A errância do desejo e o desejo genuíno do sujeito

Introdução

Não há bons ventos para uma nau que

não sabe onde vai

Sêneca

Este trabalho visa pensar a errância do desejo e os bloqueios do sujeito quanto a assumir seu desejo autêntico e verdadeiro, sob o prisma teórico-clínico em psicanálise. A errância do desejo consiste na condição psíquica sob a qual o adulto se dirige a objetos, interesses, funções e atividades bastante distantes de seu desejo mais original e genuíno. Esse estado de coisas sinaliza suas dificuldades de encontro de seu eu e deriva de seu trauma com as figuras parentais. A princípio, apresentam-se reflexões de alguns psicanalistas que abordam questões relacionadas à temática. Ao lado dessas contribuições teóricas, hipóteses investigativas da autora sobre o desejo, o trauma do absoluto e o sistema das representações ampliam a compreensão do caso clínico apresentado adiante. Na próxima seção, dados clínicos – associados à errância do desejo e aos bloqueios do desejo autêntico – derivam do uso do método clínico psicanalítico.

Considerações psicanalíticas relativas a aspectos da errância do desejo

À medida que a errância do desejo se vincula aos paradoxos e à confusão mental, as produções teóricas de dois psicanalistas são essenciais para compreendê-los.

Racamier (1991) define o paradoxo como uma formação psíquica, que liga duas proposições contraditórias de maneira indissociável. Ele se forma quando a percepção da criança é desqualificada por seus pais, cabendo-lhe crer em seus sentidos ou no objeto e, mais, escolher entre a confiança em seu eu e o amor do objeto. Essa agressão ao seu eu suscita, nela, um ódio intenso. Por sua vez, Rosenfeld (1991) afirma que estados confusionais são comuns no desenvolvimento normal e no patológico. Quando predominam os impulsos destrutivos, os impulsos libidinais não se diferenciam dos destrutivos, nem os objetos bons são diferenciados dos maus. Com isso, eles são percebidos como confusos.

Os estados infantis de confusão têm relação com os estados confusionais do adulto.

Acrescentam-se a essas contribuições psicanalíticas, as propostas teóricas da autora que auxiliam o entendimento do tema desse trabalho.

O desejo, o trauma do absoluto e o sistema das representações

O desejo constitui-se como um espectro de representações e de afetos, que rege o conjunto de forças psíquicas. Em princípio, ele promove movimentos psíquicos em direção aos seus objetos de satisfação com o objetivo de se realizar no mundo. Em contraste com isso, os bloqueios na satisfação do desejo se devem a sua fixação em certas representações e afetos, que impedem sua realização no mundo. Esses bloqueios do desejo se devem à herança psíquica do trauma do absoluto (Almeida, 2003; 2005; 2016).

O trauma do absoluto é constituído por representações sobre-investidas por ódio e horror: ser abandonado, desamparado, rejeitado, fracassado, derrotado, devedor, não-amado, bem como ser um sábio invulnerável e inatingível numa montanha inexpugnável. E, ainda, ser um nada, ser impossível realizar seu desejo e ser absolutamente proibido efetivá-lo. Dentre as suas categorias, há as representações catastróficas relativas a uma catástrofe relacional entre pais e filhos: ser abandonado, ser fracassado, p. ex. Suas representações de tempo são: para sempre, ser infinitamente submetido a um terrível sofrimento e ser amaldiçoado ad aeternum. Suas representações de espaço são: sem lugar no mundo e não pertencer a esse mundo. Dentre as representações de paradoxos há: cheio e vazio; inclusão e exclusão; ganho e perda e, ainda, apogeu e queda. Quanto às representações de desorganização da matéria há: ser morte e estar morto. Outros elementos mentais demarcam-no: o intenso conflito do sujeito entre amor e ódio a si e aos seus objetos primários/pais; seu enorme conflito entre a ruptura e o vínculo com esses objetos; seu horror aos demais objetos de seu desejo – objetos humanos e objetos materiais, bem como seus bloqueios à atualização de seu desejo no mundo das relações (Almeida, 2003; 2005).

Esse trauma se articula à economia psíquica da metapsicologia freudiana. Para Freud (1915b), o enfoque econômico considera as alterações das quantidades de excitação. No inconsciente há conteúdos catexizados com maior ou menor força.

