A reforma protestante sob um olhar poético

Engenheiros em Reforma - Aguardando a volta do dono da Obra

Seria uma manhã comum de segunda feira, como qualquer outra, não fosse o fato de ter sido acordada pelo Espirito Santo após um sonho desafiador.

Fui diretamente confrontada pelo Pai a colocar em prática aquilo que eu já alimentava no discurso: Fazer diferença de forma prática na vida das pessoas.

O gosto pela leitura e pela escrita foi um presente de Deus, já que a realidade em que cresci não me permitiria o despertamento para tais coisas. Alguns anos após minha conversão, para ser mais precisa, naquela manhã de segunda feira incomum, Deus me mostrou que eu poderia ir além e de certa forma, através de sua misericórdia, ser uma espécie de “cano”, o qual poderia ser utilizado como ponte para que suas águas pudessem “passar” e alcançar vidas sedentas da água da vida, aquela que sabemos saciar qualquer sede e de forma inesgotável.

No ano em que a Reforma Protestante completa 500 anos, não poderia deixar de reconhecer e lembrar a importância deste marco na história do mundo inteiro e claro, da minha própria história.

Seria esta hoje minha realidade caso a ousadia e inquietação de Lutero não tivesse sido traduzida através de suas teses?

A Reforma Protestante trouxe para nós, a igreja de Cristo na terra, a possibilidade de sermos estes “canos”. Fazendo uma analogia ao fato, diria que uma grande e poderosa engenharia hidráulica a serviço do Rei.

O acesso ás escrituras em grande escala, a possibilidade de ter em mãos um exemplar da Bíblia em diferentes traduções, permitindo a reflexão individual e consequentemente, as conclusões e insight a respeito dos abusos cometidos pela igreja católica, seja através das indulgências ou das leis que escravizavam um povo que sequer tinha noção do que poderia ser o prazer da liberdade de servir e adorar a um Deus desprovido de grilhões e amarras mentais.

Como toda revolução, o padre e professor Martinho Lutero não tinha dimensão das consequências avassaladoras e das transformações que a igreja passaria após ter afixado suas 95 teses na porta da igreja de Wittenberg.

Como cristãos - formadores de opinião e filhos legítimos de um Pai misericordioso como nosso Deus, temos o dever de lembrar com gratidão tão grande feito, que nos permite até os dias de hoje, consolidar e propagar o evangelho de Cristo de forma organizada, útil e acima de tudo, em obediência a sua palavra.

Considero-me efetivamente parte do legado deixado por Lutero, quando trouxe ao povo a possibilidade de rever conceito, de ter acesso á verdade que a palavra nos garante. Quando penso no trabalho que hoje tenho tido a oportunidade de desenvolver e a liberdade de poder contribuir com o mundo, trazendo despertamento, orientação e a possibilidade de reflexão e mudança de atitudes através das ferramentas de coaching e das palestras, o sentimento que inunda meu coração é o de gratidão. Deus tinha planos específicos através da Reforma Protestante e tem até hoje na vida de cada um de nós.

A Bíblia nos diz em Eclesiastes 3;1 que “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.”

Que precioso tempo o Senhor tem nos dado dia após dia, com inúmeras oportunidades de sermos “canos”, ainda que com tamanhos e larguras diversas, alguns com curvas, conexões, porém todos com a mesma finalidade - levar a quem tem sede a água que sacia e jorra abundantemente de fonte inesgotável.

Desde a Reforma até nossos dias, acredito que um de nossos maiores desafios é fazer valer a pena a luta pela liberdade de viver e propagar o evangelho, a verdade contida nas escrituras e sermos o testemunho de um legado reformista que fez diferença no mundo e em todas as gerações vindouras.

Precisamos ser os reformadores de caráter e comportamento. Minha vida precisa de constante reforma, minha postura frente ás crises, aos desafios como pessoa, mãe, mulher, cristã, cidadã de meu país. Preciso ser reformista em meu bairro, na faculdade, no trabalho, em minha nação e fazer e ser a diferença que desejo para o mundo, senão o globo terrestre, mas quem sabe onde Deus me colocou geograficamente?

Para que haja mudança muitas vezes é necessário promover rupturas, assim como o movimento reformista propôs protestando contra os pontos da doutrina da igreja católica, assim são em nossos dias quando o assunto é romper com os abusos que ferem os princípios cristãos que protegem as famílias e até mesmo a existência humana.

Em 2004 o governo Federal lançou o programa Brasil sem Homofobia, estimulando a criação do Projeto Escola sem homofobia, que por meio de convenio com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), elaborou material que seria distribuído às escolas de todo o país, o então chamado “Kit gay”, que teoricamente tinha objetivo de esclarecer e combater a Homofobia. Em 2011 quando estava pronto para ser impresso, graças ás campanhas em massa promovidas por setores conservadores, reformistas da nossa sociedade e do Congresso Nacional, o governo cedeu à pressão e suspendeu o projeto.

Este é um exemplo da importância de nos posicionarmos como os reformistas desta geração. Engenheiros em reforma e responsáveis pela reforma que queremos ver em nossa sociedade e nação.

Enquanto aguardamos a volta do dono desta engenhosa obra que é a criação humana, temos o compromisso seja como canos, engenheiros ou reformistas, de deixar nossa marca na história, fazendo diferença e sendo a diferença, assim como Lutero e todos os personagens da história que mesmo após 500 anos, estão vivos em nossa vida e nossa memória.