A FAMÍLIA DE MORENO E LUÍSA EM SÃO GONÇALO - PB

O casal Joaquim Laurindo de Sousa (Moreno) (1898-1936) e Luisa Alves Batista teve os filhos:

- Maria Luisa (1918-2015), casada com Zé Possidônio, do DNOCS.

- José Laurindo de Sousa (1924-2008), casada com Francisca.

- Sebastiana, casada com o primo Lauro (filho de Tonha e Mormaço), que são os pais de Valdemar da gruta, Valda e Valquíria. O casal residiu em São Gonçalo e Belém-PA, onde se separou. Sebastiana faleceu na casa de Valdemar, na gruta.

- Terezinha (08/04/1926), casada com o carioca Osmar. Foi babá de Dr. Joaquim Carneiro, na década de 1930, tendo sido admitida no DNOCS na sua gestão, na década de 1960.

- Madalena, casou-se no Rio de Janeiro;

- Francisco;

- Rita Maria de Sousa (1936-1994), solteira, médica, faleceu de câncer, em João Pessoa.

Logo após o assassinato de Moreno, no dia 13 de fevereiro de 1936, no sítio Matinha, município de Água Branca-AL, próximo à divisa com Pernambuco, Lampião se retirou com parte do bando, para uma localidade próxima, ficando nos arredores da simples casa Maria Bonita e alguns cangaceiros do grupo. Em certo momento, o exibicionista cangaceiro “Gato” se dirigiu a Zé Laurindo, então com 12 anos de idade e, ainda choroso com a morte do pai, o amarrou pelas mãos. Prometeu que iria matá-lo, pois quando crescesse poderia querer vingar o pai. Em seguida, foi amolar o punhal em uma pedra e falou:

- Quando a polícia chegar por estas bandas, digam que Gato amolou suas unhas aqui.

Logo aparece Maria Bonita, a quem os cangaceiros tinham muita obediência. De imediato, a primeira dama do cangaço, comovida com a situação, ordenou que soltassem o garoto:

- Vocês ainda acham pouco o que fizeram com o pai dele?! Desamarrem o menino, agora!

A ordem fora cumprida prontamente pela cabroeira, sem discussão. Antes de partir com o restante do bando, Maria Bonita deixou certa quantia em dinheiro com Dona Luisa, para a alimentação das crianças. Ao sair, indagou:

- Agora a Senhora vai nos rogar muita praga por essa vida, não é?

- Não, Maria Bonita. Pois minha boca não é de praga. Entrego tudo nas mãos de Deus. – respondeu Dona Luisa.

Moreno foi sepultado numa rede, num dia atípico de chuva serena, como se os céus lacrimejassem, repartindo a imensa dor com a família do ex-cangaceiro, assassinado covardemente na presença da esposa e dos filhos.

Dias depois, Luisa, viúva com os seis filhos pequenos, foi morar em uma serra, próxima à cidade de Água Branca, até o ano de 1937. Depois, a família seguiu para a fazenda carnaúba, em Vila Bela -PE, e em seguida para Conceição do Piancó.

Posteriormente, no ano de 1938, a família passa a residir em São Gonçalo, onde já havia o açude. A família de Luisa chega sem nenhuma condição financeira, mas fora muito bem acolhida, de forma a amenizar o desmedido sofrimento vivido anteriormente.

Na época, a irmã de Dona Luisa, Dona Rosa Alves de Sousa (parteira), bem como o marido, Seu Bernardino José de Sousa, já moravam e trabalhavam como enfermeiros no hospital de São Gonçalo, desde o final do ano de 1936, advindos de Boqueirão. Desta feita, Dona Rosa consegue com Dr. Francisco Carneiro emprego para Dona Luisa, como lavadeira, e Zé Laurindo, ambos no hospital, no ano de 1940.

O casal Rosa e Bernardino teve os filhos, Chico, nascido em 1936, em Boqueirão, e Titica , nascida em 1939, em São Gonçalo. A família morava na Rua do Túnel. Seu Bernardino era tio das irmãs, Marcelina Rosa, mãe de Seu Zé Deodato e Secundina Ehrich; Dona Zefinha, esposa de Seu Doroteu; e Maria Rosa, casada com Seu Chico Galdino e mãe de Dina (enfermeira), Nam e Rosa.

