade.

Museu comunitário, de território, sem sede, sem coleção, seus patrimônios correspondem a todas as riquezas e belezas que o bairro possui, seu objetivo principal é de forma consciente pela comunidade realizar uma ação museológica cujo objetivo é desenvolver o território que habita a partir da valorização e disseminação dos patrimônios nele existentes.

Pierre Nora (1993) assinala a circunstância em que o passado vai cedendo seu lugar para a ideia do eterno presente através do uso da expressão “aceleração da história”. Segurar traços e vestígios é a maneira de se opor ao efeito devastador e desintegrador da rapidez contemporânea, outro aspecto importante acerca da memória em Nora é a sua relação com os lugares. As memórias individual e coletiva têm nos lugares uma referência importante para a sua construção. Os lugares são importantes referências na memória dos indivíduos e as mudanças ocorridas nesses lugares ocasionam mudanças significativas na vida e na memória dos grupos, questão observada nas nossas entrevistas através dos discursos saudosos acerca do passado.

De acordo com Bosi (1999), quando o homem deixa de ser um membro ativo da sociedade, não “produz”, não gera resultados, sobra-lhe a função de narrar as suas lembranças, de ser memória viva, comumente, na maioria das culturas, a transmissão de valores, crenças, costumes é feita através da tradição oral, pelos idosos.

Mais uma vez citando Halbwachs (2004), devemos ressaltar que a memória individual está alicerçada na memória dos grupos aos quais pertencemos, ninguém pode rememorar de algum fato ou momento vivido fora da sociedade, deste modo, unindo pessoal, individual e social é construída a memória coletiva. Para Halbwachs (2004) a memória individual só existe a partir de uma memória coletiva. Deste modo, acreditamos que a memória é elemento basilar na construção das identidades.

De acordo com o polonês Pollack, a memória é construída tanto social como individualmente, e ele cita a relação intrínseca entre a memória e o sentimento de pertencimento, de identidade. Para Pollak (1992), “Se é possível o confronto entre memória individual e a memória dos outros, isso mostra que a memória e a identidade são valores disputados em conflitos sociais e intergrupais, e particularmente em conflitos que opõem grupos políticos diversos” (1992, p.5).

Cabe aqui uma afirmação de Le Goff, onde este autor defende uma finalidade libertadora para a memória “A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procurava salvar o passado para servir o presente e o futuro”. Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens” (LE GOFF, 2003, p.477)

Le Goff afirma que a memória coletiva, ao longo da história do mundo, tem sido posta em jogo na luta das forças sociais pelo poder e, é formada tanto de lembranças, quanto de esquecimentos, produzidos por diversas instâncias sociais. Por isso o autor alerta para os riscos do controle da memória coletiva, principalmente pelos governos (LE GOFF, 2003).

De acordo com Benjamin, a natureza da verdadeira narrativa, tem sempre em si, as vezes de forma latente, uma dimensão utilitária. Essa utilidade pode consistir seja num ensinamento moral, seja numa sugestão prática, seja num provérbio ou numa norma, de qualquer maneira o narrador é um homem que sabe dar conselhos, sendo em sua concepção aconselhar seria menos responder a uma pergunta que fazer uma sugestão sobre a continuação de uma história que está sendo narrada e o conselho tecido na substância viva da existência tem um nome: sabedoria.

Seu Durval, hoje, sentado à sua porta, está sempre disponível para contar uma história, relembrar um fato, no entanto, poucas vezes os jovens o procuram ou possuem paciência para ouvi-lo, todas as vezes que o Ecomuseu de Sepetiba recebe visitantes e passam em frente à sua casa, sempre precisam parar e apresentar seu Durval aos visitantes, rapidamente, ele se apresenta, muito falador, canta, conta histórias e muitas vezes se emociona, saudoso dos chamados bons tempos.