O trauma do absoluto depende da sobrecarga de afetos disruptivos − ódio e horror − em certas representações, que impede o investimento de amor em outras. A intensa concentração energético-afetiva daqueles afetos nas representações do absoluto configura uma alteração econômica, que dificulta o fluxo das demais representações. Com isso, ele embarga a mudança psíquica do paciente/herdeiro de um trauma impregnado nas gerações da família. Portanto, esse trauma ancestral faz deslizar a cadeia de conteúdos traumáticos de sua família, inibindo a força de seu desejo. Esse material psíquico compõe seu sistema representacional (Almeida, 2003; 2005).

O sistema representacional detém a propriedade de representar os diferentes impulsos, relações de objeto e estados mentais do sujeito. Todavia, a efração causada por esse trauma desorganiza esse sistema, alterando sua capacidade representativa. Mais especificamente, o ódio e o horror fixam suas representações no estrato consciente do sistema: ser abandonado, ser desamparado, ser rejeitado, p. ex. Sua fixação dificulta a realização do desejo do adulto, junto aos demais. Nos estratos inconscientes do sistema ficam as representações favoráveis ao exercício pleno do desejo: ser amado, ser vencedor, ser bem-sucedido, ser excelente, ser competente, ser inteligente, ser digno, ter méritos próprios, merecer o melhor, entre outras (Almeida, 2003; 2005).

A clínica

Como fundamento clínico desse trabalho, inclui-se um caso ilustrativo da errância do desejo. Nesta seção, as aspas simples retratam as falas literais da paciente. O recurso do itálico acentua as representações e afetos da paciente, ao passo que o travessão visa deixar a descrição mais clara para o leitor.

A paciente chega num estado que evoca o de uma natimorta: deprimida, com medo de enlouquecer e com um paradoxal medo e desejo de morrer. Ela estava se deparando com um campo de atração e repulsão especular: sua mãe adoentada, morta-viva e mortífera para com ela. Inversamente proporcional foi seu investimento no irmão da paciente, que nasceu adoentado e frágil. Com seu nascimento, ela se sentiu desamparada, abandonada e rejeitada por sua mãe. Afundou-se na carteira da escola e se desinteressou do estudo. Ela fora estimulada a estudar por seu pai, mas se recusou a fazê-lo após o nascimento do irmão. Sua avó materna e seu pai eram amorosos com ela, mas morreram cedo. Após a morte do marido, sua mãe investiu o filho como uma espécie de par amoroso, não tendo cortado a ligação fusional com ele, mesmo quando adulto. Sua mãe fica adoentada na iminência de ele se afastar dela, tanto no caso de seu retorno à cidade em que trabalha, quanto no de sua aproximação de possíveis namoradas. Além do mais, sua mãe continua favorecendo seu irmão na vida adulta, tendo lhe dado um apartamento e um carro novos. À paciente resta pagar aluguel e andar com um carro velho.

Já adulta, ela morou com o marido numa comunidade alternativa, usou cocaína e viveu ao sabor de uma vida errante não dirigida por ela. Então, defrontou-se surpresa com a criação dos três filhos, que a remetiam ao lugar indesejado de mãe: ao vazio e à morte. Seus primeiros filhos são gêmeos: duplo espelho de sua própria rejeição a si e a sua mãe. O desinteresse de ambos quanto à vida e ao estudo – como ocorreu com nela − era motivo de brigas entre eles. Eles evocavam seu temor de ela ser um nada, duplicando seu fracasso na vida. Especialmente fixada ao terceiro filho, que nasceu frágil e adoentado, ela muito batalhou para que ele vivesse. Assim, ela revivia com os três filhos, sua própria história com sua mãe e seu irmão. Dividida entre a rejeição e a adoção de sua mãe como modelo de identificação, ela elegera a sogra como modelo alternativo, inclusive por ela ajudar no sustento de sua família.

