A questão das revistas de super-heróis

A QUESTÃO DAS REVISTAS DE SUPER-HERÓIS
Miguel Carqueija

Semanas atrás, durante a Bienal do Livro no Riocentro (Rio de Janeiro) ocorreu uma séria polêmica envolvendo o Prefeito Marcelo Crivella, que ordenou a apreensão de uma revista de super-herói (nem sei qual) porque a mesma apresentava um “beijo gay” — este o motivo alegado segundo o noticiário. Crivella veio a público e alegou que era necessário (aliás conforma manda a lei) preservar as crianças de coisas que não são adequadas à sua idade. E que a tal revista deveria ser plastificada, ensacada, por exibir conteúdo inadequado ao público infantil.
Bastou isso para que o mundo (esquerdista) desabasse sobre o prefeito e infelizmente até o STF se meteu no caso. A meu ver Crivella estava certo, mas só um pouco. Ele parece não ter enxergado a questão em sua abrangência.
Não li a revista em questão e não sei até que ponto a história é pesada. Sabemos que é um erro, mesmo um crime, sexualizar precocemente as crianças, pois isto equivale à pedofilia. Mas pessoalmente creio que os gibis de super-heróis ainda não têm no aspecto sexual o seu lado mais pesado e inconveniente. O grande problema é que nos tempos atuais esse gênero, outrora ingênuo, tornou-se, em quadrinhos e filmes, um desfile ominoso de ódio, violência, intolerância e teratologia, somando-se a tudo isso a estupidez dos enredos. Em português claro, os super-heróis norte-americanos, da DC e da Marvel, não são para crianças e nem, a meu ver, para adolescentes. São para adultos (de mau gosto). Fazem a apologia da brutalidade e da agressividade.
Não acredita no que eu digo? Faça a seguinte experiência. Entre numa dessas modernas bancas de jornal, que na verdade são quiosques, ou numa revistaria, e procure a bancada de revistas de super-heróis. Você verá que elas amedrontam já pelas capas, macabras e assustadoras. Experimente folhear uma delas. São, além do mais, confusas e incompreensíveis. O mundo dos super-heróis norte-americanos é um mundo caótico e horrendo. Um mundo paranoico e sem valores morais verdadeiros. Uma influência deletéria que, se posta ao alcance das crianças, as tornará agressivas e nervosas.
Não estou defendendo que tais publicações sejam proibidas, pois em tese não há mais censura. Nem que sejam envelopadas, pois isto iria causar o despejo de mais plástico nos oceanos, matando peixes e baleias. O certo mais certo é que as editoras sejam obrigadas a tarjar os exemplares, com a seguinte indicação: conteúdo impróprio para menores. Dessa forma a responsabilidade seria dos adultos: pais e demais responsáveis.
O assunto é complexo e pede um aprofundamento. De onde vieram essas revistas, esse gênero, e como foi sua evolução através das décadas? Por que séries que antes eram infantis tornaram-se adultas, e sem que os pais e a mídia percebessem, tanto que até hoje os super-heróis sejam utilizados em festas infantis, em roupas infantis, como se infantis fossem?
Voltarei ao assunto, se Deus permitir.




Rio de Janeiro, 22 e 23/10/2019

(imagem pinterest: Wolverine, dos X-men, é criação de Stan Lee e Jack Kirby; universo da Marvel)