Em minha casa tenho foto com minha esposa e meus filhos na antiga Sepetiba, que vocês não viram (...) Naquele tempo o banho de lama era medicinal, ela não tinha mau cheiro, eu mesmo cheguei a ver pessoas que não andavam e depois de tomar banho aqui saiam andando (...) Conheci um homem com queimadura no corpo, ele mudou sua pigmentação com a lama medicinal de Sepetiba (...) A princesa Isabel tomava banho aqui, sabia? Ao lado da colônia de pescadores, hoje até o manguezal está morrendo, a questão também é política(...) a construção desse porto destruiu tudo! Sepetiba era a princesinha da Zona Oeste! Até novela gravavam aqui, o mar vinha até aqui, acredita? Hoje com esse mangue nessa altura é até perigoso, sempre aparecem corpos, ficam presos no mangue, dá mau cheiro, muito tempo depois que vamos ver, essa poluição, tudo acabou, é muito triste, me entristece muito. Durval Paes de Camargo, em entrevista no dia 19 de novembro de 2017.

Ao perceber o interesse e atenção dos que param para lhe ouvir, conta mais e mais, contando um fato acaba lembrando de outra história, lembra de amigos e o tempo passa. Cabe aqui citar Bosi (1999), que afirma que o idoso possui uma função própria de rememorar, volta ao passado lembrando de fatos e histórias e com toda a sua experiência e sabedoria seleciona apenas aqueles que considera importantes e uteis no contexto. Para Bosi, para o idoso a prática de recordar pode contribuir para fortalecer ou restabelecer seu sentimento de pertencimento, identificação e elevar sua autoestima. Observamos isso claramente ao ouvirmos seu Durval e seu Salviano.

Menina, você não faz ideia de como isso aqui era (...) eu nadei até a restinga, muitas vezes, a água era limpinha, isso aqui está acabando, vai ficar ainda pior, está vendo essa areia preta, é essa poluição, o que você acha? Eu já falei com prefeito, governador, mandei carta para presidente, Marcelo Alencar me ouviu muitas vezes, mas nada mudou, já mandei meu projeto várias vezes também (...) Fechei rua em Santa Cruz, eu e Erasmo fomos na Eco92, Rio+20 e outros eventos desses aí, sempre denunciando, o que eu te falo é porque você está nova, vocês que estão novos é que precisam lutar por isso, eu fiz e estou fazendo a minha parte, queria ver a praia como antes, mas como não é possível que pelo menos a urbanização seja feita. Jorge Salviano em entrevista no dia 16 de dezembro de 2017.

Seu Salviano nos ajuda a asseverar a afirmação de Bosi (1999), pois é perfeitamente perceptível que ele seleciona o que acredita ser útil para tomarmos como exemplo e seguirmos os seus passos, pois ele acredita na militância ambiental e sofre com o processo de degradação que acompanhou passo a passo na localidade, assim com Seu Durval.

É de sentir uma dor no peito, ver tamanho descaso das autoridades, deixar essa praia morrer é desumano(...) mas o que estraga é a ganância! Durval Paes de Camargo

A arte de narrar está desaparecendo, porque a sabedoria, o lado épico da verdade, está em extinção, afirmou Benjamin (1987). O narrador retiraria da experiência o que ele conta: sua própria experiência ou a relatada pelos outros, e, de acordo com Benjamin incorpora as coisas narradas a experiência de seus ouvintes, e, se a arte da narrativa é hoje rara, a difusão da informação é decisivamente responsável por esse declínio, a razão é que os fatos já nos chegam acompanhados de explicações, quase nada do que acontece está a serviço da informação, acrescentamos da desinformação, a informação só tem valor no momento em que é nova, muito diferente é a narrativa, ela conserva suas forças e depois de muito tempo ainda é capaz de se desenvolver.

Segundo Benjamin (1987), a narrativa é ela própria, num certo sentido, uma forma artesanal de comunicação, ela não está interessada em transmitir “o puro em si” da coisa narrada como uma informação ou um relatório. Benjamin afirmou que não percebemos, que a relação ingênua entre o ouvinte e o narrador é dominada pelo interesse em conservar o que foi narrado; para o ouvinte imparcial, o importante é assegurar a possibilidade da reprodução. A memória é a mais épica de todas as faculdades, a reminiscência funda a cadeia da tradição, que transmite os acontecimentos de geração em geração, quem escuta uma história está em companhia do narrador, pois este que narra hoje ouviu ontem de outro narrador.