Bernardino José de Sousa, natural de Lavras da Mangabeira-CE, chegou a Boqueirão de Piranhas em 1932, onde conheceu Dona Rosa. Inicialmente, foram aproveitados como cozinheiros do hospital local, durante a construção do açude. Depois, foram treinados por Dr. Francisco Carneiro, como enfermeiros. Era irmão de Dona Rosinha, mãe de Dona Maria (mãe de Dina, Nam e XXX), Dona Zefinha (esposa de Doroteu Passos) e Dona Rosa (mãe de Secundina Ehrich e Zé Deodato)

Em 1942, aos 18 anos de idade, Zé Laurindo foi alistado para a região amazônica, servindo como "Soldado da Borracha", nome dado aos brasileiros que entre 1942 e 1945 foram convocados e transportados para a região, com o objetivo de extrair borracha para os Estados Unidos, durante a II Guerra Mundial. Zé Laurindo, depois de alistado, examinado e dado como habilitado em Fortaleza, partiu rumo à floresta. Após o cumprimento da árdua missão, retorna para São Gonçalo são e salvo. Convém ressaltar que morreram mais de 30 mil homens que serviram na floresta amazônica no período, em decorrência de doenças (malária, febre amarela, hepatite), ataques de onça, entre outras causas.

Em 1950, Zé Laurindo casa-se em São Gonçalo com Francisca Pereira, época em que trabalhava no DNOCS na minúscula hidrelétrica do açude de Boqueirão. Ele era o responsável por ligar e desligar a energia elétrica que alimentava o povoado de cerca de três mil habitantes, e possuía uma linha de transmissão de energia para São Gonçalo.

Depois do nascimento do filho, Tiago, o primogênito, em São Gonçalo, no ano de 1952, Zé Laurindo e família foram residir em Boqueirão, local em que já trabalhava. A família, porém, tornou a residir em São Gonçalo a partir do ano de 1956.

No início da década de 1960, Zé Laurindo costumava receber em sua casa a visita de seu amigo telegrafista do DNOCS, Valdemar, após o jantar, para conversarem sobre os mais variados assuntos: política, religião, História do Brasil, entre outros, sob a inteira atenção dos seus filhos.

Segundo Sousa Filho (2008), os dois amigos jogavam conversa fora durante horas. O que mais atraía a atenção das crianças eram as histórias, notadamente, aquelas relacionadas a Lampião e Moreno, avô da garotada. Zé Laurindo costumava contar várias vezes a história brutal da morte do seu pai, presenciada pela sua mãe e pelos seis filhos pequenos.

Sobre este assunto, Sousa Filho (2008) narra:

Quando a conversa descambava para o lado do Amazonas, então, era uma festa para os nossos ouvidos. Era uma glória ouvir as aventuras das quais meu pai dizia ter sido principal protagonista nas aventuras, rio acima, rio abaixo, manobrando a lancha do seu patrão, o “comandante” Morais. Ou quando, como “soldado da borracha”, entrava naqueles seringais infestados de piuns, aranhas, surucucus, jararacuçus, onças e outros bichos tão perigosos quanto.

Escutar pela vigésima vez a estória da onça pintada que ele matou quando estava talhando uma seringueira, de costas para o bicho. Já sabíamos de todos os detalhes e mesmo assim continuávamos atentos, acompanhando como num seriado todos os pormenores, como se aquela fosse a estória mais inédita do mundo. Mesmo sem nunca ter visto uma seringueira, aprendemos como se fazia para colher o látex: fazia-se uma bandeira. Só não podíamos explicar como diabos era isto. E quando, numa festa, deu um tiro numa coruja que estava do outro lado do rio - e acertou. Causou admiração em todos os presentes, e impôs respeito com a façanha. Foi penoso o episódio de quando passou vários dias tremendo de febre dentro de uma rede. Quase morreu dessa malária (e eu não estaria ouvindo então, tampouco, hoje, recontando a estória). Chegou a fazer um pacote de todos os documentos e entregá-los ao patrão para que ele enviasse para a família na Paraíba. Nós, nesse estado tão seco e de sol tão quente, sabíamos como os passageiros das gaiolas armavam suas redes umas por cima das outras e como era o sofrimento dias e dias viajando ao longo daqueles rios imensos. Tinha também a história do gol que ele marcou quando jogou em um time em Boca do Acre.

No DNOCS, Zé Laurindo também trabalharia no Setor de Telegrafia. Em São Gonçalo, exerceria, ainda, a atividade de técnico de futebol de algumas equipes do acampamento. A família, evangélica, congregava na igreja Batista de São Gonçalo.

Em meados da década de 1970, após se aposentar, passa a residir em Campina Grande, falecendo no ano de 2009, aos 85 anos. Zé Laurindo e Francisca tiveram sete filhos, todos naturais de São Gonçalo. O filho Tiago, fez parte da primeira turma do Ginásio Comercial Guimarães Duque, com início no ano de 1963 (admissão ao ginásio) e conclusão no ano de 1967. Atualmente, Tiago é desenhista/projetista da empresa Eletrobras Eletronorte, em Brasília. Joaquim Laurindo de Sousa Neto, conhecido como Pepê, outro filho de Zé Laurindo, cujo nome foi herdado do avô ex-cangaceiro, é professor no município de Ponte Alta do Bom Jesus, no estado do Tocantins, onde possui uma biblioteca em sua residência com mais de nove mil livros de diferentes áreas do conhecimento. Enquanto Demóstenes, também filho casal, jogava futebol em equipes de São Gonçalo e possuía o impressionante dom de desenhar as pessoas.

