UM CORONEL ENTRE ÁGUAS BELAS E PAU FERRO

Em recente estada no município de Itaíba visitamos o mausoléu que guarda os restos mortais de Francisco Martins de Albuquerque Filho, figura de destaque no cenário político da República Velha nos idos dos distantes anos 1920.

Nosso rememorado personagem teve como progenitor o capitão Francisco Martins de Albuquerque, filho do tenente João Martins Cavalcanti, senhor de muito mando em terras da antiga Assurema, dono de grande espólio deixado aos seus filhos.

Homem de estreita relação com o Poder o coronel Francisco Martins Filho, além de abastado comerciante e empresário, desenvolveu seu múnus político sendo sub prefeito e prefeito de Águas Belas no segundo quartel dos anos 1920, período em que governava Pernambuco outro águas-belense distinto, o doutor Sérgio Loreto.

O Brasil transpirava toda efervescência baseada na Política do Café com Leite quando São Paulo e Minas Gerais pontificavam no exercício do mando em detrimento do restante do País sentido, tão-somente, como coadjutor do processo político ditado pela oligarquia cafeeira.

Em Pernambuco a briga se punha entre partidários de Rosa e Silva e Dantas Barreto gerando instabilidade política de todo tamanho para as populações rurais interioranas.

O banditismo social caminhava célere depois da entrada de Virgulo Ferreira como chefe de bando em substituição a Senhor Pereira que, pensando em nova vida nas terras do Planalto Central entrega os destinos do seu grupo bandoleiro ao comando de Lampião. E este vai estar muito presente na história de Águas Belas a partir do apoiamento que teve por parte do coronel Francisco Martins e, posteriormente, do filho que lhe seguirá os passos no campo da política.

Francisco Martins de Albuquerque Filho foi muito influente e passeou nas esferas de poder, degustando do seu melhor vinho e tomando assento nos momentos de grandes decisões para a região do Sertão pernambucano. Foi amigo do também coronel e barão de Palmeira dos índios, Paulo Jacinto Tenório, que dá nome ao homônimo município alagoano, um dos homens mais ricos do Nordeste brasileiro.

Quando prefeito de Águas Belas coronel Chico Martins enfrentou um tempo de muita crueza e abandono das populações interioranas, fruto da política oligárquica do Café com Leite onde o coronelismo, nos moldes das milícias, ainda pontificava a partir de ‘chefetes de baraço e cutelo na mão’, no dizer do velho pároco, monsenhor Alfredo Damaso.

O coronel Chico Martins, assim conhecido na intimidade, pertencia aos antigos parâmetros ditados na Guarda Nacional do padre Feijó dos idos de 1831. Seu mundo era aquele tão bem descrito por Victor Nunes Leal em Coronelismo, Enxada e Voto quando poucos mandavam e o restante, acanhado, obedecia a ‘uma política que nunca aprendeu a pensar no povo’, como nos ensina Raymundo Faoro em Os Donos do Poder.

E neste momento da vida local muitos foram os potentados do lugar que ostentavam os títulos honoríficos da já citada Guarda Nacional. Nesta região habitaram muitos desses homens de abundante poder político tangendo sua gente como gado, com resquícios evidentes desta prática infeliz, hodiernamente.

Comerciante em Garanhuns, lugar onde faleceu em abril de 1934 segundo o professor Orlando Cavalcanti, seu genro, e 1935 conforme a lápide que lhe enfeita o túmulo abandonado no cemitério desativado no centro de Itaíba, dedicava-se a ajudar até mesmo pessoas desconhecidas que lhe solicitavam auxílio, sendo, assim, pessoa de muita estima por parte da população.

Foi homem marcado por seu tempo e pela educação emanada do velho capitão Francisco Martins, seu pai. E de tal modo também educou aos seus três filhos, destacando-se aquele que seria, como o próprio coronel Francisco Martins Filho, também prefeito de Águas Belas e depois deputado estadual, Audálio Tenório de Albuquerque, um dos personagens mais conhecidos e biografados da história recente do Estado.

Francisco Martins Filho morreu cedo, quinquagenário. Deu sua contribuição na formação e condução política de sua gente, ao seu modo, vez que era fruto do seu tempo.

Hoje repousa esquecido num mausoléu de um cemitério inativo ladeado pelo túmulo de seu pai capitão Chico Martins, este morto em 1920. Seu túmulo já não se acha a olhos vistos, uma vez que o Poder Público dos dois municípios demonstra pouco interesse na conservação da memória e da História destes ícones.

Aqui não se discute se as ações do coronel Chico Martins eram certas ou equivocadas; ele é história e como tal deve ter sua memória preservada, pois faz parte do fato histórico de variadas facetas não merecendo o ostracismo e descaso tumulares.

Ao final de sua existência, o coronel Francisco Martins de Albuquerque Filho deixou muitos bens aos que lhe descendiam. No meio desses bens uma propriedade chamada fazenda Trapiá, justo agora a árvore frondosa que lhe esconde o túmulo no cemitério em Itaíba.

José Luciano
Enviado por José Luciano em 24/03/2023
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