Observamos isso na narrativa de Silvan Guedes, que sempre ouviu atentamente os mais velhos, e hoje transmite as histórias, fatos e orientações, mas de alguma forma os incrementa, com seu jeito de narrar, inserindo também sua experiência de vida na narrativa que já havia sido contada há 4 ou cinco gerações.

Quando falamos de nossa Sepetiba, precisamos pensar em 450 anos de história, os povos que aqui habitaram antes mesmo da chegada do chamado “homem branco”, os tempos em que a família real por aqui passeava, os visitantes ilustres, naturalistas, artistas, príncipes, autoridades, atores e atrizes de televisão.(...) Nunca poderemos esquecer, que embora hoje degradada, as praias deste recanto foram as mais frequentadas da cidade do Rio de janeiro, sendo chamada um dia de “princesinha da Zona Oeste”, onde eram registrados os maiores índices de afogamentos devido ao grande número de visitantes, suas águas um dia cristalinas e aparentemente calmas enganavam os banhistas...Lembrando também de sua fúria, com os temidos ventos de sudoeste que arrebentavam os paredões de pedra, ainda lembro de terem caído duas vezes, o próximo ao nosso antigo DPO, na frente de nossa paradisíaca Ilha do Tatu; E o enorme prejuízo gerado aos pescadores pois além de afundar também quebravam seus barcos, perdiam redes etc... Silvan Rocha Guedes, entrevistado em 23 de Dezembro de 2017.

Cabe aqui a citação de Portelli (2006), que cita a obra de Maurice Halbwachs acerca da memória coletiva, mas propõe que o ato de lembrar é sempre individual, pessoas e não grupos se lembram. Cada indivíduo retira memórias de uma variedade de grupos e as organiza de forma pessoal. Essa memória pode ser compartilhada. Só se torna memória coletiva aquela que foi abstraída e separada da individual.

Cheguei à Sepetiba nos anos de 1970, me causa sofrimento ver como minha Sepetiba foi degradada, com a construção do porto, com a poluição da baía... até mesmo os hábitos dos pescadores tiveram que ser modificados devido a essa triste circunstância,foi-se criando regras até mesmo para nós pescadores locais , subíamos as antigas canoas nas famosas estivas banhadas de sebo oriundo do antigo matadouro industrial de santa cruz, devido ao assoreamento das praias... !

As estivas eram necessárias, pois quando as canoas retornavam para a praia as mesmas não podiam ficar por muito tempo encharcadas dentro do mar pois apodreciam sua madeira ( mas era muito bom para podermos brincar de mergulhar!) ; Até nisto os pescadores locais tiveram que mudar sua estrutura de pesca, hoje se usa caíques de compensado naval muito mais leves e mais fáceis de trazer para a praia. (...) Com as canoas e estivas na orla, várias famílias esperavam para ajudar a subir as canoas em ritmo cadenciado sobre as estivas , lembrando o antigo Egito movendo suas enormes pedras. E no término desta faina os pescadores, após safar suas redes ( retirar e separar o pescado e também desembolar )davam um punhado de peixes aos que ajudavam, este punhado era chamado de” mistura”,esta mistura era dos peixes sem muito valor para serem entregues as peixarias locais, a da Colônia Z-15, Rei do camarão, e muitas outras. (...) Tantas memórias, tantas lembranças, tanta história...Silvan Rocha Guedes

O narrador está entre os mestres e os sábios, assevera Benjamin (1987), sabe dar conselhos: não para alguns casos, como o provérbio, mas para muitos casos, como o sábio, recorrendo ao estoque de toda uma vida, seu dom é poder contar sua vida, sua dignidade é contá-la inteira, conclui magistralmente Benjamin.

A memória não pode mais ser vista como um processo parcial e limitado de lembrar fatos passados, de valor acessório para as ciências humanas. Na verdade ela se apoia na construção de referenciais de diferentes grupos sociais sobre o passado e o presente, respaldados nas tradições e ligados a mudanças culturais (FREITAS, BRAGA, 2006.)

