Como é que esses músculos podem aparecer?

 

Enquete: o Super-Homem é um Messias?

 

ENQUETE: O SUPER-HOMEM É UM MESSIAS?

Miguel Carqueija

 

Faz tempo eu desenvolvo uma campanha pessoal contra as histórias em quadrinhos e os filmes de super-heróis norte-americanos e japoneses, por se tratar de culto à violência, teratologia e cinismo. Principalmente os personagens DC e Marvel. E com isso o Super-Homem, que hoje em dia é da DC, está incluído.

Daqui em diante coloco o título como Superman. No caso não é estrangeirismo, pois trata-se de nome próprio e é mais rápido para digitar, não tendo o traço-de-união.

Faço a ressalva de existir toda uma linha de personagens em geral femininas que não seguem a linha de violência, como a Kim Possible nos Estados Unidos, a Ladybug na França e as Winx na Itália. E a Sailor Moon, japonesa, como o maior exemplo.

E com isso alguns amigos (pelo menos três até agora) discordaram de mim, e questionaram de diversas maneiras, defendendo o Superman que seria inclusive um símbolo de Jesus Cristo. E eu vejo claramente a Sailor Moon como uma personagem messiânica.

 

Sailor Moon: amor e doçura acima de tudo.

 

Entre outras coisas, me questionaram que eu classifique esses super-heróis como culto à violência. E o argumento usado é estranho: é preciso combater o mal, para isso tem que haver violência, não basta ser doce como a Sailor Moon, não se pode ser bonzinho com bandidos...

Logo eu, que sou contra a leniência com o crime, ou tratar criminosos a pão-de-ló. Ora, a Sailor Moon também enfrenta os vilões, ela até mata em certos casos. O problema está no contexto, no estilo, no modo de agir. Verifiquem por exemplo — é fácil — as capas das revistas de super-heróis que empesteiam as nossas bancas. Caras de ódio (inclusive dos supostos heróis), punhos fechados, corpos retesados, monstros e seres de grande feiúra, confusão gráfica. E outra coisa: os desenhos de músculos aparecendo através da roupa dos heróis, como Batman e Superman e muitos outros. Ora, isso não acontece na vida real. É uma forma de frisar o caráter agressivo dos personagens.

Convém esclarecer que os super-heróis inicialmente eram inocentes, pelo menos até certo ponto. Nos anos 50, quando eu era criança, lia sempre as tirinhas do Superman e também do Fantasma e do Mandrake, que saíam no jornal “O Globo”. E as histórias eram bobas mas inocentes. Aliás ninguém morria. Na tradução do jornal o Clark Kent era Edu, a Lois Lane era Miriam. Não havia nada entre eles. A Miriam tinha uma paixonite platônica pelo Superman, sem saber que era o seu colega repórter Clark Kent. Ora, no filme recente “Batman versus Superman” (um festival de violência estúpida) o Homem de Aço é amante da Lois. Na verdade, histórias que eram infantis na origem passaram a ser adultas sem que a opinião pública percebesse claramente. E assim crianças e adolescentes continuam consumindo, agora coisas que não são para suas idades (há detalhes pesadíssimos, como nos Watchmen) e na verdade, nem adultos deviam consumir: falta inteligência e estética nessas histórias.

Mas será possível considerar o Superman como um Messias? Com certeza ele pode ser visto como um sujeito que salva a Terra e a humanidade, mas de ameaças físicas. Ora, qualquer personagem de novelas medíocres de ficção científica ou filmes de terceira categoria vive salvando o mundo e nem por isso é Messias, ou seja, são histórias que banalizam essa história de salvar o mundo.

Disseram que o pai de Kar-El (o futuro Superman) era como a figura de Deus. Isso não convence, pois do que eu me lembro ele era um ser humano como outro qualquer, da raça cryptoniana, apenas era um grande cientista. Aí, como o planeta Crypton ia explodir, os pais de Kar-El resolvem mandar o filho, um bebê, numa nave especial, pelo espaço afora. Assim é que a nave acaba chegando na Terra e o bebê é adotado pelo casal de fazendeiros e adquire os poderes por causa do nosso sol amarelo.

