HISTÓRIA, CULTURA E PERTENCIMENTO: 68 ANOS DA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DE POÇO REDONDO

HISTÓRIA, CULTURA E PERTENCIMENTO: 68 ANOS DA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DE POÇO REDONDO

Manoel Belarmino

Hoje, dia 24 de novembro, véspera do dia quando, oficialmente, se comemora a Emancipação Política de Poço Redondo, vale lembrar e rememorar a nossa história e fortalecer a nossa identidade caatingueira e poço-redondense.

Descendo das nascentes dos grotões do complexo Serra Negra, por meio do Riacho do Boqueirão, um riacho intermitente serpenteia pelo meio das "Terras do Eréu", do Margado de Porto da Folha, escorrendo até a comunidade de pescadores chamada de Jacaré, nas margens do Rio São Francisco. Um riacho de cacimbas, poços, nascentes e olhos d'água. Riacho que matou a sede, aqui e acolá, dos gados dos currais e dos vaqueiros que ocuparam nos primórdios o amplo território do Poço Redondo. Assim que foi descoberto, esse riachinho passou a se chamar de Riacho Jacaré por causa da comunidade de pescadores onde deságua e também da fazenda onde nasce, já na divisa de Sergipe com a Bahia.

As fazendas e currais, que foram surgindo na Bacia Hidrográfica do Riacho Jacaré, dependiam dos poços e cacimbas do seu leito ou dos minadouros e olhos d'água. Assim foram surgindo a Fazenda Monte Santo, do tio de Zé de Julião, Elias Barbosa; as três fezendas Riacho Largo; a Risada, dos Emidios; Cacimba Dantas; Poço Dantas; a Fazenda Recurso, de China; a Poço de Cima; o Território de Maria do Rosário do Maranduba e a fazenda Maranduba dos Soares, a Fazenda Capim de Alexandrina, e tantas outras.

Naqueles séculos XVIII e XIX, as águas das cacimbas e poços do Riacho Jacaré ainda podiam ser consumidas pelas pessoas, pelo gado e pelos bichos das caatingas. As águas ainda não eram tão salinizadas e poluídas assim como nos tempos de hoje.

Provavelmente, na primeira década do século XIX, fugindo de alguns males que assolavam as regiões úmidas do litoral, e do Vale do Contiguiba, chega às margens do Riacho Jacaré, acompanhado de familiares e alguns escravos e escravas, um senhor chamado Manoel Cardoso de Sousa. E ali, rapidamente, constrói uma casa grande, currais de gado, chiqueiros de cabras, de ovelhas, e uma senzala. Logo ali, em poucos anos, também já se via armazéns de produtos como carne seca, peles de gado, de bode e carneiro, batata doce, queijos e outros produtos. Ali a família Cardoso também construiu uma capelinha. A Capelinha de Santo Antônio do Poço de Cima, que resiste até hoje, no tempo e no espaço, no mesmo lugar, testemunhando, desde os primórdios, a formação da cidade de Poço Redondo. Ali fincados estão as nossas raízes, a nossa cultura, todo o nosso jeito de ser poço-redondense.

Segundo o nosso mestre Alcino Alves Costa, no seu livro "Poço Redondo, a Saga de Um Povo", os caboclos do Poço viam admirados a grandeza da Fazenda dos Cardoso. Muito gado, cavalos bons, burros de carga, escravos, riquezas. Armazéns abarrotados de produtos da terra.

O tempo passou, e o Poço de Cima dos Sousa mais parecia um povoado.

Enquanto o Poço de Cima dos Sousa crescia, outras povoações mais antigas nas margens do Rio São Francisco também se desenvolviam, como Curralinho e Bonsucesso.

A família dos Sousa cresceu. As filhas lindas embelezavam mais ainda aquela fazenda. De repente, três jovens compradores de gado, chegam na terra dos Sousa, vindo dos sertões da Bahia, de um lugar chamado Pico do Lulu, região do Salgado do Melão. Eram os irmãos, Lucas, Cirilo e Feitosa.

Duas filhas de Manoel Cardoso de Sousa casam com os compradores de gado do Sertão do Salgado do Melão. Lucas casou com Maria Rosa e Feitosa casou com Delminha. O outro, Cirilo, casou-se com Maria, uma brla moça ribeirinha do Curralinho. É daí que surgem os Feitosa, os Lucas e os Cirilo. Os troncos do Poço.

Poço de Cima prospera mais e mais, e mais pessoas desejam morar nas redondezas da Fazenda. É aí que um senhor chamado Luiz da Cupira se destaca como líder e, junto com os moradores, decide construir casas na região onde hoje é a Praça da Matriz. Um pouco mais afastado do Poço de Cima. E esse lugar passa a ser chamado de Poço Redondo. Por ficar próximo de outro Poço de forma arredondada no Riacho Jacaré. Rapidamente, 20 casas são erguidas. As primeiras casas construídas foram as seguintes: 01 - casa de Luiz da Cupira, na esquina da Praça Artur Moreira de Sá; 02 - casa de Juvêncio; 03 - Casa de Lola; 04 - Casa de Doclides Lucas de Sousa, no lago da atual Praça da Matriz; 05 - Casa de Zeca Bié; 06 - Casa 1 de Teotônio Alves China, no lago da Praça da Matriz; 07 - Casa 2 de Teotônio Alves China, próximo ao prédio da Câmara de Vereadores; 08 - casa de João Cirilo; 09 - casa de Sebastião Soares; 10 - casa de Florêncio; 11 - casa de Dedé de Zulmira; 12 - casa de Elias Barbosa, tio de Zé de Julião; 13 - casa de Pedro Garra; 14 - casa de Genésio; 15 - casa de Abenago; 16 - casa de José Graça; 17 - casa de Herminia; 18 - casa de Iaiá; 19 - casa de Veveia; 20 - e mais uma casa que não consegui informações a quem pertenceu. Eram 20 casas.

