A natureza perdendo espaço

"Corujas sofrem com pessoas que atiram pedras para matá-las"

O verde perde cada vez mais espaço. Já o homem ganha terreno, constrói casas e outros empreendimentos. Mas deixa os bichos sem ter onde morar.

São Paulo também tem seus predadores. Imagina o que é dar de cara com uma cobra? Tem umas que são pequenas. Mas que tal uma de 5 metros, com 80 quilos, achada numa sala de aula da maior cidade do país? Como nem é brasileira, provavelmente foi trazida pelo homem e escapou do cativeiro.

500 bichos estão internados no Parque do Ibirapuera.

Ouriço caxeiro. Gambá de orelha preta. As fêmeas são vítimas constantes de atropelamentos.

“Essa ideia que a gente tem de que São Paulo não tem animal silvestre é uma bobagem?”, perguntou a repórter.

“É uma bobagem, um equívoco. Nós temos até agora catalogados 700 espécies de animais silvestres, entre vertebrados e invertebrados, no município de São Paulo”, respondeu Vilma Clarice Geraldi, diretora da

Divisão de Fauna SIlvestre.

O levantamento começou há 20 anos e é realizado em diversos lugares. Acompanhamos uma expedição no Parque Anhanguera. Os pesquisadores armam as redes para monitorar os pássaros.

Depois de alguns momentos de observação, lá está o primeiro. Um tiê de topete.

Os grandes mamíferos são registrados, na maioria das vezes, através de armadilhas fotográficas.

“Tem onça parda, tem anta, tem veado, tem jaguatirica, cachorro do mato”, ressaltou Anelise Magalhães, bióloga.

Conhecer a fauna urbana e entender como ela se distribui dentro de São Paulo são elementos essenciais para traçar políticas públicas de proteção aos animais que convivem com a gente.

Alguns animais são transferidos pro centro de recuperação. Uma imensa área de mata no limite da cidade de São Paulo. Eles são preparados para recuperar o que tinham de mais precioso: a liberdade.

A coruja reaprende a caçar. O carcará também está sendo treinado para voltar à natureza. Tudo é novo. Até a arte de voar.

Se tudo der certo, eles voltarão aos céus de São Paulo. Ao topo dos edifícios. E, quem sabe, vão fazer companhia ao moleque.

Moleque é o apelido de um gavião fiel ao Corinthians. Aparece no centro de treinamento todos os dias. Ganha comidinha na boca. Ganha cafuné do roupeiro Carlos. O Cássio já está até acostumado. Afinal, para um goleiro, melhor gavião do que frango.

Macacos por um fio. Onde brota urbanização faltam galhos e sobra perigo.

A equipe viaja 80 quilômetros para atender um chamado. É um macaco sauá. Levou um choque.

“Já percebi que ele tem a mãozinha esquerda um pouco fria, falta de circulação. Existe o perigo sim de ele perder a mãozinha”, disse Cristina, veterinária.

Depois da cirurgia, o bichinho ficou sem alguns dedos para não perder a vida. Pai e filho chamaram a policia ambiental.

“Ele vinha vindo pelo fio. O tombo foi alto”, contou Sandro Mandaji, empresário.

“Eu pensei que ele ia morrer, mas eu pensei: ‘se Deus quiser ele vai se recuperar’”, lembrou Nicolas Mandaji, de 10 anos.

Nos últimos dois anos, o número de macacos eletrocutados que chegam ao projeto Mata Ciliar, em Jundiaí, interior de São Paulo, aumentou em 50%.

Muitas das vítimas de descargas elétricas são fêmeas com filhotes. E os pequenos ficam abandonados, como um bugio, o Konguinho. A mãe dele morreu num choque e o ele ficou muito dependente do ser humano pra tudo. Principalmente para se alimentar.

“O homem já invadiu a área do macaco e de toda fauna e com isso está levando à extinção algumas espécies nessa região”, afirmou o presidente da Associação Mata Ciliar.

Um gato do mato ficou órfão numa queimada. A coruja buraqueira teve a asa quebrada. Estava na mira da ignorância.

“As pessoas encontram essas corujas em cima das casas e dizem que dá azar, então eles jogam pedras pra espantar ou mesmo pra matar. Quando na verdade uma ave dessa, ela se alimenta de insetos e alguns ratos, pequenos camundongos”, afirmou Evandro Canelo, veterinário.

O verde perde cada vez mais espaço. Já o homem ganha terreno, constrói casas e outros empreendimentos. Mas deixa os bichos sem ter onde morar. E entre os sem teto que chegam à área urbana estão até animais silvestres ameaçados de extinção. Eles estão se mudando para condomínios. E assustam a vizinhança.

Em um condomínio de luxo em Vinhedo a segurança reforçou as rondas, depois da morte misteriosa de gatos. Até que as câmeras de monitoramento denunciaram o invasor.

Fazer o cerco ao lobo-guará não é fácil. O animal está sendo treinado para ser solto.

A mata também ficou pequena para outro bicho de grande porte. A onça parda ou sussuarana.que percorre áreas extensas. E provoca tumulto nas megaoperações de captura. Uma foi atropelada há 2 anos numa das rodovias mais movimentadas do país, a Anhanguera. Foi medicada, se recuperou e voltou para a mata. Um ano e meio depois, morreu atropelada em outra estrada.

Hoje é dia de uma visita muito especial no centro de reabilitação de animais. Nicolas e o pai, que ajudaram no resgate no macaco sauá.

“Cada um tem que fazer sua parte. Eu já fiz a minha e me sinto bem orgulhoso”, contou Nicolas.

Nas gerações futuras, está a esperança de preservação.

Edição do dia 23/11/2012

[Autoria: http://g1.globo.com/globo-reporter]