Com a análise, sua peregrinação em busca de si mesma levou-a por duas veredas: uma materno-feminino-amorosa e outra profissional. Quanto à primeira, ela se desvencilhou da sogra como substituto materno, depurou facetas maternas destrutivas e burilou seu estilo de ser mãe, mulher e esposa. Retomou a direção da educação dos filhos, solidificou sua relação com eles e com o marido, com quem está casada há vinte anos. Deixou de ser a mãe das amigas desencaminhadas e desprotegidas. Com relação à segunda vertente, descolou-se dos sogros como sustentáculos financeiros e abriu uma micro-empresa, lutando muito para ganhar seu próprio dinheiro. Contribuía para o vestuário da família, ainda que ganhasse pouco com seu trabalho. Resgatou seu desejo de estudar, entrou numa faculdade de humanas e terminou o curso. Transformou-se numa aluna dedicada e competente, numa mãe zelosa e numa profissional batalhadora. Contudo, ela não integrava o valor de seu trabalho e tampouco o valor de suas conquistas, como estudante competente e aplicada.

Sob uma espécie de autotortura, ela tratava seus empreendimentos à maneira de Sísifo: seu esforço era imenso, mas assumir seu valor e desfrutar de suas conquistas eram impossíveis para ela. Como um herói-mártir que reúne ganhos e perdas, ela revelou sua paradoxal identificação com ganhadores e perdedores. Ela sentia inveja e raiva dos vencedores, não conseguindo se reconhecer neles; porém, com os perdedores fazia uma aliança destrutiva, que a impedia de atingir seus ideais. A despeito de sentir uma urgência de realizar seu desejo, inúmeros processos do sistema representacional se contrapunham a ele. Assim, o ganho virava perda e as representações de cheio e vazio se confundiam paradoxalmente. Além do mais, a urgência de realizar seu desejo colocava o ganho no tempo do imediato, de modo que a demora de sua satisfação era vivida como um perde-perde. Por outro lado, ainda que sentisse forte ansiedade ao realizar seus projetos de vida, ela comprovava sua competência ao fazê-lo. Sua rejeição por parte de sua mãe era vivida como absoluta, como se percebe nas frases: ‘ou consigo um lugar ao lado da minha mãe ou não tenho nada, não tenho nenhum lugar no mundo’ e ‘vou ficar para sempre com esse ódio’.

Em meio a isso, ela vai fazendo ver à mãe as diferenças de tratamento entre ela e seu irmão. Nesses avanços e recuos de amor e de ódio a sua genitora, ela batalhou longa e arduamente − em nome da mãe − por uma casa disputada judicialmente com seus tios e disputada afetivamente com seu irmão. Tal propriedade era idealizada por ela, visto ser uma herança da amada avó materna. Finalmente, ela ganhou essa casa de sua mãe, que priorizou seu desejo em detrimento do filho – pela primeira vez. Ela começou a diferenciar as facetas de seu desejo: ser reconhecida como filha especial pela mãe, fazer uma aliança construtiva com ela, ter uma casa própria e herdá-la sob o selo do amor da avó materna. A despeito dos aspectos positivos dessa herança, ela teve muita dificuldade de integrar essas facetas de seu desejo. Assim, na sessão posterior à aquisição da casa ela chegou mergulhada em dor, insatisfação e infelicidade. Sua mente estava tomada pelos paradoxos do cheio-vazio, inclusão-exclusão e ganho-perda. Um imenso vazio anulou a vivência do cheio, impedindo-a de se sentir preenchida quanto à realização de seu desejo. E, mais, sua vivência de perda anulou seu ganho atual e sua vivência de inclusão no mundo materno foi minada pela de exclusão – longa e frequentemente repetidas em sua vida psíquica. Dessa forma, seus ganhos e sua inclusão misturavam-se a amor e ódio, à bondade, maldade e neutralidade, assim como a morrer e a enlouquecer. Elas se confundiam com seu desejo de morte de sua mãe e com sua proibição interna de desfrutar bens tão desejados por ela. Porém, em sua briga com o irmão pela casa, ela deixou de ser boazinha, sua mãe deixou de ser má e seu irmão deixou de ser neutro. Enfim, com a análise, ela mudou antigas representações de si – ser negligente, ser incompetente, ser descuidada e ser relaxada – que, anteriormente, estavam no plano do imutável. Sua mudança cedeu lugar a ser dedicada, ser competente, ser zelosa ser batalhadora, ser ganhadora e ser vencedora, entre outras.

Discussão

Nesta seção, o uso de itálicos tem por objetivo destacar as representações e afetos da paciente, bem como suas mudanças na análise. O uso do travessão visa deixar o presente relato mais claro para o leitor.