Huyssen (2004) denominou de museificação o boom ou surto da presença do passado em nosso cotidiano, e questionou-se sobre os motivos desse fenômeno, muito embora os jovens em sua grande parte ainda não estejam interessados em ouvir ou pesquisar sobre o passado, segundo Huyssen (2004), esse movimento poderia estar relacionado às incertezas do futuro, acrescentadas pela aceleração do tempo que experimentamos na era da informação. Pierre Nora caracteriza a circunstância em que o passado vai cedendo seu lugar para a ideia do eterno presente através do uso da expressão aceleração da história em seu artigo “Entre memória e História: a problemática dos lugares” (1993, página 7). Nesse momento, segurar traços e vestígios é a maneira de se opor ao efeito devastador e desintegrador da rapidez contemporânea.

O autor nos adverte sobre o colapso que pode marcar a relação entre memória e esquecimento, transformando-a em consenso ou cliché, referindo-se ao que teria ocorrido com a memória do Holocausto na Alemanha e com a memória dos desaparecidos na Argentina, por exemplo. Huyssen (2004) lança a hipótese de que arriscamos combater o temor do esquecimento com táticas de sobrevivência de rememoração pública e privada. Cada vez mais são erguidos monumentos, criados museus e espaços de memória, arquivos, e um gama sem precedentes de instituições que valorizam o passado vem surgindo, e deste modo o autor adverte para a emergência da memória, como elemento chave das apreensões culturais e políticas das sociedades ocidentais contemporâneas.

Cabe aqui introduzirmos o pensamento de Canclini (2000), que questionou como o sentido histórico intervém na constituição dos agentes centrais para a constituição de identidades modernas, como as escolas e museus, qual é o papel dos ritos e das comemorações na renovação da hegemonia política. Ele apresenta a resistência à modernidade, afirmando que os modernizadores para legitimar sua hegemonia precisam persuadir seus destinatários que ao mesmo tempo que renovam a sociedade, prolongam as tradições compartilhadas, posto que pretendem abarcar todos os setores, os projetos modernos se apropriam dos bens históricos e das tradições populares, isto é, das tradições que lhes interessa, vale ressaltar.

Canclini (2000) afirma que o museu e qualquer política patrimonial tratam os objetos, os edifícios e os costumes de tal modo que mais que exibi-los, tornam inteligíveis as relações entre eles, propõe hipóteses sobre o que significam para nós, que hoje os vemos ou evocamos. Um patrimônio reformulado levando em conta seus usos sociais, não a partir de uma atitude defensiva, de simples resgate, mas com uma visão mais complexa de como a sociedade se apropria da história, pode envolver diversos setores. Não tem porque reduzir-se a um assunto de especialistas no passado, interessa aos funcionários e profissionais ocupados em construir o presente, aos indígenas, camponeses, migrantes e a todos os setores cuja identidade costuma ser afetada pelos usos modernos da cultura.

Conforme Canclini (2000) “o patrimônio existe como força política na medida em que é teatralizado: em comemorações, monumentos e museus”, (CANCLINI, 2008, p.162), passando a ser reproduzido como algo pré-concebido:

A teatralização do patrimônio é o esforço para simular que há uma origem, uma substância fundadora, em relação à qual deveríamos atuar hoje. Essa é à base das políticas culturais autoritárias. O mundo é um palco, mas o que deve ser representado já está prescrito. As práticas e os objetos valiosos se encontram catalogados em um repertório fixo. Ser culto implica conhecer esse repertório de bens simbólicos e intervir corretamente nos rituais que o reproduzem. Por isso as noções de coleção e ritual são fundamentais para desmontar vínculos entre cultura e poder. (CANCLINI,2008, p.162)

Para uma formação de identidade, Canclini apresenta que o que está sendo celebrado dentro dos museus, como patrimônio é algo pré-selecionado por um grupo específico. De acordo com Canclini “Os museus, como meios de comunicação de massa, podem desempenhar um papel significativo na democratização da cultura e na mudança do conceito de cultura”. (CANCLINI, 2000, p.169)

