Boom na economia brasileira começa a evidenciar antigos problemas nacionais

Alguns alertas do economista Paul Marshall em seu artigo "Brazil risks tumbling from boom to bust", Os riscos do Brasil cair do ‘boom’ para a crise” (em tradução livre) para o Financial Times alerta-nos:

- A taxa de juros paga pelos consumidores brasileiros subiu de 41% ao ano em 2010 para 47% ao ano em maio de 2011;

- 50% da renda da classe média é usada para pagar dívidas;

- a inadimplência (atraso de mais de 15 dias no pagamento) subiu de 7,8% em dezembro do ano passado para 9,1% em maio último;

- a poupança do País, soma de recursos que consumidores, empresas e governo poupam, estava em 17% em 2010; a média dos mercados emergentes é de 32%.

Texto completo para não assinantes do jornal aqui:

http://gonzaloraffoinfonews.blogspot.com/2011/07/brazil-risks-tumbling-from-boom-to-bust.html

Já a agência Estado traz em matéria das jornalistas Renata Veríssimo e Adriana Fernandes, publicada em 04 de julho:

"O endividamento das famílias caiu de 39,6% da sua renda de trabalho, em dezembro de 2010, para 36,6%, em março de 2011. Por outro lado, o comprometimento da renda com o pagamento mensal de prestações dos empréstimos subiu de 21,5% para 26,3% no mesmo período, segundo o documento Economia Brasileira em Perspectiva divulgado há pouco pelo Ministério da Fazenda".

Conforme divulgou o Banco Central, a poupança teve retirada líquida de R$ 3,007 bilhões no primeiro semestre, o pior resultado desde o primeiro semestre de 2006, quando as retiradas superaram os depósitos em R$ 8,169 bilhões.

No primeiro semestre de 2010, a caderneta teve captação líquida de R$ 12,242 bilhões. Em junho, a captação líquida foi de R$ 220,427 milhões, após dois meses de saques. Em maio deste ano, a caderneta teve retirada líquida de R$ 1,302 bilhão.

Ou os brasileiros aprendem a usar o cartão e seu cheque especial, o que é difícil de acreditar, ou haverá um desfalque ainda maior nos saques da Poupança . A deterioração em vista vai se consumir com mais elevação de juros e antes do final desse quadrimestre bolhas começaram a estourar. Não podemos crer que a ascendente "nova classe média" vai viver a presumida riqueza tão aclamada pelo Governo. Conselho amigo, fuja das financiadoras que querem empurar cartões com facilidades de empréstimo e das lojas que propõem infinitos parcelamentos, geralmente o consumidor é levado a ver sua aquisição com óculos cor de rosa e se esquece que existem juros embutidos em qualquer parcelamento superior a 90 dias. Eles destrõem a sua renda futura.

O cartão de crédito, que foi desenvolvido na Europa para agilizar e facilitar as viagens internacionais e fomentar o turismo, no Brasil serve para comprar de tudo: compras sem planejamento nos supermercados e atrativos que geralmente não são prioritários é um hobby nacional, nos shoppings é visível a adoção e o impulso cotidianamente leva o consumidor a comprar até pequenas refeições e mimos diários atípicos. Se faz necessário verificar a real dimensão do "crescimento" dos últimos 16 anos alardeada pelos jornais (8 de FHC e 8 de Lula). Na verdade, todo esse ufanismo do Governo, carece de credibilidade, embora a imprensa em geral costume dar crédito. "Repita uma mentira dez vezes e ela se tornará uma verdade" Josef Goebels, líder nazista, em discurso referindo-se aos comunistas.

ALGUNS FATOS

Novamente as montadoras estão com carros amontoados em seus pátios, como exemplo, a Fiat já liberou férias coletivas e seu estoque atual já ultrapassa 60 dias de vendas. Houve elevada desvalorização imobiliária em MG em SP o Creci-SP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo) divulgou queda consecutiva na comparação mensal. Segundo a pesquisa, feita com 476 imobiliárias, o índice de vendas foi de 0,5221 em abril para 0,4937 no mês seguinte. Não é incomum ver depósitos judiciais abarrocados de motos por falta de pagamentos em SP e vários estados, presenciei isso também no RJ em visita recente, o Dólar com tendência de queda e desvalorizado como não se via há 12 anos, impede a indústria nacional de competir com a produção avassaladora dos chineses o que poderá reduzir o nível de empregos de alguns setores. Estamos caminhando numa caverna escura e a tocha que ilumina o caminho parece estar sob uma mão trêmula.

EDUCAÇÃO E ESPORTE

Investimentos muito tímidos e com muito atraso em educação e qualificação profissional técnica em setores importantes foram esquecidos e agora retomados às pressas com certa cegueira de planejamento tornam até a realização da Copa algo inseguro de ocorrer com boa governança. Conseguimos ficar mais atrasados do que a África do Sul no que tange as construções e intervenções para aperfeiçoar a mobilidade das cidades. Em tempo, já era de se esperar desde que o País foi escolhido também para sediar os jogos olímpicos que caso não mudemos isso teremos aqui uma Olim_piadas. Já refletiu sobre a preparação dos nossos jovens e a situação precária que trabalham nossas Confederações?

Lembram-se dos jogos Panamericanos? Corrupção e desvios permearam diversas instâncias de poder e elevaram o orçamento incial das obras previsto em pouco mais de R$ 350 milhões em mais de R$ 2 bilhões. É algo inacreditável até para padrões europeus. Como é possível desenvolver verdadeiramente um projeto eficiente assim? Como ter confiança num modelo onde o jeitinho e o coleguismo político encobre tudo? O esporte e os atletas brasileiros necessitam cobrar medidas mais rígidas de suas confederações. Elevar a qualidade técnica e a fiscalização nos andamentos desses projetos e recursos parece tão distante como acreditar em algo como slogans otimistas do poder público.