Visando discutir a errância do desejo e os bloqueios do sistema representacional quanto à assunção do desejo mais autêntico e verdadeiro da paciente, cabe pensar os elementos psíquicos associados a isso. As perdas precoces de seu pai e de sua avó traumatizaram-na profundamente, de maneira que seu desejo de ganho esbarrou com a impossibilidade de ele ser satisfeito. Assim, o ganho foi representado como eterna perda, impossível e inatingível – e se confundia com ser impossível desfrutar suas conquistas. Além disso, seus ganhos misturavam-se a amor e ódio a sua mãe e, também, às representações paradoxais de ela ser boa e ser má, de estar morta e de ser louca – estando viva e sendo lúcida. Seu desejo de ser incluída por sua mãe foi minado pela experiência de ser excluída por ela. Seu desejo de se sentir cheia/preenchida de amor por parte de sua mãe sucumbiu à vivência de sentir-se vazia. Sendo assim, suas representações paradoxais de estar cheia e estar vazia, bem como de ser incluída e ser excluída se misturavam de forma confusa. Nesse contexto, seu valor por ser dedicada, aplicada, competente, zelosa e batalhadora – na atualidade – entrava em conflito com ser negligente, incompetente, descuidada e relaxada – em sua anterior vida errante (Almeida, 2015).

Tendo-se em vista os vários paradoxos presentes no sistema representacional da paciente, faz-se necessário retomar Racamier (1991). Ele define o paradoxo como uma formação psíquica, que liga duas proposições contraditórias de maneira indissociável. Essa agressão ao seu eu suscita um ódio intenso, na criança.

Seu sofrimento mental era enorme e sua dificuldade de mudá-lo em análise também o era. Nessa época, sua original rejeição por sua mãe era vivida como absoluta, como em: ‘ou consigo um lugar ao lado da minha mãe ou não tenho nada, não tenho nenhum lugar no mundo’ e ‘vou ficar para sempre com esse ódio’. Em confronto com isso, sua rejeição à sua mãe e seu desejo pelo amor dela eram absolutos paradoxais, vividos como falta absoluta de espaço no mundo. Paradoxalmente, ela tinha medo de seu ódio, mas cultivava-o com prazer: tinha muito prazer em odiar sua mãe e seu irmão. Portanto, sua identidade se sustentava em seu ódio a esse objeto materno destrutivo. A esse contexto psíquico, se juntavam o investimento amoroso de seu pai e de sua avó materna, assim como o desinvestimento materno quanto a ela (Almeida, 2003; 2005).

O break representativo do sistema representacional compreendia seu voto de ódio eterno à figura materna, seu grande prazer ao cultivar o ódio a ela, seu ódio a si, sua inscrição sob o tempo-espaço assoberbado de ser sofredora para sempre e sem lugar no mundo. Além disso, a realização de seu desejo tornou-se inatingível e impossível, dados seus paradoxos do cheio-vazio, ganho-perda, inclusão-exclusão. A despeito das integrações promovidas pela análise, as desintegrações do sistema faziam com que o ganho virasse perda e que a urgência do ganho imediato fosse vivida como perde-perde. Ao lado disso, sua paradoxal confusão entre ser vencedora e ser perdedora a impedia de atingir seus ideais mais recônditos (Almeida, 2003; 2005).

Em sua vida adulta, a errância de seu desejo se expressava na escolha de objetos – sua sogra como modelo alternativo à sua mãe; em seus interesses – usar cocaína; em suas funções – ser a mãe das amigas desencaminhadas e desprotegidas – e em atividades bastante distantes de seu desejo original e genuíno – morar numa comunidade alternativa e levar uma vida errante não direcionada por ela.

Dentre os fatores que dificultam assumir seu desejo mais verdadeiro, destaca-se a conjunção entre seus paradoxos e sua confusão mental. A esse respeito, Rosenfeld (1991) propõe que quando os impulsos destrutivos imperam, os impulsos libidinais não se diferenciam dos destrutivos, nem os objetos bons são diferenciados dos maus. Com isso, eles são percebidos como confusos pelo sujeito.

