O patrimônio imaterial de Cabo Frio RJ está morrendo

Hoje, eu guiei um grupo muito especial da Secretaria Municipal de Turismo de Cabo Frio, num City Tour histórico pelo centro do município. Foi um evento teste, feito antes do início do curso que vou ministrar aos guias de turismo. Falei do Patrimônio Cultural em suas vertentes histórica e natural, como bem expressei no meu livro recém lançado, “Roteiro Ambiental e Patrimonial da Cidade de Cabo Frio”.

Nessa aula de História ao ar livre, fiz a narrativa histórica de alguns bens culturais da cidade, como o Charitas, o Morro do Índio, o Sambaqui da Duna Boa Vista, o Forte São Mateus, o Bairro da Passagem e, terminamos, na Igreja de São Benedito.

Ao relatar sobre as festas e procissões que ocorriam na Igreja de São Benedito em louvor ao santo padroeiro e à Nossa Senhora dos Navegantes, fui questionado sobre essas festas religiosas, sua história, importância cultural e o porquê delas não ocorrerem mais.

Na oportunidade, expliquei que essas festas religiosas são exemplos do patrimônio imaterial de Cabo Frio, assim como os saberes, os modos de fazer, as formas de expressão, celebrações, as festas e danças populares, lendas, músicas, costumes e outras tradições. Comentei, ainda, que fiz questão de tratar desses temas em meu livro, pois são fundamentais para a preservação da memória e da identidade cultural cabo-friense.

Ademais, dentro da história e da arquitetura, o patrimônio se divide em duas categorias: os bens considerados materiais e os imateriais que juntos representam a identidade, cultura e história de um determinado povo.

Infelizmente, o patrimônio imaterial de Cabo Frio está moribundo há décadas; deixamos de celebrar inúmeras festas, como a lindíssima procissão marítima em louvor a São Pedro, que saía do Canal Itajuru com as embarcações cheias de bandeirinhas, as frequentadíssimas festas juninas, que ocorriam nos meses de junho, julho e agosto, que deixaram de acontecer entre o final da década de 1990 e início do ano 2000.

Também destaquei que parece estar morrendo a maravilhosa festa de Corpus Christi que, em Cabo Frio, sempre foi uma celebração extraordinária na Avenida Assunção, com cerca de 3 km de avenida pintada, ornamentada por lindos tapetes de sal.

Destaquei que a população não conhece as lendas, os causos e as histórias mitológicas da cidade, envolvendo a nação indígena tupinambá, como o mito de Sumé e histórias lendárias, como a de Nossa Senhora da Guia que, toda vez que a colocavam no Convento Nossa Senhora dos Anjos, a imagem misteriosamente aparecia em cima do Morro da Guia, até que decidiram fazer uma capela em sua homenagem. Essas e outras histórias, pouquíssimas pessoas conhecem ou nunca tiveram acesso a elas.

Ainda considerei que até a festa da Padroeira, em 15 de agosto, não tem mais o vigor e o entusiasmo de outrora. O mesmo ocorre com a festa de aniversário da cidade em 13 de novembro, onde não se fazem mais grandes shows e acabaram-se os lindos desfiles escolares em celebração ao quadricentenário do município cabo-friense.

Outra celebração lindíssima que ocorreu por séculos na cidade e, infelizmente, não existe há muitos anos é a Festa do Divino Espírito Santo. Essa festividade tradicional portuguesa era comemorada em Cabo Frio desde os primórdios da colonização da cidade. Atualmente, a população não tem nem lembrança de tal acontecimento.

Esse texto saudosista, cheio de "saudade daquilo que não vi", como algumas dessas festividades, mas que pesquisei arduamente, são a expressão de lamento de alguém que ama a cidade e a cultura cabo-friense.

Preservar a História, o Meio Ambiente, os nossos costumes, modo de fazer, culinária e festas, além dos nossos monumentos históricos é uma forma de preservação da nossa identidade e da trajetória do nosso povo.

Chegou a hora de ressuscitarmos e reerguermos aquilo que foi morto e já nos encheu no passado de entusiasmo, sentimento pátrio e pertencimento ao nosso lugar comum.

Acioli Junior
Enviado por Acioli Junior em 16/09/2021
Reeditado em 28/02/2022
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