*Que dia é hoje?

Que dia é hoje?

Caso estivéssemos participando de uma conferência virtual, com pessoas de localidades diferentes do mundo, fato muito em voga atualmente e, de repente, alguém perguntasse que dia é hoje, é claro que eu não saberia responder. Para uma questão simples como essa, eu teria que fazer um estudo mais acurado sobre o cronos.

Já tivemos de tudo, inclusive “a década perdida”, uma referência à economia da América Latina, no período de 1970 a 1980. Só que essa referência é somente uma citação simbólica, pois na realidade, alguns dias já sumiram do calendário, misteriosamente, e quase ninguém sabe. O ano de 1980 foi chamado de o “ano que não existiu”, pois foi considerado apenas de festas, frustrações e prejuízos. Tivemos Ano Novo, Carnaval, Quaresma, Semana Santa, São João, Copa do Mundo, eleições, vestibulares e resultados de vestibulares que, na época, se constituíam baitas eventos.

A história do calendário nos leva à Mesopotâmia, mas daremos um salto no tempo, porque, afinal, nosso tempo é feito de contratempos.

• Calendário romano:

Conta-se que o calendário romano foi instituído por Rômulo, aproximadamente 753 anos a.C., quando da fundação de Roma. Constituía-se apenas de 304 dias, espalhados em dez meses, e tinha como base os ciclos da lua. Apresentava distorções absurdas, pois os 61 (sessenta e um) dias correspondentes ao inverno ficavam de fora.

Foi Numa Pompillio, o segundo rei de Roma, quem empreendeu uma reforma, introduzindo os meses de Januarius, em homenagem ao pai de seu colega, Rei do Baião, Luiz Gonzaga, e Februarius, para agradar à deusa Februa, mãe de Marte.

Com isso, o ano passou a ter 355 dias e foi baseado no calendário grego.

Acontece que os problemas, embora diminuídos, continuaram, pois existiam anos irregulares com 355, 377 e 378 dias. Era um calendário lunissolar, baseado nos movimentos da Lua e do Sol, que perdurou até o ano 46 a.C.

• Calendário juliano:

Por aquele tempo, existia em Alexandria, no Egito, um astrônomo de nome Sosígenes. Pouco se “xabe” sobre ele, mas consta que ele fora chamado por Júlio César, o então rei de Roma, para refazer o calendário. Eu imagino que o rei estava muitíssimo preocupado com a folha de pagamento de seus corta-jacas.

Essa reforma feita por Sosígenes transformou o calendário em solar, semelhante ao calendário egípcio. Passou a ter doze meses, com 365 dias e com o acréscimo de um dia a cada quatro anos percorridos. O ano passou a ser iniciado no dia 1° de janeiro e não mais no dia 1°de março, como no calendário romano. Isso acabou causando uma anomalia, mas que poucas pessoas se dão conta. Como explicar hoje, por exemplo, que o mês SETEmbro é o nosso mês 9, OITObro é o 10, NOVEmbro é o 11 e DEZembroo 12?

O ano 46 a.C. ficou conhecido como o Ano da confusão e teve apenas 443 dias. Os outros foram para o espaço!

• Calendário gregoriano:

Esse calendário veio para corrigir uma diferença de dez dias. O Papa Gregório XIII reuniu alguns astrônomos e matemáticos, para reformular o calendário juliano. Após cinco anos de estudos, o Papa promulgou o bula “inter gravíssimas”, (em bom Latim = entre os mais sérios), no dia 24 de fevereiro de 1582, mas só passou a valer, de verdade, a partir do dia 15 de outubro do mesmo ano.

Para quem não entendeu, o dia 15 de Outubro de 1582, na realidade era 05/10/1582. Com isso, dez dias desapareceram sem deixar rastros nem sombras. Agora, pensem na confusão gerada na mente das pessoas simples como eu!

