Personagens que não são o que parecem

Sempre se diz que não devemos julgar ninguém pela aparência mas a verdade é que sempre o fazemos. Basta uma pessoa ter um jeito que achamos antipático e já começamos a dizer que ela nos parece chata e arrogante. Não é incomum que depois descubramos que a pessoa não era nada daquilo e dois personagens de mangás que fizeram bastante sucesso entre os jovens mostram bem como a aparência pode não dizer nada sobre a real natureza de alguém.

O primeiro é o mangá shounen* Angel Densetsu, de Norihiro Yagi, sobre um adolescente, Kitano Seichirou, que todos julgam ser um terrível delinquente ou mesmo um demônio por causa de sua aparência horrenda e demoníaca, que o torna parecido com um ser maligno. A história começa com Kitano indo estudar em um novo colégio, onde espera fazer amigos. Porém, por causa de seu rosto, ele é sempre mal interpretado, mesmo quando tem as melhores intenções. Logo no primeiro dia de escola, Kuroda, o líder dos delinquentes da escola, morre de medo dele e lhe dá o título de líder, sem que Kitano o entenda. Kitano procura sempre fazer o bem mas se mete nas situações mais inusitadas: pensa que um delinquente que pretende esfaqueá-lo quer se matar, arruma briga com os delinquentes de outra escola quando quer apenas devolver uma carteira e faz com que pensem que é um valentão quando não possui nenhuma agressividade. Tudo isso provoca situações de humor inusitado.

Outro mangá bastante interessante é Peach Girl (Garota Pêssego), mangá shoujo** de Ueda Miwa, que conta as desventuras amorosas de uma jovem chamada Momo(pêssego em japonês), que é alvo de fofocas e inveja por causa do tom bronzeado de sua pele. Como a sociedade japonesa é muito conservadora, o fato de Momo ter uma pele bronzeada – devido ao fato de ter feito natação por muitos anos – e o cabelo descolorido faz com que muitos a julguem uma garota fácil*** do tipo que aceita se prostituir para poder comprar itens caros. Mas Momo, na realidade, é uma garota normal, sonhadora, que sonha conquistar o coração do bonitão da escola e é alvo da paixão de outro rapaz. Além dos falatórios maldosos a seu respeito, a pobre garota tem que lidar com sua falsa amiga, Sae.

Os dois mangás são muito bons em criticar a sociedade, mostrando bem como julgamos as pessoas antes de conhecê-las bem e, no caso de Peach Girl, há uma dura crítica social. O padrão japonês de beleza feminina é o da moça de pele branca e delicada, mignon e frágil. Momo destoa do padrão por ser bronzeada e atlética, o que faz muitos pensarem que é uma moça fútil que passa o tempo fazendo compras, aceita qualquer coisa por dinheiro e faz bronzeamento artificial. Devido a isso, a garota sofre preconceitos indevidos.

Como vemos bem, os dois mangakás mostraram bem como nós costumamos tirar conclusões precipitadas e como esses preconceitos provocam mal entendidos. As pessoas temem Kitano, não entendendo que ele é uma pessoa de coração bondoso e julgam Momo uma moça fácil quando ela não é nada disso.

*mangás para rapazes.

**mangás para moças adolescentes

***embora a prostituição não seja regulamentada no Japão, meninas em idade colegial podem ser pagas para se encontrar com homens adultos, podendo esses encontros ser de simples jantares ou sexuais. Como a moda é cara nesse país, algumas meninas se prostituem para poder comprar os acessórios da moda. Meninas de pele bronzeada e cabelos descoloridos não são bem-vistas porque se entende que se prostituem para fazer bronzeamento artificial, tingir os cabelos e usar outros acessórios. A sociedade japonesa é conservadora e qualquer jovem com um comportamento mais irreverente já pode ser considerado subversivo.