Poço Redondo cresceu. E o Poço de Cima dos Sousa começou a definhar. Os moradores do Poço de Cima começaram a migrar para o Poço Redondo. Mais casa ali foram sendo construídas. Uma capela foi erguida ali. Luiz da Cupira trouxe de Porto da Folha uma imagem de Nossa Senhora da Conceição e colocou-a ali na capelinha recém construída. Passando assim a ser chamado este lugar de Poço Redondo de Nossa Senhora da Conceição.

Embora parte das pessoas do Poço de Cima sabia ler e escrever, os moradores de Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo não tinha leitura e nem escrita. Com a mudança dos moradores do Poço de Cima para o Poço Redondo, Dona Loló de Deoclides Lucas passa a ensinar as pessoas a ler e escreve.

A Povoação de Nossa Senhora do Poço Redondo cresce. Ali, no lago da Praça da Igreja, um barracão foi construído que serviu para as festas e para a venda de carne de bode e alguns outros produtos, nos dias de domingo. Assim vai surgindo a feira livre de Poço Redondo.

Poço Redondo recebe os cangaceiros e o chefe do cangaço, Lampião, e ver os seus filhos e filhas ingressarem naquele bando sanguinário das caatingas sertanejas. Mas, apesar da estiagem e da violência do tempo do Cangaço, os poço-redondenses nunca perderam a alegria das festas, da Festa de Agosto, das vaquejadas e da esperança.

O tempo passa. As marcas do tempo do Cangaço ficam nas lembranças e na vida da população. Mas a povoação e seus filhos começam a travar uma grande luta para que Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo se emancipe de Porto da Folha.

O ano de 1953 se desabrocha. Os debates políticos sobre a reorganização dos municípios entram em pauta nas conversas politicas em Sergipe. E Porto da Folha, o maior município em tamanho territorial, no Sertão, poderia ter seus povoados emancipado. E assim os filhos de Poço Redondo, tais como Chico Bilar, Zezé Pingo D'água, Ermerindo, Durval Rosa e outros filhos de Poço Redondo entraram na luta pela emancipação. O governador de Sergipe era Arnaldo Rollemberg Garcez. Poço Redondo teve um apoio de grande valia no processo de sua emancipação do Deputado Hermeto Feitosa.

E, finalmente, sai a Emancipação Política de Poço Redondo com a aprovação pela Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe da Lei n° 525-A, no dia 23 de novembro de 1953; sancionada pelo governador do Estado, no dia 25 de novembro de 1953; e publicada no Diário Oficial do Estado em 10 de dezembro de 1953, entrando em vigor nesta última data.

O primeiro prefeito e os primeiros vereadores de Poço Redondo foram eleitos na primeira eleição realizada em 03 de outubro de 1953. Uma eleição disputadíssima entre o ex-cangaceiro e mestre de obras Zé de Julião e Artur Pichoca de Porto da Folha. Empataram noa votos. Sendo eleito Artur por ser o mais velho. Foram eleitos para a Câmara de Vereadores: João Emídio de Sousa, Lourival Felix de Azevedo, Oscar Feitosa, Lucas Evangelista e Francelino dos Santos, e para prefeito o eleito foi Artur Moreira de Sá.

O Município de Poço Redondo foi instalado com a posse dos primeiros vereadores eleitos e do primeiro prefeito eleito na manhã do dia 06 de fevereiro de 1955.

Poço Redondo da Grota do Angico, do Fogo do Maranduba, das águas do Velho Chico, do Quilombo Serra da Guia, dos casarões do Bonsucesso, da Grota do Angico, das terras de Maria do Rosário. Poço Redondo de Nossa Senhora da Conceição.

Poço Redondo do vaqueiro Josias Soares, de Zé de Julião, de Zefa da Guia, de Tião de Sinhá, de Alcino Alves Costa, de Adilia... De Sila, dos Vito, das Cavalhadas, das novenas, dos leilões. Da cultura do Cangaço, do Teatro Raízes Nordestinas, do Valdice Freire, dos canoeiros de Bonsucesso. Poço Redondo de seu povo sertanejo e catingueiro.

Aqui, os sítios arqueológicos e paleontológicos se amostral nas diversas localidades, como no Charco do Libel, na Pedrata, no Morro dos Mestres, no Morro da Letra, no Sítio São José, na Tytoya, na Serra da Conceição da Santa Cruz da Guia e tantos outros lugares.

Poço Redondo poesia, Poço Redondo de história e cultura.

E, amanhã, quinta-feira, 25 de Novembro de 2021, 68 anos depois, queremos, mais uma vez, todos nós do Município de Poço Redondo, acordar saudando a nossa História, a nossa memória, os nossos valores, a nossa Cultura e reafirmando o nosso pertencimento a Poço Redondo.

Avante, Poço Redondo! Viva Poço Redondo! E venham muitos e muitos anos de lutas e conquistas. Que a bravura dos nossos antepassados se reacenda nas gerações atuais e nas futuras!

Manoel Belarmino dos Santos
Enviado por Manoel Belarmino dos Santos em 02/12/2021
Código do texto: T7398578
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