Considerações finais

As narrativas têm sido definidas como detentoras de um papel central na maneira como é entendida a construção das identidades na vida social ( SILVA, 2009). De acordo com Moita Lopes: “as narrativas são instrumentos que usamos para fazer sentido do mundo a nossa volta e, portanto, de quem somos” (MOITALOPES, 2002, P.64). Deste modo, o narrar é basilar para criar um sentido, um significado; narrar significa construir-se, construir aos outros e construir o mundo social. As pessoas, ao construírem histórias, estão construindo a si mesmas e ao outro como seres sociais, pois as narrativas funcionam mais do que uma simples forma de organização do discurso – elas têm o potencial de criar um sentido sobre nós mesmos ao permitir que negociemos e construamos as nossas identidades sociais por meio dos eventos narrados. (MOITA LOPES, 2003. P.153).

Os velhos situam-se entre o passado e o presente sem perspectivas de futuro, desvalorizando seus ensinamentos e os tornamos personas não gratas em alguns eventos sociais, muitas vezes acreditando que por serem considerados improdutivos são enfadonhos e suas narrativas cansativas. A grande contradição encontra-se no fato de que nossa sociedade aperfeiçoa os modos de armazenamento e registros do passado e desvaloriza o idoso enquanto memória viva, alguém capaz de nos contar, porque esteve lá, sobre um tempo que não vimos, não sabemos, não conhecemos. O idoso, quando excluído, sente-se deslocado, for do tempo, vários estigmas estão associados à velhice, incapaz, enfadonho, improdutivo, repetitivo, deste modo sente que não tem mais um futuro e só lhe resta a morte, diante do preterimento de sua história de vida, de sua identidade.

De acordo com Huyssen (2004), a olhada para o passado viria para contrabalançar a perda de constância que o indivíduo tem com o seu presente, consistindo em uma forma de parar os efeitos de uma inclusão líquida do indivíduo na sociedade, deste modo, para Huyssen, as práticas de memória expressam uma necessidade de segurar-se em um mundo acomodado e conformado, imerso em redes sobrecarregadas de espaço e tempo que sofrem com a sua compressão.

Manter o passado vivo através de suas narrativas é uma habilidade que valoriza o idoso, ao pararmos para ouvir seu Durval e seu Salviano observamos o quanto sentem-se satisfeitos por serem ouvidos, e sempre notamos em suas falas a lembranças de outras pessoas que os entrevistaram, conversaram e valorizaram seus conhecimentos, Silvan segue os mesmo passos, ainda não é considerado um idoso, mas para os jovens estudantes das escolas do bairro de Sepetiba ele é o Tio Silvan, respeitado, e aquele que conhece e sabe muito do passado do bairro, assim vemos que direta ou indiretamente a responsabilidade foi passada.

Fala-se muito da sabedoria inerente a velhice, do fato de nos tornarmos lentos e por isso termos mais tempo para refletir, o grande patrimônio dos velhos é a memória, como afirmou Bobbio (1997) “O mundo dos velhos, de todos os velhos, é, de modo mais ou menos intenso, o mundo da memória. Dizemos: afinal, somos aquilo que pensamos, amamos, realizamos. E eu acrescentaria: somos aquilo que lembramos.”

Um exemplo de tudo o que viemos falando ao longo deste texto é este trecho da entrevista de Silvan Guedes e seus questionamentos acerca do seu bairro e da construção da memória local e da história local:

Nossos professores citavam que nossa Sepetiba fazia parte da História do Brasil, porém não era incluída nos livros de História. E os mesmos por serem moradores locais e também tinham o costume de pescar em horas vagas e fins de semana, um costume de vários moradores locais a pesca artesanal de siri com puçá, a de tarrafa e de arrastão por toda a orla e os mais aventureiros de nosso famoso camarão, procuravam os melhores lugares como por exemplo a antiga Ilha da Pescaria, hoje chamada de Ilha do Marinheiro isto por sabermos de um tal fuzilamento ocorrido neste local, porém para se chegar a está ilha íamos por cima de um monte de pedras, pois com a meia maré e a maré cheia não tinha como chegar neste lugar paradisíaco o “ Antigo Caminho do Cais Imperial “ assim chamado pelos mais antigos. E porque não está nos livros de histórias? (...)