E na verdade as premissas do Superman, mesmo tendo ele se tornado um ícone da cultura norte-americana, são absurdas. Primeiramente, planetas não explodem. Segundo, se a ciência cryptoniana é tão imensamente superior à terrestre, por que não dominavam a navegação espacial? A cápsula em que o bebê é enviado era experimental, mesmo assim mandam o garoto sozinho, sem meios de subsistência, até de respirar, pois ele vem de outro sistema estelar, levaria milhares de anos para chegar. Em “Smalville” já dizem que vem de outra galáxia... Depois, ao se aproximar da Terra a pequena nave não desceria, entraria em órbita. Mas tudo bem, a navezinha desce e em vez de cair no oceano, que seria mais provável, aterrissa suavemente numa fazenda dos EUA.. ora, o personagem criado por Joe Shuster e Jerry Siegel em 1938 tem o biótipo do homem norte-americano branco e ariano, até dos galãs de Hollywood daquela época. Os poderes do Superman também são absurdos, pois só a mudança de estrela não poderia causar esse efeito. Outra coisa: ele jamais poderia voar, pois não tem meio de propulsão.

Mas aí me disseram que o Superman numa das histórias procura um padre na igreja para pedir conselho. Isso é muito atípico no personagem e a meu ver é meio irrelevante.

Disseram também que tem um filme onde ele ao voar é aclamado pelo povo como “salvador” e abre os braços em cruz.

Não vi esse filme, mas tudo bem, ele é chamado de “salvador” e abra os braços em cruz. Mas e daí? Onde é que isso nos leva e o que é que isso prova? Que o Superman é símbolo de Jesus Cristo? Ora, o Superman nada tem de espiritualizado, não reza, não fala em Deus, não tem religião, não entra numa igreja (a não ser na cena referida e que é coisa rara nas milhares de histórias do SH), seus poderes são materialistas, pseudocientíficos.

 

 

Afinal como é que esse sujeito pode voar?

 

Seu messianismo é muito tênue. Também não me convence o Messias de Duna, muito violento; o de Matrix, muito bobo; e mesmo os de Star Wars, primeiro Anakin e depois seu filho Lucky Skywalker. Isso porque, no episódio “A ameaça fantasma”, se revela que a tal “Força” – que a princípio parecia uma divindade impessoal – não passa de uma simbiose entre a humanidade e microorganismos (até o momento desconhecidos pela medicina terrestre) que vivem em nossa corrente sanguínea.

E o inglês Harry Potter... é chamado de escolhido, mas não atinge o nível espiritual. Resolve tudo com bruxaria.

Já no Japão existem personagens mais claramente messiânicos, como Nausicaa, a Princesa do Vale do Vento, e Tsuchimiya Kagura, da série Ga-Rei. E a Sailor Moon.

Mas, já disseram, Superman é de uma civilização cristã, Sailor Moon é pagã. Bem, a cultura pop norte-americana hoje em dia é neo-pagã, essa a tendência dominante. E Sailor Moon, criada por Naoko Takeushi, tem claros elementos messiânicos. Naoko por sinal é sacerdotisa xintoísta, mas revela grande respeito pelo Cristianismo.

Sailor Moon fala em Deus, mesmo que não seja com frequência. Nasce de uma concepção virginal (isso também acontece com Anakin Skywalker). Na terceira fase é chamada de Messias e recebe a guarda do Santo Graal. Na quarta fase, em sua transformação mais avançada, adquire grandes asas emplumadas de anjo. Por que isso? Fica implícito que ela é uma espécie de anjo que protege a Terra. Ela também reza. Além disso, enquanto o Super-Homem no máximo é ético, ela é extremamente bondosa e sensível.

Vou ficar por aqui, mas se for para provar quem é “mais Messias” a Sailor Moon bate facilmente o Superman.

Também argumentaram que o Superman é muito mais popular e conhecido que a Sailor Moon, segundo pesquisa do google. Eu não confio muito nisso pois o google é norte-americano e já vi um padre reclamando que, precisando de imagens para o Natal, fez uma pesquisa google e só apareceram Papai Noel (principalmente) e outros símbolos, mas não o Presépio. E Sailor Moon, para quem não sabe, é o orgulho nacional do Japão.

 

Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2023.

 

 

Olha o tamanho das asas dela! Com certeza, nessa fase, ela pode voar.