CAI AO PÓ O CAIAPÓ (Mas EU sobrevivi)

Menire, Adi

No meio da floresta amazônica, muito além do que os olhos possam ver, ainda existe um povo que chora as suas dores, suas perdas.

Já não se houve a algazarra da criançada, os pássaros cantam assustados, pulando pelas galhadas das árvores.

Alguns Bem-te-vis voam pelas árvores, com o seu chamado triste, como um mau presságio. Ao longe, pode se ver um beija-flor pairando sobre uma flor murcha, seu néctar fora derramado. Na aldeia dos Caipós os índios se preparam para mais um dia de caça e pesca só que agora, já não conseguem pegar seus peixes no rio próximo da aldeia, por causa das águas contaminadas pelo mercúrio deixado pelos garimpeiros. A terra que antes dava o seu alimento, também está esburacada, revirada pelas “chupadeiras” utilizadas na busca do ouro, não serve mais para o plantio, e as caças, fugiram dos invasores para o centro da mata.

A “civilização” chegou até os indígenas.

Pode-se observar os olhos perdidos de cada um habitante dali, ao longe, houve-se o som de um rádio tocando o último lançamento, garotos jogam bola no campinho ao lado da oca, que agora, construída de cimento, só se parece com casa de índio, pela forma arredondada, o resto, é morada de branco.

A ironia de tudo isso é que, os brancos insistem em falar que levaram a cultura para os indígenas, mas continuam a tratá-los como bichos, como pessoas sem valor. Quando ofertam seus presentes, o fazem de uma forma de engodo... Que cultura branca é essa, que faz com que se adestrem seres humanos? (Ou não são considerados humanos)?

Essa gente, ao longo dos anos, tem cometido suicídio constante, porque seus jovens já não sabem quem são e no que acreditar, não vêem futuro para a pequena população, a cada dia tudo fica mais difícil para eles, que, dos brancos, adquiriam o que esse tem de pior, seus vícios, sua ganância, aprenderam também a não buscar mais seus alimentos, querem carros, TV de plasma, querem o engodo do homem branco (com esses até aprenderam a vender seus mognos, dizimando a floresta) enfim, absorveram a ganância do homem inescrupuloso, porque foi isso que receberam no seu meio.

E os seus deuses... Também foram esquecidos, o pajé, já não reza as suas preces aos espíritos da floresta, alguns nem sabem quem é Tupã... A (des) cultura tomou conta da nação indígena. Suas Menires estão desoladas, seus homens velhos têm rostos enrugados, e braços caídos denotando derrota. Mas o verdadeiro Caiapó ainda crê em AKATU . Porém, para que a semente boa seja plantada, nós, considerados civilizados, temos que fazer algo, mesmo que seja, clamar através das letras, creio que vale à pena.

Na verdade... Cai ao pó o caiapó, mas ficam as cinzas, misturadas à lama.

Com o tempo... Tornam-se barro e o ciclo recomeça.

Significados:

Menire - Mulher

Akatu – Mundo melhor/semente boa

Chupadeira: Máquina de retirar ouro da terra

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Celebração Tribal (Boi Garantido)

Paulinho "Du" Sagrado

O sol quando brilha na mata

Clareia o sentido da vida tribal

O clã reverente se curva à casa dos ventos

Pra contemplar Ye'pá'Õakhë

Kamaiurá Andirá Mura Xavante Saterémawé

Kanamary Hixkariana korubo Dessana

Adoração do ritual

A grande Anaconda era canoa dos Waupés

Na longa viagem tocavam tores

Karajá Caiapó Mundurucu Yanomamy

Na celebração na noite de luar

As tribos guerreiras começaram a dançar

Oh oh oh oh oh oh

Ye' pá' Õaknë deusa da criação

Adi

Enviado por Adi em 22/10/2008

Reeditado em 22/10/2008

Código do texto: T1242169