Posto isso, para superar seu sofrimento mental, ela precisou elaborar ser abandonada, ser desamparada, ser rejeitada, ser perdedora, ser fracassada e ser um nada no tempo-espaço do para sempre, do eterno e do sem lugar no mundo. Essas representações de si, do tempo-espaço, de seu sofrimento ser imutável, da realização de seu desejo ser impossível e ser inatingível, de seus paradoxos ser ganhadora-ser perdedora, estar cheia-estar vazia e ser incluída- ser excluída – junto com seu ódio à figura materna – fazem parte do trauma do absoluto. Portanto, ela apresentava várias categorias desse trauma, sem constituir um exemplo extremo dele. Pois, seu ódio foi atenuado pelo amor de seu pai e de sua avó materna. Com isso, o efeito do ódio de romper os vínculos afetivos com outras pessoas foi suavizado pelo amor deles. Em consequência disso, ela não desejava ser invulnerável aos vínculos com as outras pessoas. Aliás, sua capacidade de estabelecer vínculos com o próximo constitui um diferencial entre ela e outros pacientes bastante traumatizados pelo absoluto (Almeida, 2003; 2005; 2016).

Mediante sua análise, afinal, ela pôde integrar ser amada, ser uma mãe boa e zelosa, ser escolhida, ser proprietária, ser bem-sucedida, ser perseverante, ser competente, ser vencedora – representações coerentes com seu desejo genuíno investidas de amor. Desse modo, ela superou a antiga errância de seu desejo, apropriou-se de seus talentos e de seus méritos e, mais, fez um encontro com seu eu.

Considerações finais

A complexidade da psique se faz valer em face da referência inicial da paciente a seu medo de morrer e de enlouquecer, que revelou meandros muito além da síndrome do pânico.

Quando se considera a errância do desejo na paciente e os fatores que obstruem a tomada de consciência de seu desejo mais verdadeiro, destaca-se seu intenso ódio aliado à conjunção entre seus paradoxos e sua confusão mental – no sistema das representações. Em se falando sobre o ódio no sistema – evidente em seus intensos investimentos de ódio a si e a sua mãe, ele está presente em seus paradoxos e em sua confusão mental, igualmente. Ainda com relação ao ódio, a extensa variedade de representações do trauma do absoluto o reafirma.

Todavia, ao se examinar outros elementos indicativos desse trauma – o intenso conflito do sujeito entre amor e ódio a si e aos seus objetos primários/pais; seu enorme conflito entre a ruptura e o vínculo com esses objetos; seu horror aos demais objetos de seu desejo e seus bloqueios à atualização de seu desejo – constata-se que apenas um deles é flagrante nela. Trata-se dos bloqueios à atualização de seu desejo no mundo das relações. Nesse sentido, o amor de seu pai e de sua avó materna foi fundamental para atenuar a força do ódio no sistema e suas consequências psíquicas.

A despeito de a desintegração do sistema ser trabalhada em análise e dar lugar à integração no decorrer de cada sessão, ele voltava a se desintegrar no intervalo entre elas. Novamente, fazia-se necessário trabalhar seus conteúdos até ser possível integrar as representações harmônicas com o desejo da paciente – em seu âmago mais vital. Com isso, seu desejo – com sua propulsão para a ação – pôde ser realizado por ela de maneira ativa e encontrou sua maneira singular de pulsar no mundo.

Referências

Almeida, M.E.S. (2003). A clínica do absoluto: Representações sobre-investidas que tendem a deter o encadeamento associativo. Tese de doutorado, Psicologia Clínica, PUC-SP.

Almeida, M. E. S. (2005). A clínica do absoluto: Representações sobre-investidas por ódio e horror. Pulsional Revista de Psicanálise, 182, 93-100.

Almeida, M. E. S. (2015). O ganho, a perda e os paradoxos no enfoque transgeracional.

Gerais, Revista Interinstitucional de Psicologia, 8 (1), 57-77.

Almeida, M.E.S. (2016). Constituição especular do desejo e sua atualização no adulto. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 9 (1), 17-31.

Racamier, P-C. (1991). Souffrir et survivre en les paradoxes. Revue Française de Psychanalyse, 55 (4), 893-909.

Rosenfeld, H. (1991). Estados psicóticos. Buenos Aires: Hormé Editorial.

Maria Emilia Sousa Almeida
Enviado por Maria Emilia Sousa Almeida em 22/06/2021
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