Unidades de conservação: a galinha dos ovos de ouro

Recentemente Bolsonaro esteve nos Campos Gerais do Paraná, e ouviu de políticos e ruralistas locais o pedido para extinguir unidades de conservação da região, como o Parque Nacional dos Campos Gerais. Antes, deputados ruralistas já tinham tentado desfigurar a Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana. Tais iniciativas revelam a veemência do confronto entre duas concepções erroneamente supostas excludentes: a proteção ambiental e a produção rural.

Noutros lugares do mundo, onde as civilizações já tiram seu sustento da terra há milênios, já se aprendeu que é essencial encontrar o equilíbrio entre o que se extrai da natureza e o que ela é capaz de oferecer. Um aprendizado sofrido, a ignorância e os excessos resultaram na salinização, exaustão ou erosão dos solos, na desertificação, no surto de pragas devastadoras, doenças e migração de esfaimados.

Num país jovem como o Brasil, com colonização relativamente recente e com nítido caráter predatório ─ produzir para exportar para a matriz e não para fortalecer a nação ─, com extensos solos agricultáveis e clima favorável, ainda não sofremos drásticas tragédias resultantes do afã de explorar a terra até a exaustão. Sim, por aqui já existem as áreas arenizadas pelo mau uso, e muitos solos exauridos transformados em pastos pobres para pecuária extensiva. Estas áreas degradadas são abandonadas, expandem-se as fronteiras agrícolas por sobre as aparentemente infindáveis terras novas, nas imensidões do Cerrado, da Amazônia, do Pantanal, da Mata Atlântica...

A falta de cabais tragédias brasileiras parece convencer os ruralistas que a natureza é ilimitada. Será que não conseguem aprender com os erros de outros, terão que colher os frutos amargos dos próprios erros para aprenderem? Ou nem com os próprios erros aprendem?

As unidades de conservação são essenciais para o equilíbrio ambiental, inclusive para garantir que as terras férteis continuem férteis, e que os níveis de produtividade se mantenham ao longo do tempo. Unidades de conservação, os parques nacionais, as áreas de proteção ambiental, as reservas legais, as áreas de proteção permanente, são essenciais para garantir os chamados “serviços ambientais”: equilíbrio da biodiversidade e controle natural de pragas, preservação de polinizadores, proteção de um patrimônio genético ainda desconhecido e com potenciais inúmeras aplicações, estoque de carbono e umidade na biomassa e no solo, qualidade e quantidade das águas superficiais e subterrâneas, qualidade do ar, controle climático e do ciclo da água... Os serviços ambientais são múltiplos, interligados e vitais. Ignorá-los e pedir o fim das unidades de conservação é como pedir para o granjeiro matar a galinha dos ovos de ouro para fazer uma canja para o jantar, esquecendo o dia de amanhã.

Domar a cupidez humana e compreender os limites da capacidade de produção da natureza é amor à vida. Implica reconhecer a essencialidade das unidades de conservação. Render-se à sofreguidão do lucro a qualquer custo, avançando para a exaustão da natureza, é o amor ao dinheiro. Um amor cego, fadado à tragédia.