Diário de Bordo (A cura pela Natureza)

Diário de Bordo (Apesar de nossa autossabotagem a Mãe Natureza é uma grande e eficiente curadora...)

Giunevere, uma mulher de sessenta anos, já esteve por duas vezes aqui no coração da Cururupitanga. Na primeira vez subiu penosamente a ladeira do Tororomba olhando de esguelha para os lados e parando várias vezes para retomar fôlego. Aqui chegando, andou descalça na terra, respirou o ar puro da mata, fez uma refeição frugal, banhou-se nas águas curativas de um dos riachos que nasce aqui dentro, passou por uma sessão de terapia bioenergética e voltou pra sua casa sentindo-se livre das dores na coluna que a atormentaram por anos.

Dez dias depois Guinevere retornou para uma estadia de dois dias aqui na Cururupitanga: queria pegar umas sobras da Lua Cheia e assistir o antológico desfile de astros nos céus de cá, coisa impensável nas grandes cidades.

Já não era mais a mesma mulher lamurienta e amedrontada da primeira vez que aqui esteve. Os chás de folhas de amoreira e canela de velho, somados a uma dieta desintoxicante, deram-lhe ânimo renovado que lhe permitiram subir a Tororomba bem melhor, e ainda caminhar seis quilômetros numa trilha dentro da mata.

(Uma Guinevere rejuvescida e grata voltou para sua cidade, largando pra traz crises de sinusite, apneia do sono, dores cervicais e lombares, e com uma grande disposição e muita vontade de viver, livre de sequelas emocionais e divorciada da insônia...)

Nos vários anos em que passei a estudar os efeitos curativos de uma vida mais próxima à natureza, casos assim não me causam grande surpresa. Surpresa me causa a dificuldade que opomos para irmos em busca de cura para nossas disfunções, dando-nos as desculpas mais esfarrapadas e agarrando-nos a elas como corais nas pedras das praias.

Mais surpreendente ainda, para mim, é o retorno de quem se cura, depois de anos de vivência saudável, às mesmas condições doentias que carregava antes de iniciar seu processo de cura.

E este risco de reincidência é um dos primeiros avisos que faço, pois bem conheço o quanto somos vulneráveis a influência do mundo que nos cerca.

Enfim, não basta levar uma vida simples e saudável: também se faz necessário resistir a extranheza que a nossa condição de saúde causa nos demais.

Terras de Olivença, tarde de quarta-feira, Lua já em quarto Minguante, Fevereiro de 2023.

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 09/02/2023
Código do texto: T7715541
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