Me pergunto até hoje. E este Cais hoje causa uma enorme curiosidade sobre está história esquecida no Rio de Janeiro, só tenho a agradecer quando por meios da internet em propagar locais e ideias de vários lugares como nossa famosa vizinha Santa Cruz, que está sim está nos livros de história por sua famosa fazenda imperial onde acolhia a família imperial e outros famosos da corte. E nossa Sepetiba quase não é citada, me pergunto o por que será que ela esconde algo que não era para ser visto?

De acordo com Bobbio (1997), para o idoso a sabedoria consistiria em aceitar resignadamente os próprios limites, mas ele acrescenta que para aceita-los é necessário conhece-los e para conhece-los é necessário existir um motivo, e afirma que não se tornou um sábio e conhece bem os seus limites, contudo não os aceita, apenas os admite, porque não pode fazer de conta que não existem.

Silvan Guedes, nosso mais jovem entrevistado, ainda está adentrando na casa dos cinquenta, entretanto já conheceu alguns de seus limites, sendo um ex atleta, devido a um grave problema na coluna viu-se obrigado a abandonar os esportes, contudo não esmoreceu e tratou de encontrar outras ocupações que o fizessem tão feliz e realizado como os esportes, entre elas o guiamento nos chamados passeios de reconhecimento do Ecomuseu de Sepetiba e as demais atividades relacionadas, que o colocam em contato com os narradores do bairro e o fazem também um narrador.

Seu Durval nos disse:

Vocês estarão no meu lugar um dia, quero que sigam o caminho do bem e lutem pelo certo, quando vejo esse pessoal passando aqui e indo para o passeio de vocês, fico feliz, e tenho novamente esperança, o que tenho hoje são lembranças e o que posso dar à vocês é um pouquinho do que sei, sobre isso daqui, sobre a vida, só peço que continuem!

Silvan Guedes completou seu pensamento:

Ainda que hoje sejamos jovens (risos) eu quero e espero estar no seu lugar, e o respeito muito e quero que no futuro os mais velhos ou mais antigos sejam respeitados, chegar aqui como o senhor é um prêmio, uma felicidade.

De fato, todos e todas os que são jovens hoje, serão velhos um dia, ao menos é a lei natural das coisas. Chegar a uma determinada fase da vida, é sinal de que atingimos um patamar de sabedoria, a velhice está associada a isto, termos mais tempo, aprendemos ainda mais e compartilhamos conhecimento. Toda trajetória é composta de vestígios de acontecimentos, sabores, amores, lembranças, sons, silêncios e esquecimento. Na velhice acumulamos experiência de vida, transmitir o que aprendemos, o que sabemos é em algumas culturas natural, reservar algum tempo para ouvir o aconselhamento dos mais velhos, dos anciões, procurá-los quando diante de um dilema, ouvir suas memórias, aprender suas histórias e transmiti-las aos mais jovens.

As narrativas de nossos velhos podem não ser feitas com linguagem rebuscada, eles podem não possuir formação acadêmica, não possuírem profissões pomposas ou terem tido uma vida glamorosa, mas um velho é um mapa de conhecimento, cheio de vias, vales, penhascos, apenas os mais astutos conseguem compreendem a importância de saber interpretar esses acidentes geográficos, essas trilhas, conseguem discernir a importância da valorização de suas narrativas, de arquivarmos para a posteridade seus ensinamentos, que podem até não parecer uteis hoje, mas que em algum momento serão necessários.

O ancião merece respeito não pelos seus cabelos brancos ou pela sua idade, mas sim pelas empreitadas e esforços, trabalhos e suores do caminho que já trilhou. Os anos aproximam-se silenciosamente, e é bom termos em mente que quando uma existência digna preparou a velhice, não é a decadência o que ela recorda, mas os primeiros dias de imortalidade.

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Bianca Wild
Enviado por Bianca Wild em 01/05/2018
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