Ninguém pense que só porque o papa ordenou, a lei pegou de imediato. Apenas a Itália, Espanha, Portugal e Polônia aceitaram de imediato, mesmo porque, nessa época, ainda havia muitas farpas entre católicos e protestantes, que se arrastavam por conta dos desentendimentos com Lutero, Calvino & Cia Ltda. Países protestantes como Alemanha, Suíça, Holanda, Noruega e Dinamarca somente aderiram ao novo calendário 118 anos depois, ou seja, no ano 1700. A Suécia e a Finlândia, em 1753. Os países dominados por reis católicos foram aderindo normalmente, com o andar do jegue.

Com a criação do calendário gregoriano, ficou estabelecida a divisão das eras em duas: antes de Cristo e depois de Cristo (a.C. e d.C.).

Com isso, Jesus teria nascido no ano 1 do século I. Ora, no século VI, nasceu na Cítia Menor, hoje Dobruja, na Romênia, uma criança que, mais tarde, seria versada em Astronomia e Matemática e se tornaria frade, com o nome de Dionísio, o Menor. O cara encasquetara que algo estava errado no calendário gregoriano e começou a refazer os cálculos, tendo como fonte as citações do Evangelho que diziam que Jesus teria nascido durante o governo do Tetrarca Herodes e no período do recenciamento, ordenado por Quirino. Não deu outra! Embora hoje se diga que Dionísio também errou, o certo é que Jesus não nasceu no ano 1. Talvez no ano 4. Assim, o Cristo nascera no ano 4, depois Dele mesmo. Se você entendeu, explique-me, porque eu não estou entendendo mais “nadinha” da silva.

O calendário gregoriano passou a ser regido pela volta que a terra dá em torno do sol, que dura 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos, gerando um dia de 23 horas, 56 minutos e 04 segundos.

Qualquer brasileiro desavisado que desembarcasse hoje, 15/01/2021, em Jerusalém, ao visse a data no painel eletrônico, se sentiria no futuro: 29 de Tevet (quarto mês do ano judaico) do ano 5.781. Caso atravessasse a fronteira rumo à Palestina, ficaria ainda mais embabascado, pois teria retroagido mais de 4300 anos antes do pôr do sol. Lá, eles estão ainda no ano 1442, pelo calendário islâmico.

Essa diferença toda se deve ao fato de que o calendário judaico tem como origem a suposta data da criação do mundo, estipulado como sendo 7 de outubro de 3760. Bem, isso me deixa num beco sem saída, porque há de se perguntar aos judeus: Retroagindo do ano 3760 ao ano Zero, havia o quê?

Já o calendário islâmico se origina na data em que Maomé fugiu de Meca para Medina, em 16 de Julho de 622. Meca e Medina são duas cidades da Arábia Saudita. Acontece que, se alguém por curiosidade diminuir 622 de 2021, terá um resto de 1399. Com isso, constatará que há uma diferença matemática de 43 anos. Isso justifica porque o ano islâmico tem onze (11) dias a menos que o calendário gregoriano.

Afora esses, ainda temos o calendário Juche, baseado no sistema de numeração de anos, utilizado na Coreia do Norte. Lá, eles estão no ano 105. A República Popular da China, embora use o calendário gregoriano como oficial, também tem um calendário próprio para as festividades, um calendário lunissolar. Segundo consta, eles estão no ano do Rato de 4718.

Resta, ainda, o calendário etíope ou Eriteu que, além de civil, é também religioso.

• Calendário litúrgico:

Embora o calendário gregoriano seja fruto da Igreja Católica, a própria Igreja tem um calendário à parte, que começa no Primeiro Domingo do Advento, cerca de quatro semanas antes do Natal. Serve para as celebrações religiosas.

Mesmo com todas essas trapalhadas, é de se louvar e muito a inteligência desses cientistas monstros, que se dedicaram às observações astronômicas, com materiais rústicos, sem patrocínios e com prejuízo da própria saúde. Sabemos que o telescópio de Hans Lippershey, inventado somente em 1600, foi que serviu de base para Galileu Galilei. Ou seja, algo bem recente. Portanto, o que está atrás é surpreendente e inimaginável.

Então, será que você é capaz de responder a esta simples indagação: Que dia é hoje?