Rolando Lero, Aldemar Vigário ou Porta dos Fundos?

     Entre 1986 e1994, eu era muito ocupado e não podia acompanhar a Escolinha do Professor Raimundo. Nesse horário, viajava a Pará de Minas, MG, onde dava aulas na antiga FAPAM. Naquela cidade, era professor de Língua Portuguesa e Literaturas. Em Pitangui, dirigia o jornal Correio de Pitanguy. Muita correria. Nesse época, só podia ver a "Escolinha" nas férias ou em algum feriado que caísse no meio de semana.

     Hoje, em tempos de Youtube, recuperei o Humor perdido, pois vejo a Escolinha quando quero. Quase todos os personagens da Escolinha  são muito divertidos, mas considero Rolando Lero e Aldemar Vigário o suprassumo desse Humor. Em Rolando Lero, nome da personagem de Rogério Cardoso, admiro tudo. Canta, dança, sapateia, é compositor, fala espanhol "argentino" com perfeição, canta tangos, boleros e tem uma extraordinária capacidade de improvisação. Porém, o que mais me admira é que se dirige a Chico Anísio, o professor Raimundo, na segunda pessoa do plural. É espantosa a correção com que conjuga verbos nessa pessoa. Deve ter gastado muito tempo para conjugar com tanta rapidez e perfeição. Não é fácil: sois, fostes, chegáveis, voltáveis, andai, respondei, imperativo, indicativo e subjuntivo sem máculas. Não é para qualquer um.

     Aldemar Vigário, personagem de Lúcio Mauro, é excelente também, é meu vice-campeão. Seu humor se beneficia da amizade com Chico Anísio. Com roteiro bem simples, começando por louvar exageradamente o Mestre, muda de atitude abruptamente e passa a ridicularizá-lo e, quase sempre, sai com nota beirando o zero ou negativa. Conhecidos do mundo humorístico desde os anos 1950, esse contato facilita imensamente a improvisação, certeza de tornar tudo mais engraçado na "sala de aula".

      Os tempos, porém, mudaram e o Humor também. Nos anos 1990, se apoiava no machismo e no papel submisso da mulher na sociedade. Era ancorado também num racismo velado e na ridicularização da pobreza em geral. A "Escolinha", hoje, seria banida ou, no mínimo, censurada. Será que estou exagerando?

     Fica aqui tema para reflexão: que caminho tomará o Humor brasileiro depois de tantas - e necessárias - limitações legais dos últimos anos? "Porta dos Fundos", por exemplo, um dos novos programas, toma o caminho do absurdo, pelo menos nos programas que assisti. No absurdo se escuda, imagino, para "explicar" eventual fuga da regra da atual, digamos, censura. Algum adendo, comentário, discordância?