Sérgio Martins Pandolfo*
   
         O mundo todo está atordoado com a possibilidade de o Congresso Norte-Americano não aprovar o pleito do presidente Barack Obama de elevar o teto da dívida pública da maior nação do Mundo, atualmente de 14,3 trilhões de dólares, em mais 2,5 trilhões. Os EUA forçosamente passarão à condição de inadimplentes ou, para usar termo do próprio inglês ligado à economia, default, eis que vencerão títulos e obrigações para com outros países (Brasil no meio) e o que sobra é insuficiente para honrar esses compromissos.
        O problema é que a dívida atual já é maior que todo o PIB americano, estimado ao final desse semestre em 13,3 trilhões de dólares, i.e. a dívida já ultrapassa o PIB em exato 1 trilhão de dólares, dívida essa que, todos o sabem, é absolutamente impagável, no curto ou no longo prazo, até porque o big shot do Norte vem amargando anual e sucessivamente, déficits significativos, Os EUA devem a quase todo o mundo e sua balança comercial é negativa em relação à maioria dos países com que negocia. Compra muito de muitos, mas já vende pouco pra poucos. “O déficit público não é de caráter orçamentário nem de caráter financeiro; o déficit público simplesmente não tem caráter” (Mário Henrique Simonsen).
        O Brasil, p. ex., que já foi um dos maiores compradores, e consequentemente devedores, de produtos e commodities americanos, hoje é o quarto maior credor, atrás somente de China, Japão e Reino Unido. O Tio Sam deve ao Brasil mais do que o Brasil deve ao Mundo (nossa outrora tão lastimosamente decantada “dívida externa”), nada menos de 270 bilhões de dólares.
        O mais interessante é que no Congresso ficam a discutir se elevam ou não o teto da dívida, de quanto poderia ser essa subida e, para tal, se há que aumentar impostos ou cortar gastos, mas até aqui nada de concreto, nada de consenso. Tal quantia, se vier a ser concedida – e temos absoluta certeza que no último instante, tal qual nos filmes de far West com que nos empanzinavam num passado não tão distante, o “cavalo do Buck Jones chegará selado para a salvação do mocinho da ira e do caldeirão fervente dos peles vermelhas” e gáudio da mocinha e dos espectadores –, será só mais um empurrãozinho com a barriga.
        Ocorre que as coisas aqui fora não são bem assim e o final nem sempre é feliz. Tal dívida colossal do erário americano, com esse “microajutório” a ser concedido será “administrada” por só mais uns dois ou três anos (a de curto prazo vincenda), eis que os ”bons moços” já não mais estão conseguindo iludir as platéias para obter superávits ou, por outras palavras, os Northern big brothers são hoje o protótipo acabado do gigante com pés de barro.
        Isso, no entanto, estava à vista de todos e não conseguimos entender como os “atentos analistas”, sempre muito ágeis e explicativos, não conseguiram ver o que estava a entrar pelos olhos dum cego. As agências de classificação de risco, agora já rindo amarelo, ameaçam rebaixar a nota da maior economia do mundo. Tudo muito parecido – ou semelhante – com o que ocorreu há quase três anos: o crack da economia americana, gerado pela quebra do banco Lehman Brothers, Ninguém viu, ninguém sentiu, ninguém pressentiu.
        A balança comercial nortenha vem acumulando déficits crescentes há pelo menos duas décadas; agravou-se com a chamada Guerra do Golfo (1990), quando os EUA lançaram-se contra o Iraque em represália por este ter atacado o Kuwait. Seguiu-se a invasão do Iraque em 2003, a fim de acabar com as “armas químicas de destruição em massa” que aquele país islâmico teria e depois restou provado, que não tinha. O 11 de setembro de 2001, que humilhou quem se achava imune, desencadeou a ira de Bush filho que invadiu o Afeganistão à cata de Bin Laden, pelos estragos causados à arrogância ianque, finalmente capturado e triturado em seu simplório esconderijo no Paquistão, em 2011, em operação hollywoodiana assaz contestada.
        Barack Obama, primeiro presidente colored americano elegeu-se com a promessa de fechar a prisão de Guantânamo (manutenção caríssima), onde coisas tenebrosas e secretas acontecem; encerrar as guerras no Iraque e Afeganistão, repatriando milhares de soldados que lá esão desde o início dos conflitos; reduzir os gastos com aquisições de equipamentos bélicos. Nada disso fez: Guantânamo permanece intocável; tropas militares numerosas e onerosas continuam no Iraque e para o Afeganistão até mandou mais contingentes. Agora vem de iniciar mais uma “guerra justa para proteger inocentes”: o ataque à Líbia, involucrado com o dólman da OTAN. E Obama não admite, nas discussões congressuais para redução de gastos, incluir cortes com nessas benemerências. Racharam os pés de barro.

Nota: Na foto ao alto Bush e Obama no Salão Oval da Casa Branca, pouco antes da passagem de governo
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Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 31/07/2011
Reeditado em 01/08/2011
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