Um fato interessante em 1956, aconteceu com Dona Luisa, que residida na Rua do Túnel, foi atravessar a antiga ponte de ferro em direção ao hospital, onde trabalhava. Ao chegar ao meio da ponte, que era bastante estreita e perigosa, teve uma crise súbita e forte de tremores, ficando sem condições de continuar ou mesmo de retornar. Zé Tarzan, garoto na época com 14 anos, que estava nas proximidades do local, ao ver a cena, adentrou na ponte e resgatou Dona Luísa. Se não fosse a coragem do adolescente, talvez tivesse acontecido um acidente sério com Dona Luísa. Exatos vinte anos após ter escapado da fúria impediosa de Lampião, que vitimou o seu esposo, Dona Luísa agora era salva graças à bravura de um menino de São Gonçalo.

No ano de 1969, Luísa se muda de São Gonçalo, onde residiu por mais de três décadas, indo morar com as filhas Rita (solteira) e Madalena (viúva) na cidade de João Pessoa, onde faleceria no ano de 1981, aos 87 anos. A casa que Luisa morava em São Gonçalo, na Rua Mecânica, passou a ser ocupada pela família de Dona Maria Gaspar, que reside no local até hoje.

Rita, irmã de Zé Laurindo e filha mais nova de Luisa, nascera um mês após o trágico assassinato do pai, no dia 13 de março de 1936, com sequelas físicas na perna e no braço, em decorrência do forte trauma emocional sofrido pela mãe. Rita também terminaria o ginásio na primeira turma concluinte de São Gonçalo, em 1967, aos 31 anos de idade. Em seguida, faria o 2º Grau em João Pessoa, onde também concluiria o curso de medicina na Universidade Federal da Paraíba, no final da década de 1970, exercendo a profissão até a sua morte, ocorrida no ano de 1994, aos 58 anos de idade, vitimada por um tumor cerebral.

Maria Luisa, filha mais velha do casal Moreno e Luisa, vive atualmente em Campina Grande. Ela era casada com Seu Zé Possidônio, ex-funcionário do DNOCS em São Gonçalo. Um dos filhos do casal é o policial Joaquim, que morou com o autor desta obra em uma república de estudantes em Campina Grande, nos anos de 1988 a 1991.

A família de Moreno possui, ainda, relação de parentesco com a família de Seu Adauto, motorista, casado com Dona Maria José, professora tradicional do acampamento, nas décadas de 1950 e 1960. Dona Maria José também era bastante ligada às atividades religiosas da capela de São Gonçalo. Seu Adauto era filho de Dona Isabel (irmã de Dona Luisa) e do ex-cangaceiro Sebastião Grande (cabra de Sinhô Pereira), que tinha esse apelido por ser alto, e que por sinal era filho de Baião do Crispim, irmão de Moreno.

Dona Luisa teve os seguintes irmãos:

- Antonia (Tonha), casada com o cangaceiro Mormaço. O casal residiu em Vila Bela, atual Serra Talhada. São os pais de Lauro, pai de Valdemar da gruta.

- Isabel, casada com o cangaceiro Sinhô Grande, que são os pais de Seu Adauto (motorista). Morou na Fazenda Bom Nome, em Vila Bela.

- Dona Rosa, casada com Bernardino. O casal criou 14 filhos, sendo 2 biológicos e 12 adotivos. Era arrendatária de uma das ilhas do açude, bem como de parte da extensão de terras da medidora, onde possuía um imenso sítio de frutíferas.

- Maria Alves, casada com Antonio Solteiro, que são os pais de Dona Preta, esposa de Zé Pretinho, que fora criada por Dona Rosa (sua tia). O casal morou em Boqueirão de Piranhas e na Serra do Vital;

- Marcolina, solteira. Foi criada pelo cel. Antonio Pereira, em Vila Bela, depois na fazenda Bom Nome, e em seguida para São Gonçalo, onde atuou como a governanta da casa de Dr. Francisco Carneiro.

- João, radicado em Conceição-PB, onde fora criado pelo Senhor Francisco de Oliveira Braga, pai do ex-governador da Paraíba, Wilson Braga;

- Alexandrina, radicada em Recife-PE; Zeca,

- José (Zé Tomaz), radicado no Amazonas;

- Manoel, radicado na terra de origem da família, Serra Talhada-PE, chegou a morar em São Gonçalo.

Luisa Alves Batista (25.08.1894-22.07.1981 - Campina Grande) era filha de Tomaz Antonio de Vila Nova e Francisca Alves Batista.

Josemar Alves Soares
Enviado por Josemar Alves Soares em 19/08/2020
Reeditado em 09/04/2024
Código do texto: T7040077
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